Márcio Fagundes Oliveira
Para agradecer de coração a amigos, colegas e parentes, eu voltei a escrever. Um coletivo de ouro renovou em mim os valores humanitários de amizade, afeto e carinho, depois de retumbante e histórica manifestação de solidariedade. Juro que nunca imaginei ser merecedor de tanto e tantos. Minha gratidão a todos por anos-luz!
Por décadas estive metido no jornalismo diário. Depois, cansei. A profissão tem glamour; muitíssimo de frustração. Sou fã do texto vanguardista de Joel Silveira, bem como do humor de Millôr Fernandes. As reportagens romanceadas de Capote, Wolfe, Talese e Mailer me divertem bastante. Curto Machado, Barreto, Graciliano, José Murilo e o José Cândido, ambos de Carvalho. Como fundo musical, os Stones, Mahler, Wagner, Racionais, Claudete e Elza, ambas Soares, Bola de Nieve, Cauby e Matogrosso.
Por diversão, passatempo, ato de civilidade, quem sabe se por destemor, voltei a escrever. Como amante da leitura, aliás, essa a minha vocação, seduzido de paixão pela inspiração de outrem, voltei a escrever. Se por nostalgia, quiçá picardia, voltei a escrever, agora na primeira pessoa.
Perdi o pudor. Como sabido, virei notícia. Eu que por toda uma vida profissional corri atrás delas… Ganhei aborrecimentos, mais cabelos brancos e alguma licença poética. Sempre me ative aos fatos. Com uma tripa de papel no bolso de trás da calça e caneta na orelha registrei fatos impensáveis para quem quis ser um geólogo.
Conversei com Prestes, Arraes, Brizola, Jânio, Quércia, Covas, Ulysses, Simon, Sarney, Collor, Aureliano, Newton, Tancredo, Azeredo, Anastasia, Itamar, Aécio, Pimentel e Hélio Garcia (adoro!), empresários, cientistas, professores, ministros, senadores, deputados, prefeitos e vereadores, além de malucos de toda natureza, desde os anos 80.
Atuei na cobertura da seleção brasileira de Telê Santana (Toca), em dobradinha com Ricardo Kotscho (Folha de S.Paulo). Em 1998, colunista do Hoje em Dia, consegui a proeza de não assistir a nenhuma partida da Copa, na França, preferindo destrinchar os bastidores da Cidade Luz, a partir das catacumbas seculares, o que me valeu elogios do Lauro Diniz. Quase fui demitido, no Globo, pelo veterinário da égua Miss Globo, do Roberto Marinho, porque descobri surto de diarreia nos animais antes de certame internacional, no Cepel. Sediado em Brasília, assinei editorial de página dois, com chancela de Minas Gerais, na Folha de S.Paulo, feito até então para craques como Flávio Friche e Otaviano Lage, da sucursal. Tomei vodka com a Elke Maravilha e me apaixonei por Bruna Lombardi na gravação de Memórias de um Gigolô, com direção de Walter Avancini, em Poços de Caldas. Recolhi no chão as palhetas do guitarrista Pat Metheny, durante as gravações do disco Angelus, de Milton Nascimento, com James Taylor, Yan Anderson e outros, em New York, a convite do saudoso Márcio Ferreira. Na praça principal de Mariana, recebi como anfitrião a Dom Luciano Mendes de Almeida. Apenas eu aguardava-o na cidade histórica. A Igreja Católica exilou-o em Minas, contrariada com suas posições progressistas em São Paulo. Fui o mais jovem secretário de comunicação de Minas Gerais, aos 31 anos, embora reconheça sem vocação para o cargo, por honra e firma de J.D.Vital, que convenceu, não se sabe como, a Hélio Garcia.
Desfrutei da generosidade de colegas de redação e de demais veículos ao longo da carreira. Sorte minha, gente boa de serviço me ensinou as manhas e artimanhas do jornalismo. Cito uns poucos: Carlos Lindenberg (O Globo), José Celso Garcia (A Cidade), Assad e Salomão Borges (Jornal de Minas), Wagner Seixas, João Gabriel, João Bosco, Gabi Santos, Marquinho Andrade, Marco Antônio e Arnaldo Viana (Estado de Minas), Jayme Gomide e Sertório Canedo (Tribuna de Minas) e Carlos Alberto Teixeira de Oliveira (Mercado Comum). Vários deles já nos deixaram…
Gostaria de fazer manuscrita minha volta às letras grafadas. A caligrafia desnuda o autor, revela traços de sua personalidade, ao contrário da tipologia digitalizada, preguiçosa e uniforme. Empunhar um lápis, também é levantar bandeiras.
Sinto-me inteiro e antiquado em cartas e cartões postais, que nunca abandonei. Posso tudo nas vírgulas de respiração! Menos errar concordâncias e separar o sujeito do verbo. Volto a escrever na minha medida por puro diletantismo. Em consequência, bem entendido, de inevitável movimento peristáltico cerebral.
#LutaJornalista
#SindicalizaJornalista
[11/12/18]