Depois de cinco anos e meio de circulação, o jornal Acontece, de Capelinha, transformou-se em revista. A primeira edição saiu em junho e a terceira sairá neste mês de agosto. “Foi a decisão mais acertada que tomamos, para continuar fazendo jornalismo na região”, contou o jornalista João Sampaio, que divide o empreendimento com sua esposa Regiane Marques, também jornalista.
A trajetória do casal, que mudou para o interior depois de longo tempo trabalhando em jornais e assessorias de imprensa da capital, foi narrada na edição nº 2 da revista Pauta, do Sindicato.
“Precisávamos fazer alguma coisa, migramos para revista e tivemos uma grata surpresa. A resposta dos leitores foi muito boa”, continuou João Sampaio. O produto encareceu, pois a a impressão da revista é três vezes mais cara, mas valeu a pena, porque o retorno comercial foi bom.
“O formato revista é mais adequado para a periodicidade mensal. O papel dura mais e a impressão tem melhor qualidade”, explicou o jornalista. “O anunciante sabe diferenciar. Quando vê seu anúncio bonito, adora.”
Mercado local
João Sampaio comentou que depois de cinco anos de experiência é que conheceu de fato o mercado local. “O anunciante do interior tem que ser muito cuidadoso, ele tem uma verba X e tem que distribuir para rádio, festas, campeonatos, quermesses. Tudo que acontece é patrocinado.”
A regularidade do jornal, incomum no interior, contou muito para que ganhasse credibilidade. Em cinco anos e meio, foram 88 edições; na edição 89, virou revista. “Como eu escrevi na apresentação, a revista já nasceu com cinco anos e meio de vida, foi uma evolução natural”, disse João Sampaio.
Com tiragem de 3 mil exemplares, Acontece tem 44 páginas, miolo em papel cuchê 90 gramas e capa em papel cuchê 130. A impressão é feita em Belo Horizonte. Capelinha está localizada no Vale do Jequitinhonha, tem 40 mil habitantes e é polo de 14 municípios. A revista é sustentada por publicidade, porque a venda em banca na cidade não funciona.
Novos conteúdos
Ao conteúdo tradicional do jornal, João e Regiane acrescentaram novidades, como uma entrevista em cada edição. A primeira foi com o novo pároco, a segunda com o reitor da universidade. “A revista cria hábitos e proximidade com o leitor”, observou João.
A revista também ganhou um resumão do mês, na forma de notas, com informações de negócios, esportes, um pouco de polícia. E agregou colaboradores como colunistas, pessoas que são referências na região, como uma odontóloga, um cerimonialista, uma arquiteta, a maior empresária de moda, um estudante de gastronomia, uma fisioterapeuta e outros profissionais. O jornalista Orion Teixeira escreve sobre política.
A revista está na internet, mas João e Regiane optaram por não alimentar redes sociais com material diário. “Não queremos cobrir o factual, diário, porque tem 20 fazendo isso em Capelinha. A gente fazia matéria, apurava, escrevia e os outros copiavam e colavam”, contou João. “O jornalismo virou terra de ninguém, o mercado está totalmente prostituído, não temos contra lutar contra isso, enquanto não voltar o diploma. Então vamos focar na revista. Pegamos o conteúdo, quatro ou cinco dias depois, e liberamos no Instagram e no Facebook. Tudo vai para as redes sociais e aí tem 50 mil acessos.”
Anunciantes
E os anunciantes são mesmo locais. “Embora a mídia regional seja muito importante, quase não recebemos anúncios do governo federal. Já eram poucos, e de um ano e meio, dois anos pra cá a verba acabou, ficou muito mais concentrada. Do governo estadual, é um terço do que já foi. Procuramos não depender dessas verbas e fazer o diálogo com o local”, contou o jornalista.
João Sampaio reafirma sua fé nesse projeto. “Ainda dá para fazer jornalismo no interior. As pessoas gostam de folhear, sentem satisfação em manusear uma revista bem feita.”
Ele conta que num encontro recente de mulheres empreendedoras, em Poços de Caldas, Capelinha levou três produtos locais: café, cachaça e a revista Acontece. Um colégio da cidade, parceiro do Sistema de Ensino Bernoulli, usa a revista em palestras e trabalhos de português e história, e escolas públicas estaduais também. “Isso nos orgulha muito”, disse.
[16/8/17]