A nebulosa história de um jornal laranja

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DELAÇÃO DE JOESLEY É SOMENTE A PONTA DO ICEBERG NO EMARANHADO DE MALFEITOS NO JORNAL HOJE EM DIA. A CONTA, POR ENQUANTO, ESTÁ COM OS TRABALHADORES DEMITIDOS, QUE LEVARAM CALOTE.

Na delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS, ele revela que pagou R$ 17 milhões, um valor que ele mesmo considerou superfaturado, por um prédio e um terreno na Rua Padre Rolim, no bairro Santo Efigênia. Os imóveis citados eram a sede do jornal Hoje em Dia e foram comprados pela JBS a pedido do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

Reportagem de ontem veiculada no Fantástico, da TV Globo, detalhou essa negociação.

Porém, há um detalhe, um milionário detalhe que antecede essa história e merece destaque. Vamos voltar ao ano de 2013, quando a candidatura de Aécio Neves se afirmava no ninho tucano e os apoios para o projeto político do neto de Tancredo Neves eram estabelecidos.

Cinco meses antes do Grupo Bel (também proprietário das rádios 98 FM e CDL) comprar o jornal das mãos dos bispos da TV Record, o governo de Minas Gerais, então comandado pelo tucano Antonio Anastasia, desapropriou um imóvel da Rádio Del Rey, que pertence à família proprietária do Grupo Bel.

A desapropriação custou R$ 1,09 milhão aos cofres públicos e o pagamento foi realizado em junho de 2013.

Se esse dinheiro foi uma maneira do governo tucano financiar a compra de um jornal para apoiar a candidatura do líder do PSDB à presidência, nós do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) não podemos afirmar.

Podemos, sim, sugerir aos órgãos competentes que investiguem se há algum nexo nessa relação.

O SJPMG apurou que o valor inicial proposto para o terreno era R$ 572 mil e que, posteriormente, foi corrigido para R$ 1,09 milhão.

De volta à delação divulgada pela Procuradoria Geral da República. Nela, Joesley afirma que chegou a pedir “ao Flávio” – que vem a ser Flávio Carneiro, então proprietário do Hoje em Dia – para dizer ao senador Aécio que parasse de pedir dinheiro, pois eles estava sendo investigados.

Essa relação entre Aécio e o proprietário de um jornal mineiro precisa de alguma luz, para que não fiquemos sem foco e deixemos esse fato se perder no mutirão de denúncias.

É fato, facilmente comprovável, analisando as manchetes e pesquisas publicadas pelo Hoje em Dia, que o jornal tomou partido da candidatura de Aécio Neves na última campanha presidencial.

Vale ressaltar que não foi o único jornal mineiro a adotar postura parcial e acintosa.

O jornal chegou a publicar uma pesquisa non sense, que ia na contramão de todos as outras pesquisas de opinião e dava favoritismo a Aécio. A notícia manchetou o site do jornal no dia 14 de outubro e, velozmente, a imagem da tela do portal do Hoje em Dia estampava a propaganda de televisão de Aécio Neves no dia seguinte.

Vale relembrar a demissão do jornalista Aloísio Morais do Hoje em Dia, no dia 31 de outubro de 2014. O jornal tentou demiti-lo por justa causa por comentários que ele compartilhou em uma rede social. O comentário criticava o instituto que teve a pesquisa abalizada pela publicação do Hoje em Dia e favorecia Aécio Neves.

O jornal perdeu em toda as instâncias e Aloísio foi reintegrado ao trabalho, por determinação judicial, depois de 22 meses.

Qual o interesse do SJPMG nessa história? O Sindicato quer fazer vingança política? Essa turma de sindicalistas nunca gostou do Aécio?

Não. Nenhuma das respostas pode ser aplicada.

O que interessa ao SJPMG é que os 36 jornalistas, os funcionários da gráfica e do setor administrativo do Hoje em Dia que foram demitidos após os Carneiros venderem o jornal para o ex-prefeito de Montes Claros e ex-presidiário, Ruy Muniz, recebam o dinheiro que lhes é garantido por direito.

Nesse negócio que envolveu o senador afastado, o ex-presidiário e ex-prefeito e um grupo empresarial, as principais vítimas são os funcionários que levaram o calote.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais

(Crédito da foto: Pedro Prates.)

[29/5/17]

2 COMMENTS

  1. Essa história é nebulosa desde o seu início no longínquo ano de fundação do Hoje em Dia pelo ex-governador Newton Cardoso, que comprou o prédio do Diário do Comércio e nunca passou escritura por causa do impedimento legal do jornal do velho Costa que não consegui obter certidão de regularidade de situação junto ao INSS, já que era grande devedor da Previdência e deve ser até hoje. Daí que Newton passou o jornal e o prédio para os pastores da Universal, que diante da impossibilidade de lavrar a escritura em cartório do bem que acabaram de adquirir junto ao ex-governador entraram com ação de usucapião urbano. E assim conseguiram regularizar a situação até que a Igreja Universal caiu fora e deu início ao atual imbroglio. Foi um péssimo negócio o que o sr. Costa fez na época, pois recebeu um terreno em comodato da prefeitura em bairro distante do centro e lá ergueu um novo prédio que nunca terá condições de chamar de seu. O comodato já venceu há muitos anos e mais dia menos dia o prédio terá que ser reincorporado a PBH, que poderia, para evitar o desaparecimento do DC, fazer sua doação. Quem sabe assim o velho DC prosseguiria sem maiores dificuldades.

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