Na mesa que encerrou o primeiro dia do 2º Encontro Folha de Jornalismo, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, defendeu que os jornalistas que fazem cobertura de Justiça se preparem melhor.
“Leiam antes, se informem antes, peguem os documentos. É preciso ter jornalista alfabetizado”, afirmou o ministro, ao comentar a divulgação pelo juiz Sergio Moro, em 2016, da gravação de uma conversa entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.
“Se fez um pouco de pilhéria com aquilo, mas estávamos falando de uma fraude”, afirmou, referindo-se à posse, barrada pela Justiça, de Lula como ministro da Casa Civil. “Era disso que se tratava, um desvio para dizer: ‘Moro não pode prendê-lo’.”
O ex-ministro do Supremo Teori Zavascki, segundo ele, “depois disse que a gravação é ilegal porque ocorreu minutos depois do fim da autorização”.
Mendes havia sido questionado pouco antes, por pergunta encaminhada da plateia, sobre a demora para devolver um processo contra o senador Romero Jucá (MDB-RR). O ministro pediu vistas e o manteve em seu gabinete por cinco anos.
“Há desinformação em relação a isso”, respondeu. “Temos mais de mil processos em pauta.”
Com mediação de Maria Cristina Frias, colunista da Folha, o debate sobre “O que é correto na relação fonte-jornalismo” reuniu também o advogado Luís Francisco Carvalho Filho e o diretor de Redação da revista “Veja”, André Petry.
ABUSO
Mendes defendeu também a criação de uma Lei de Abuso de Autoridade que combata os vazamentos à imprensa. “As autoridades enfeixam-se de poderes e fazem vazamento seletivo”, justificou, acrescentando que “não é uma proposta de restrição da liberdade de imprensa”.
Em sua apresentação, o ministro elogiou coluna da ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, que tratou das coletivas em “off”, confidenciais, realizadas no âmbito da Operação Lava Jato.
Citando “uma pessoa muito próxima” da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que “o doutor Janot [Rodrigo Janot, ex-procurador-geral] tinha 11 jornalistas para vazar informações”. Segundo ele, “a manipulação disso causa danos graves” e “a relação da fonte com o jornalista está pervertida”.
Em contraponto, Luís Francisco Carvalho Filho, também colunista da Folha, defendeu que a relação entre fonte e jornalista deve se basear “sempre na credibilidade”, inclusive quando se trata de fonte interessada.
“Não estamos falando de uma relação épica e bonita”, afirmou. “É complicada. O jornalista tem que investigar se a fonte quer prejudicar alguém. E aplicar as regras do manual, como ouvir o outro lado.”
(Publicado na Folha de S.Paulo.)
[20/2/18]