SJPMG repudia censura imposta pela Rádio Favela ao professor Dirceu Greco, médico pioneiro na luta contra a AIDS

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Crédito: Carol Morena/Faculdade de Medicina da UFMG

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) manifesta sua total solidariedade ao professor emérito da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, eminente infectologista, com um trabalho importantíssimo na pesquisa da AIDS e na luta contra o preconceito aos portadores de HIV/AIDS, reconhecido e querido por toda a comunidade acadêmica e movimentos sociais de luta contra a AIDS e em defesa da população LGBTQIA+ por sua atuação em prol de uma medicina justa e humanizada e contra o preconceito.

Na semana passada, durante sua participação em um programa na Rádio Favela, ele foi censurado enquanto falava sobre o Projeto Horizonte, programa de extensão criado pela UFMG em 1994, em parceria com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), para integrar o país no processo de desenvolvimento de uma vacina contra o HIV, e ainda em pleno funcionamento.

O SJPMG manifesta também seu apoio e solidariedade à população LGBTQIA+ , uma das maiores vítimas de violência e segregação no Brasil, também atacada com a censura imposta pela Rádio Favela à pauta.

Leia abaixo a carta divulgada pelo Programa Horizonte

CARTA DENÚNCIA

No último dia 14 de setembro o professor Emérito da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, participou de uma entrevista na programação da Rádio Autêntica Favela para tratar de diversos temas relacionados à sexualidade, à saúde da população LGBTQIA+ e aos direitos humanos, a partir das experiências dos projetos Horizonte e PrEP 15-19, coordenados por ele. Esta era a quinta vez que um representante dos projetos atendia ao convite da rádio para participar e abordar estes importantes temas.

A pauta proposta, aprovada pela emissora, utilizava como mote a comemoração do 27º aniversário do Projeto Horizonte (PH). Incluía a importância do PH na defesa dos Direitos Humanos e da diversidade, tendo como foco principal a população LGBTQIA+, tão agredida em seus direitos e sujeita à violência, preconceito e discriminação.
Logo nos primeiros minutos de entrevista, o professor foi interpelado pelo apresentador com a notícia de que o Presidente da Rádio, Misael Avelino dos Santos, gostaria de falar-lhe ao telefone. Imediatamente a entrevista foi suspensa e iniciada uma série de músicas na programação. A entrevista foi encerrada, sem explicação alguma aos ouvintes.

Muito embora a pauta houvesse sido aprovada pela emissora, o presidente da Autêntica Favela demonstrou absoluta discordância com o tema da entrevista e, por telefone, se posicionou de maneira grosseira, reacionária e homofóbica, deixando claro que a rádio deveria tratar de outros assuntos, com o argumento de que a audiência é diversa e a pauta LGBTQIA+ não atenderia a todos. Ainda de forma rude, apenas desligou o telefone e inviabilizou o final da entrevista.

Entendemos que esta atitude fere a liberdade de informação, princípio básico do Estado Democrático de Direito. Desta forma, urge que esta e toda tentativa de censura e silenciamento seja repudiada vigorosamente, sobretudo por nós, jornalistas defensores de uma imprensa livre, justa e com responsabilidade social.
Em tempo, manifestamos nossa profunda solidariedade às populações LGBTQIA+ que infelizmente foram prejudicadas e privadas do acesso à informação, pela deplorável e absolutamente incoerente conduta do presidente de uma rádio comunitária, educativa e com finalidade de inclusão.

Inclusive, ao observar a trajetória da Rádio Autêntica Favela, fica claro a sua importância no movimento de socialização dos meios de comunicação, que ainda hoje estão concentrados em oligopólios familiares. Na década de 1980, durante a ditadura militar, a Rádio Favela operava sem licença legal, a partir de uma iniciativa dos moradores da Vila Nossa Senhora de Fátima, no Aglomerado da Serra. Sofreu repressão violenta, com invasões policiais e prisões. Somente em 1996 foi legalizada, depois de uma trajetória independente e combativa de rádio pirata à rádio comunitária. Diante da história, é evidente o descompasso da atitude do presidente da rádio e os princípios e trajetória dela nos últimos 40 anos.

A parceria da Rádio Autêntica Favela com o projeto PrEP 1519 Minas foi estabelecida a convite da própria emissora, que consegue alcançar o público mais periférico, tais como a comunidade do Aglomerado da Serra. Um dos objetivos da PrEP é levar informação a essa população para reduzir o preconceito e promover maior acolhimento dos jovens da periferia que se identificam como gays, homens que fazem sexo com homens, mulheres trans ou travestis em suas comunidades. O projeto também objetiva promover a prevenção às infecções sexualmente transmissíveis junto a esses jovens, que têm maior dificuldade de acesso a esse tipo de informação, assim como ao sistema de saúde e aos métodos preventivos, o que os tornam ainda mais vulneráveis às IST e outros tipos de violências. Ao debater temáticas ligadas a essa população, também se busca a conscientização dos familiares e de toda a comunidade.

Jornalistas do Projeto Prep 15-19 Minas

NOTA RÁDIO FAVELA

A Rádio Favela vem a público esclarecer que desde agosto deste ano mantém uma parceria com Programa PreP15-19 da UFMG, iniciativa que partiu da própria emissora. O caso ocorrido no dia 14 de setembro de 2021, foi um episódio isolado, fruto de uma decisão e abordagem inoportunas.

Na ocasião, houve uma divergência em relação a proposta da programação. E de fato, o presidente da rádio não escolheu o momento mais propício para tratar do assunto.

A Rádio Favela, na figura do seu presidente Misael Avelino, se retrata sobre o ocorrido e pede desculpas a todos os envolvidos, em especial ao professor Dirceu Greco.

A emissora, que tem longa trajetória na luta popular, segue à disposição da comunidade, aprendendo com os erros, se reformulando e mantendo como norte seu caráter educativo e popular.

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