Falecimento: Virgílio Horácio de Castro Veado

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O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais comunica com profundo pesar o falecimento do seu ex-presidente Virgílio Horácio de Castro Veado, ocorrido nesta sexta-feira 4/10, no Hospital Biocor, em Belo Horizonte, de complicações provocadas por câncer. Tinha 86 anos e presidiu o SJPMG de 1965 a 1972. Deixa mulher, Dulce, e um filho, Virgílio. Seu corpo será velado no Cemitério do Bonfim neste sábado 5/10, a partir das 8h, e enterrado às 11h.

Virgílio de Castro Veado foi um dos mais atuantes presidentes do SJPMG e ocupa lugar de destaque na história da entidade. Ele assumiu o posto, segundo suas próprias palavras, “num momento em que dezenas de entidades de classe sofriam violentas intervenções da ditadura militar, em que líderes dos trabalhadores eram caçados como marginais”. Teve participação decisiva na elaboração do decreto-lei que regulamentou a profissão de jornalista em 1969.

No seu mandato, a entidade recebeu a doação da sua atual sede, a Casa do Jornalista, feita pelo governo do estado, em lei aprovada pela Assembleia Legislativa. A solenidade de inauguração, no dia 8 de outubro de 1966, reuniu, além do governador Magalhães Pinto, os dois governadores recém-eleitos pela oposição ao governo militar: Israel Pinheiro (MG) e Negrão de Lima (antigo estado da Guanabara).

A inauguração trouxe a Belo Horizonte jornalistas dirigentes sindicais de todo o País e serviu de pretexto para divulgação da Declaração de Belo Horizonte, na qual afirmaram a determinação de lutar pela regulamentação da profissão, pela defesa da Lei de Imprensa, que a ditadura pretendia modificar, e pela liberdade de imprensa assegurada na Constituição. A declaração ainda protestava contra toda e qualquer forma de violência a jornalistas.

Na sua gestão foi realizada a I Conferência de Jornalistas Mineiros, em abril de 1969, tendo como sede a Casa do Jornalista. Sobre Virgílio disse o então presidente Dídimo Paiva, em discurso na inauguração do seu retrato e do também ex-presidente Salomão Borges na Galeria dos Presidentes do SJPMG, no dia 27 de junho de 1977 (foto abaixo):

“Esta é uma sincera e justa homenagem da atual Diretoria e de toda a classe a quem honrou o Sindicato com seu trabalho e com sua efetiva participação nos destinos da entidade”.

O retrato, que ainda está na Casa do Jornalista, foi pintado pelo artista plástico Elpídio Lemos de Vasconcelos.

Em outubro de 2016, durante as comemorações dos 70 anos do SJPMG e 50 anos da Casa do Jornalista, Virgílio de Castro Veado voltou à sede da entidade, depois de 40 anos distante (foto acima). A uma plateia de jornalistas de várias idades, que lotaram o salão da Casa, ele contou uma história de fundamental importância: a da fórmula encontrada para que, num governo ditatorial que perseguia a imprensa, os jornalistas mineiros não corressem risco de perder a sede do seu sindicato, como acontecia com outras categorias. E essa fórmula foi a criação da Casa do Jornalista, figura jurídica à parte do Sindicato, e que hoje ajuda a manter viva a entidade.

Carreira

Virgílio de Castro Veado nasceu em Santa Luzia (MG) no dia 28 de março de 1933, concluiu o curso primário em Vespasiano e veio com a família para Belo Horizonte ainda criança. Fez o curso secundário no Colégio Arnaldo, matriculou-se no curso de Direito da UFMG, transferindo-se depois a Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, pela qual se formou em 1957; fez cursos de especialização em Direito Penitenciário e Psiquiatria Forense. Bem antes e ainda muito jovem começou no jornalismo, em 1950.

Trabalhou no jornal Última Hora e foi diretor da sucursal do Correio da Manhã, em Belo Horizonte. Nos Diários Associados, foi editor de economia, redator e cronista político do jornal Estado de Minas, assinando também artigos na última página do caderno de cultura do mesmo jornal, ao lado da coluna do escritor Carlos Drummond de Andrade. Teve também um programa de debate política na TV Itacolomi. Foi diretor da revista da Fundação João Pinheiro.

Publicou os livros Janelas para o destino – Imprensa e Poder (memórias), Catilinárias do Exílio (confissões e crônicas), O Testamento de Ana Maria (sobre a morte prematura de sua filha).

Foi também presidente e um dos fundadores do Centro de Cronistas Políticos de Minas Gerais (Cepo) e chefe do Serviço de Imprensa do Palácio da Liberdade, fundador e presidente da Cooperativa Habitacional dos Jornalistas Profissionais de MG. Ocupou também diversos cargos públicos: presidente do Conselho Administrativo da Caixa Econômica Federal; diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais; diretor do Banco do Estado de Minas Gerais; secretário particular do professor San Tiago Dantas, ministro da Fazenda do governo João Goulart; procurador do INPS.

Depoimentos sobre Virgílio Horácio de Castro Veado

“Os jornalistas de Minas devem muito a Virgílio Veado pela criação da Casa do Jornalista, que teve e tem papel fundamental na luta pelos direitos dos jornalistas, pela liberdade de imprensa e pela defesa da democracia. Além disso, ele foi um jornalista superimportante nas áreas política e econômica.”

(Alessandra Mello, presidenta do SJPMG.)

“O jornalista Virgílio Veado, na década de 1960, foi eleito presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas e levou a luta dos jornalistas mineiros para o plano nacional. É obra sua a conquista e a implantação da Casa do Jornalista, transformada, depois, em trincheira sindical dos trabalhadores do Brasil. Também foi de autoria de Virgílio o decreto-lei que regulamentou a profissão de jornalista no país.

“Habilidoso em suas relações políticas, foi amigo de governadores, parlamentares e ministros, especialmente Magalhães Pinto, San Thiago Dantas, João Goulart, Mário Andreazza e Jarbas Passarinho.

“Recolhido, por opção pessoal, relatou toda a sua movimentada vida funcional e profissional por meio de um livro de memórias e confissões – ‘Catilinárias do exílio’, onde se mostra por inteiro, corajosamente, e se oferece ao julgamento dos amigos e de todos que com ele conviveram.”

(Washington Mello, ex-presidente do SJPMG – 1978/1980.)

“Virgílio Veado foi dos mais importantes jornalistas da história de Minas. Além da sua produção intelectual, escreveu seu nome na história do nosso Sindicato. Se hoje temos a Casa do Jornalista, foi graças à luta do Virgílio, que, quando presidente do Sindicato, conquistou o espaço para de ser a nossa sede. Depois, ajudou a transformá-la e fazê-la a Casa da Liberdade e Democracia, como ficou conhecida.”

(Kerison Lopes, ex-presidente do SJPMG – 2014/2017.)

O companheiro-jornalista Virgílio Horácio de Castro Veado partiu para a eternidade, mas ficará para sempre na memória e no coração de sua família e de nossa categoria. Esta o admirava e o respeitava tanto, que o elegeu por três mandatos presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG! Em 1965 conseguiu junto ao Governo de Minas Gerais, quando era assessor de imprensa do governador José de Magalhães Pinto, a cessão do imóvel, na Avenida Álvares Cabral, 400, hipotecado pelo Estado, para o SJPMG e a entidade cultural Casa do Jornalista de Minas, criada inteligentemente por Virgílio, como espécie de biombo de ferro para defender o SJPMG e os companheiros-jornalistas dos horrores e perseguições da ditadura instalada no nosso País em 31 de março de 1964. Meus pesares à Dona Dulce, Virgílio Filho e demais familiares, na certeza de que nosso grande ex-presidente do SJPMG já descansa, iluminado, nos braços de Deus!

(Dinorah Carmo, ex-presidenta do SJPMG – 1999/2002 – e coordenadora do Conselho Fiscal da Casa do Jornalista de Minas.)

(Crédito da foto do alto: Samuel Gê. Foto acima: arquivo SJPMG.)

[4/10/19]

2 COMMENTS

  1. Trabalhamos juntos durante 15 anos e lutamos tambem pelo desenvolvimento da economia de Minas. Foi um grande mestre para mim. Meus sentimentos a famila. a) Fernando Soares Rodrigues.

  2. Afastado algum tempo de nossa capital, isolado um pouco de nossa convivência jornalística, foi com imensa surpresa (e dor) ao saber agora do falecimento do amigo, mestre e orientador quando, com ele, atuei na Editoria de Economia do Estado de Minas. Aprendi muito com Virgilio, com sua figura de homem sensato, culto. sobretudo honesto e justo em seus julgamentos pessoais. Sofreu com estoicismo, juntamente com
    Dulce, sua esposa e Virgilio Filho, o falecimento de sua filha Ana Maria, período que acompanhamos de muito perto, pela convivência profissional e de amizade. Deixo registrado aqui um profundo sentimento à família e aos caros amigos profissionais da imprensa, que com ele conviveram e participaram de sua luta pelo engrandecimento de nosso Sindicato e, sobretudo, de nossa profissão .

    PAULO PASSOS

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