Movimento ‘Jornalistas pelo Brasil’ lança manifesto

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Jornalistas mineiros reuniram-se nesta quarta-feira 8/4/10 na Casa do Jornalista para debater a conjuntura política nacional, o risco de um golpe de estado contra o governo da presidenta Dilma Rousseff e seu posicionamento diante desta situação. No debate foi lançado o movimento “Jornalistas pelo Brasil” e lido um manifesto, cuja íntegra está no fim desta notícia. Participaram do debate, como convidados, os jornalistas Ricardo Kotscho e Audálio Dantas, além de José Maria Rabêlo, um dos líderes do movimento.

“Esta é uma comemoração reflexiva do Dia do Jornalista”, assinalou o presidente do Sindicato, Kerison Lopes, fazendo referência à véspera, data nacional dos jornalistas. “O Sindicato está à frente deste movimento, juntamente com muitos jornalistas que têm a preocupação de cumprir o papel social do jornalista e interferir para melhorar a situação do país e as condições de vida do povo brasileiro”, explicou.

Kerison lembrou que, nas eleições de 2014, os jornalistas mineiros tiveram papel importante ao revelar ao Brasil o cerceamento à liberdade de imprensa em Minas durante os três governos anteriores (2003-2014). “Diante das recentes manifestações pela volta da ditadura, sentimos a necessidade de chamar a categoria e a sociedade ao debate sobre o jornalismo, a liberdade de expressão e a democracia”, completou.

Fim de um ciclo

Audálio Dantas comparou o ambiente político vivido hoje a dois momentos dramáticos da história do Brasil: tentativa de deposição do presidente Getúlio Vargas, que levou ao seu suicídio, em 1954, e o golpe de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura. “Os jornalistas que começavam na profissão naquela época acompanharam a traição da grande imprensa”, disse. “Todos os grandes jornais estavam alinhados com o golpe contra Getúlio Vargas e conspiraram pela queda do presidente João Goulart”, acrescentou.

Ricardo Kotscho disse acreditar que o Brasil vive o fim de um ciclo, do qual faz parte a falência da velha mídia. “Este ano comemoramos 30 anos da nossa jovem democracia, que começou esse presiencialismo de coalização, que está na raiz da crise”, destacou. “Nunca vivemos um momento tão ruim no jornalismo e não sabemos o que virá depois”, acrescentou.

Kotscho considera muito grave a falta de novas lideranças no país. “Quem é a grande liderança sindical, hoje? Quem é a grande liderança empresarial? Quem é a grande liderança religiosa? Quem é a grande liderança da imprensa?”, perguntou. Ele observou que a oposição não tem projeto para o país: “A oposição quer acabar com a Petrobras e o pré-sal, isso não é projeto para o país”, destacou.

José Maria Rabêlo disse que vivemos um momento muito difícil, mas se mostrou otimista. “É nessas horas que exercitamos nossas maiores qualidades”, observou. Ele não acredita que o país corre risco de um golpe iminente, como em outros momentos, pois os militares estão cumprindo sua função institucional e não se manifestam. “O silêncio dos militares é a boa notícia”, acrescentou Kotscho. “O risco que corremos, hoje, é de um golpe midiático e jurídico.”

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JORNALISTAS PELO BRASIL

Os ares da liberdade não estão circulando de forma desimpedida no Brasil.

Há pouco fôlego para o debate de ideias e menos espaço para o exercício meticuloso, criativo e responsável da busca da verdade.

O jornalismo, com sua tarefa civilizadora de consagrar o direito à informação, vem perdendo sua força em razão do domínio empresarial de um negócio em profunda crise de identidade por razões tecnológicas, econômicas e morais.

O setor deixou de lado suas bases históricas para se definir por meio de alianças cada vez mais incontestáveis com projetos econômicos liberais e de poder político conservador. O resultado tem sido uma perda de relevância do jornalismo. De fiador da liberdade a ator interessado, com visão particular de mundo, sociedade e política, a indústria da notícia ocupa hoje um lugar estranho à sua origem e razão de ser.

A realidade da divisão social foi transformada pela mídia em ambiente de doentia confrontação, que alimenta o golpismo contra a democracia real e estimula o ódio entre as pessoas.

A imprensa, nesse contexto, vem cumprindo a triste missão de desinformar para manipular melhor.

Os jornalistas, nessa hora nebulosa, precisam trazer seu raio ordenador: o sentido da verdade, a crença na pluralidade, a força do argumento contra o nivelamento rasteiro do pensamento único. O teste vigoroso da investigação jornalística, do conhecimento fundado nos fatos, do alimento à reflexão, da sensibilidade humana aos personagens da vida real.

É urgente a defesa das conquistas democráticas, com sua pletora de ideias dissonantes em livre e saudável embate, em lugar do autoritarismo dos colunistas orgânicos, homens e mulheres servis aos patrões, das repetições acríticas das análises prontas, e do silêncio constrangido. Ações deletérias que se armam a partir das mais torpes estratégias, como a mentira, o cinismo, a venalidade e a censura.

É hora do jornalismo responsável. Contra a lógica destrutiva do quanto pior melhor; em confronto com as simplificações que personalizam os problemas estruturais; em franco embate com a defesa do privilégio, do preconceito e da exclusão.

Um jornalismo feito com força moral para combater a corrupção em toda sua extensão. Com apuro técnico que desvele as antecâmaras de uma sociedade desigual e concentradora. Com ligações com o sentimento popular e as verdadeiras expressões de aprimoramento social e humano. Uma trincheira ética que todos reconheçam.

Para isso é preciso que se enfrentem grandes inimigos e estruturas seculares que construíram um dos mais lucrativos mercados do planeta que, se hoje claudica, não é por falta de privilégios, mas pela incapacidade de competir de forma honesta, já que foi nutrido em ambiente protegido. Uma flor de estufa que apodrece em praça pública. Mais que um sistema de ampliação de vozes, a imprensa brasileira confunde a voz do dono com o dono da voz.

Um setor que defende o mercado, mas que quer se eximir de seus controles. Que não aceita regulações nem mesmo quando exerce uma concessão pública por natureza precária e sujeita a renovações. Incapaz de compreender a dimensão pública do direito à informação. Que se arvora em cantar loas à competição enquanto luta ferozmente para manter privilégios na distribuição das verbas publicitárias públicas. Que, em ato repetido de má fé, confunde regulamentação com censura.

Uma indústria eivada de estereótipos, que não gosta do povo, que criminaliza a miséria, que promove o racismo e a violência contra minorias. Que parte de noções preconcebidas, que transforma ideologias em fatos, que vai ao mundo apenas para validar sua visão menor de realidade e seu desprazer em conviver com a diferença.

E nesse quadro de capitulação da imprensa conservadora diante dos poderosos, os jornalões e as cadeias de tevê e rádio lançam-se à mais implacável campanha de descrédito e desestabilização do governo da República. Não pelos seus possíveis erros, mas pelos seus muitos acertos. Os jornalistas denunciam mais essa ação golpista e antinacional da imprensa conservadora, explorando problemas conjunturais que o Brasil enfrenta (como de resto, tantos outros países), para a defesa de seus interesses e dos setores que representam.

É contra tudo isso que os jornalistas se unem em coro com a população brasileira. Pela liberdade de expressão, pela liberdade de informação, pela defesa da riqueza brasileira, na figura de sua maior e mais valiosa empresa, a Petrobras; pelos valores democráticos, pelos direitos humanos, contra todas as formas de golpe e de fascismo.

Um jornalismo de combate.

Um jornalismo de afirmação.

Jornalistas pela verdade.

Jornalistas por uma nova narrativa pública.

Jornalistas pela igualdade.

Jornalistas por um mundo mais humano.

Jornalistas pelo Brasil.

Casa do Jornalista, 8 de abril de 2015.

 

 

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