O corpo do jornalista Artur Almeida, falecido em Portugal no dia 24 de julho, será velado nesta quinta-feira 3/8, a partir das 11h30, no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte. O enterro está marcado para as 16h.
Artur sofreu uma parada cardiorrespiratória em Lisboa, onde passava férias em companhia da mulher e da mais jovem das suas três filhas. Foi socorrido no hotel onde estava hospedado, mas morreu a caminho do hospital. Ele era editor-chefe e apresentador do MG TV 1ª Edição, da Rede Globo Minas.
Integrante de uma família de jornalistas brilhantes, Artur Nogueira de Almeida Neto é filho de Guy de Almeida, pai de Amanda Monteiro e sogro de Fábio Fabrini. Nasceu em Belo Horizonte em 18 de maio de 1960 e formou-se em Jornalismo pela PUC Minas em 1983. Começou a carreira no rádio e em 1987 foi contratado pela TV Globo Minas. Trabalhou como produtor, repórter e tornou-se âncora do MGTV. Em 1998 assumiu a chefia do MGTV 1ª Edição.
Defensor do jornalismo comunitário, Artur Almeida participou das principais coberturas jornalísticas em Minas Gerais nas últimas décadas. Sua história também se mistura com a história política do Brasil: viveu parte da vida no Chile e no Peru, onde seu pai foi exilado, durante a ditadura. Ao retornar, decidiu seguir a carreira do pai.
Ao longo de quase trinta anos no vídeo, Artur conquistou o respeito do público e dos entrevistados. A emissora registrou inúmeras manifestações de pesar dos telespectadores. Sua presença séria e compenetrada transmitia as qualidades mais citadas pelos companheiros de trabalho: honestidade, competência, ética, generosidade.
Poucos sabem, porém, que sua correção profissional manifestava-se também em atitudes diante dos patrões, sempre solidário aos colegas de trabalho. Chegou inclusive a ser dispensado da emissora por participar de uma greve.
Foi em 1990. Em tempos de inflação galopante, os jornalistas e radialistas de Minas obtiveram na Justiça do Trabalho o dissídio referente ao reajuste acumulado de 1988 e 89. A Rede Globo, porém, negou-se a fazer o pagamento, o que levou os radialistas, liderados pelo sindicato, a decretar greve. A greve foi marcada para o dia 15 de janeiro de 1990, data de uma visita do empresário Roberto Marinho, dono do conglomerado Globo, a Belo Horizonte. Marinho veio a Minas pedir apoio dos empresários mineiros ao recém-empossado presidente Fernando Collor. O encontro aconteceu no Automóvel Clube, que foi cercado pelos radialistas, exigindo uma reunião com o patrão.
Roberto Marinho prometeu aos grevistas pagar o dissídio até o dia 31 de março, proposta rejeitada pelos trabalhadores, que decidiram pela continuidade da greve. A paralisação ganhou adesão dos jornalistas e a produção da emissora em Belo Horizonte foi interrompida, obrigando-a a transmitir conteúdo produzido em Juiz de Fora. Em represália, a empresa demitiu todos os grevistas, inclusive Artur Almeida. Porém, voltou à Globo pouco tempo depois, juntamente com outros ex-grevistas, para reforçar a emissora, que via seu jornalismo ameaçado pela concorrência da TV Manchete.
Não foi a única vez em que Artur demonstrou sua consciência de classe. Em 2002, já como editor, novamente o filho de Guy de Almeida solidarizou-se com a categoria. De novo a Rede Globo se negava a conceder o reajuste de salário definido por um dissídio da Justiça; ao invés dos 18% determinados, propôs apenas 12%. Em uma assembleia, os trabalhadores teriam que definir se aceitariam ou não.
A posição de Artur foi determinante para o resultado: sugeriu no pé de ouvido de um sindicalista que a votação fosse secreta. Livres do assédio, os trabalhadores votaram com sua consciência e rejeitaram quase que por unanimidade a proposta patronal.
O Sindicato faz suas as palavras da jornalista Isabela Scalabrini ditas ao vivo no MG TV 1ª Edição, cuja apresentação dividia com Artur: a melhor homenagem que nós, jornalistas, podemos prestar ao amigo e colega Artur Almeida é continuar fazendo o nosso trabalho, bem-feito, como ele gostava.
Na foto de Marcelo Pinheiro, Artur Almeida entre jornalistas e políticos cobrindo a campanha eleitoral para presidente em 1989.
[2/8/17]