A seguir, a íntegra do discurso pronunciado pelo presidente Kerison Lopes na sessão especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais que homenageou os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, nesta segunda-feira 21 de setembro.
“Senhores deputados, senhoras e senhores,
Meus colegas jornalistas,
Esta homenagem que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais faz ao Sindicato dos Jornalistas,pelos 70 anos de sua intensa presença e participação na vida social e política do nosso Estado, é um momento perfeito para que analisemos nossa responsabilidade individual e coletiva tanto na vida de Minas, quanto no esforço nacional de construção de uma sociedade livre, justa e democrática.
Receber esta homenagem da Assembleia, tem o significado de como se todos os mineiros estivessem presentes aqui, neste momento, para expressar a sua consciência do papel da imprensa e dos jornalistas na construção de uma nova sociedade, livre da injustiça, da violência e de todas as formas de discriminação que ainda hoje existem no mundo.
Completamos, no dia 6 de setembro, 70 anos de luta, mas a iniciativa da Assembleia, ao decidir que esta solenidade se realizasse hoje, neste que é o Dia Internacional da Paz, atribui sentido ainda mais amplo,profundo e significativo a uma homenagem que é de todo o povo mineiro, democraticamente representado nesta Casa.
A Paz para nós sempre teve um significado especial. Não foi por mera coincidência que a fundação do nosso Sindicato se deu exatamente quando estava chegando ao fim a Segunda Guerra Mundial. Naquele período, a humanidade inteira estava recuperando a esperança de tempos melhores e mais justos para todos os habitantes do planeta.
Acreditava-se, então, que a democracia, a liberdade de imprensa, a inteligência e a fraternidade voltariam a ser um patrimônio de todos os povos.
Foi nesse período de tantas esperanças que os jornalistas mineiros decidiram se organizar para o melhor cumprimento do seu papel na construção de uma nova sociedade, que se caracterizasse pela fraternidade, pela democracia, pela liberdade e pela paz. Sabemos e lamentamos que essas opções não tenham sido tão duradouras quanto desejavam e mereciam todos os povos da Terra.
Sabemos e lamentamos que, poucos anos após esse momento de recuperação da esperança, da liberdade, da justiça e da democracia, muitos países voltaram a mergulhar na escuridão do autoritarismo, das ditaduras e dos conflitos internos e externos que custaram a vida de milhões de seres humanos – mulheres, homens e crianças – nos mais diversos pontos da Terra.
Cabe lembrar aqui que o nosso Sindicato dos Jornalistas, desde a sua fundação, jamais se rendeu aos poderosos ou se calou diante das diversas formas de violência e desumanidade que assolaram o nosso país e o nosso continente.
E, em alguns momentos, os jornalistas mineiros – representados pelo Sindicato – foram um exemplo, para o Brasil inteiro, de resistência e luta contra todas as formas de autoritarismo e de negação da liberdade.
Por tudo isso, presidir o Sindicato, neste momento de celebração, é uma honra imensa. Honra e responsabilidade que compartilhamos com todos os companheiros da imprensa e, especialmente, com todos os senhores deputados que compartilham do nosso sentimento de responsabilidade social, profissional e política.
Estamos atravessando, mais uma vez, um período de turbulência política em nosso país. E, em momentos assim, cabe aos jornalistas e ao seu Sindicato a responsabilidade de garantir que todos os mineiros compreendam perfeitamente aquilo que está em jogo, neste momento.
Não representamos ideias, objetivos, estratégias e práticas que constituem o território e a razão de ser dos partidos políticos, mas também não temos o direito de silenciar diante de quaisquer ameaças à democracia e à liberdade de escolha dos brasileiros.
Nosso primeiro e maior compromisso é com a verdade e contra qualquer tentativa de calar a vontade da maioria dos mineiros. Trinta anos já se passaram, desde que nos livramos da ditadura militar.
Mas, ainda hoje, temos que nos manter atentos a qualquer iniciativa que ameace a vontade da maioria do nosso povo, que foi expressa pelo sufrágio universal.
A maioria que exerceu – com o seu voto livre, universal e secreto – o direito de escolher ideias, dirigentes e projetos que conduzam o Brasil à construção de uma sociedade mais justa e mais humana e a um futuro que represente a definitiva consolidação da democracia em nosso país.
Se ainda há grupos políticos que não hesitam em abraçar o passado, com o desrespeito `a Constituição e a democracia, nosso dever é apontar quem são, onde estão e como atuam esses inimigos da pátria e da liberdade, que são inimigos de todos nós.
Manter a tradição libertária do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas e o pensamento que fez da nossa Casa do Jornalista uma autêntica Casa da Democracia são compromissos que assumimos com os profissionais e com toda a sociedade.
O Sindicato e a Casa voltaram a ser uma referência não só para os profissionais jornalistas, mas – como naquele nosso glorioso passado – estão recebendo, a cada dia,dirigentes e representantes dos mais diversos movimentos e organizações sociais, que nos procuram em busca de apoio, informações e solidariedade.
Apoio, informações e solidariedade que sempre encontraram ali, nos momentos mais difíceis do passado, quando o Sindicato e a Casa abrigaram encontros e manifestações de resistência à ditadura, à violência, à censura e à perseguição política comandada pelo regime militar.
Cenário de atos históricos, o Sindicato denunciou a censura, defendeu com firmeza a liberdade da imprensa, abrigou os perseguidos e enfrentou o terrorismo de direita, mesmo sendo alvo de atentados criminosos.
Além de acolher o memorável movimento das Diretas Já, o Sindicato dos Jornalistas foi um defensor intransigente da liberdade sindical e desempenhou papel relevante na fundação da CUT Minas, do Sindicato dos Professores, do Sindicato dos Médicos e de tantas organizações que encontram abrigo e apoio na nossa Casa.
Celebrar os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas é, portanto, celebrar uma longa tradição democrática e reafirmar a liberdade como princípio, para os jornalistas, para os mineiros e para os brasileiros. Para o jornalista, a liberdade é como o ar, sem o qual não se pode viver. Para o povo, a democracia é a própria vida!
E hoje, por fidelidade aos seus princípios e respeito pela liberdade de pensamento e de atuação sindical e política, o Sindicato está novamente aberto para acolher todos aqueles que reivindicam respeito e oportunidade de manifestação do pensamento livre dos trabalhadores e de todo o povo mineiro.
Por uma questão de justiça, tomo a liberdade de recordar que, já no ano da sua fundação, o Sindicato apoiou a nova ordem democrática que se instalou no país, com a queda do Estado Novo.
E, em 1961, denunciou ao país a invasão e depredação do semanário Binômio, por forças do Exército e da Aeronáutica, em um dos episódios mais graves de ataque à imprensa de Minas e do país.
Hoje, não há dúvida de que essa brutal agressão anunciava a violência de que todos nós seríamos vítimas, a partir de 1964.
Estavam presentes naquele episódio os valorosos companheiros José Maria Rabêlo e Guy de Almeida. O Sindicato reagiu imediatamente e deu ao fato a repercussão nacional que merecia, mesmo sob as hesitações de patrões que temiam desagradar os militares. Então chefe da sucursal do jornal O Globo, o ex-presidente do Sindicato José Mendonça teve papel importante na reação dos jornalistas àquela agressão. Mendonça fez jus a sua garra e compromisso já demonstrados quando foi o segundo presidente do Sindicato.
Também devemos muito ao nosso ex-presidente Virgílio Horário de Castro Veado, que em 1965 se dedicou intensamente à conquista de um espaço próprio para o Sindicato, antes limitado a uma pequena e modesta sala no centro da cidade.
Esse novo espaço foi decisivo para que um outro presidente, Dídimo Paiva, fizesse da Casa do Jornalista Mineiro um dos principais focos de resistência à ditadura e um abrigo acolhedor dos mais diversos movimentos sociais e culturais.
Ali, jornalistas e políticos plantaram também a semente do movimento “Diretas Já”, em defesa da definitiva redemocratização do país.
Além desses jornalistas ilustres e homenageados nesta sessão, desejo reverenciar também todos os ex-presidentes, diretores e ex-diretores do Sindicato, assim como todos os colegas que dignificaram a profissão durante essas sete décadas.
São profissionais que muitas vezes travam entre si um forte debate de ideias e divergem em opiniões, mas sabem colocar o interesse coletivo acima de todos os outros e defender a causa da democracia, que está no DNA do Sindicato dos Jornalistas.
Hoje, três décadas após o fim da ditadura, o Sindicato continua fiel aos seus princípios e empunha novas bandeiras, fundamentais para o fortalecimento da imprensa e da democracia em nosso país.
A democratização dos meios de comunicação, prevista na Constituição de 1988 e nunca posta em prática, é uma dessas bandeiras. Defendemos também a formação obrigatória em curso superior de jornalismo, para o exercício da profissão, é outra evolução inadiável, da qual não abrimos mão.
Mas nos dias atuais, a principal luta é mostrar o valor que nossa profissão continua tendo, mesmo com o advento da internet com sua proliferação de informações infinitas. São nestes tempos, que a responsabilidade do jornalista é cada vez mais necessária e nossa profissão tem que ser ainda mais valorizada. Por isso, o Sindicato vive na luta incessante contra a precarização das condições de trabalho e a onda de demissões que assola redações de todo o país.
Em nome de todos os profissionais da imprensa mineira, na celebração desses 70 anos de luta, posso lhes garantir que o Sindicato dos Jornalistas continuará fiel às suas origens e à sua história, em defesa da liberdade, da democracia, da verdade, da justiça e da paz.
Estaremos atentos para dar guarida à diversidade de opiniões, acolher os perseguidos, denunciar os desmandos dos poderosos e, sobretudo, defender a democracia, sempre que for ameaçada.
Ao agradecer aos representantes políticos de Minas por esta homenagem à imprensa e ao Sindicato, eu os convido – e a todos os mineiros – para que participem dessas lutas, que nunca serão apenas nossas, mas que dizem respeito ao futuro de Minas,do Brasil e de todos os brasileiros.
Viva o Sindicato dos Jornalistas!
Viva a liberdade!
Viva a democracia!”
(Crédito da foto: Guilherme Bergamini / ALMG.)