Fernando Morais: ‘Vivemos um golpe como o Brasil nunca viu antes e que será devastador’

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O Brasil vive um momento dramático, com um golpe de estado como nunca tinha visto na sua história, um golpe de mãos limpas, sem tanques nas ruas e sem baionetas, mas que trará um prejuízo infinitamente maior para o país do que o prejuízo provocado pela ditadura, porque é um golpe que tem como objetivo entregar o Brasil para o capital internacional. Esta análise foi feita pelo jornalista e escritor Fernando Morais na palestra de abertura do 14º Congresso dos Jornalistas de Minas Gerais, nesta sexta-feira 29/4. “O programa de governo do vice-presidente Michel Temer é privatizar tudo”, acrescentou Morais, citando notícia publicada no mesmo dia pelo portal UOL.

“Eu preferia estar aqui para falar de uma revolução da qual estamos sendo testemunhas, que é a revolução digital, e o que ela tem a ver com o jornalismo, tema que se entrelaça com este outro. Infelizmente, temos também o triste privilégio de testemunhar um golpe de estado e não é possível hoje falar sobre seja o que for sem falar sobre o golpe em curso no Brasil”, disse o jornalista, dando o tom do debate com a plateia, que reuniu jornalistas, estudantes de Jornalismo e convidados. Na mesa, além do palestrante, estavam o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Kerison Lopes, o presidente da Casa do Jornalista, Mauro Werkema, e o deputado federal Reginaldo Lopes (PT). Antes da palestra, Werkema leu o manifesto “Jornalistas em defesa da democracia”.

O Congresso é uma realização do Sindicato dos Jornalistas e continua neste sábado 30/4, no campus Icbeu da UNA (Rua da Bahia, 1.723), com mesas redondas, plenária e lançamento de livros, além do Encontro Estadual de Jornalistas de Assessoria de Imprensa (Enjai). À noite haverá uma confraternização, na festa de entrega do 9º Prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público, no salão da CDL BH (Avenida João Pinheiro, 495). Para ler a programação completa do Congresso clique aqui.

Os mesmos golpistas

Fernando Morais denunciou que a privatização do pré-sal é o principal objetivo do golpe, cujo governo venderá a Petrobrás “na bacia das almas”. O adeus ao Mercosul, à Unasul e ao BRICS compõe o programa que se completará com o corte de direitos sociais e trabalhistas. “O destino do Brasil está sendo decidido pelos mesmos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio, que tentaram impedir a posse de JK e de Jango e que deram o golpe de 64”, assinalou o autor de biografias como “Olga” e “Chatô, o rei do Brasil”, que retratam importantes períodos históricos nacionais. Segundo Morais, à frente do golpe estão as poucas famílias que controlam os principais veículos de comunicação no país. “A família Marinho é inimiga do Brasil”, enfatizou.

Fernando Morais disse que a esquerda precisa fazer uma autocrítica: nos últimos 13 anos, os governos progressistas nada fizeram para impedir a ação golpista da mídia, ao contrário, os alimentaram fartamente com verbas publicitárias. “O corvo que está comendo os nossos olhos hoje foi alimentado com dinheiro público”, denunciou.

Uma iniciativa do ex-ministro Franklin Martins de implantar um novo modelo de distribuição técnica de verbas publicitárias, durante o segundo governo Lula, provocou o pânico da família Marinho, segundo Morais. Os recursos antes distribuídos entre 400 emissoras de rádio, por exemplo, foram pulverizados entre mais de 4.000. “A família Marinho perdeu R$ 120 milhões por ano”, disse.

Força da internet

Morais condenou a manipulação de informações pelos grandes grupos de mídia, mas disse acreditar que os brasileiros não estão perdidos, apesar do golpe. “Quem tem a verdade nunca está perdido”, afirmou. “O jornalismo não acabou, hoje quem tem um celular pode ser seu próprio Roberto Marinho.”

Ele disse não ter dúvida de que veículos impressos e televisão estão com os dias contados, diante da ascensão da internet. Ele citou o fenômeno da Mídia Ninja e exemplificou com o seu próprio trabalho. “A Folha de S. Paulo me convidou para escrever um artigo sobre o golpe, que foi publicado na edição de domingo, que tem trezentos mil exemplares. No mesmo dia eu escaneei o artigo e o publiquei na minha página no Facebook, onde teve cinco milhões e duzentos mil leitores”, contou. (Sua palestra para um auditório de 200 lugares, foi transmitida pela Mídia Ninja e acompanhada por mais de 10 mil pessoas.) “Se não fosse a internet e pela imprensa internacional, que foi despertada pela intenret, o mundo não veria que o que está acontecendo no Brasil hoje é um golpe”, ressaltou.

“O golpe vai ser devastador, mas o senhor Michel Temer vai comer o pão que o diabo amassou”, previu Fernando Morais. “Ou ele vai apertar a garganta do povo e com isso vai tocar fogo no Brasil ou, se não fizer isso, não dura uma semana, porque os mesmos que estão derrubando Dilma o derrubarão também. Da minha parte, assumo o compromisso de me dedicar em tempo integral a infernizar a vida dessa gente. Que Minas Gerais se junte a nós, não por nós, que já estamos velhos, mas por nossos filhos e netos”, finalizou.

(Crédito da foto: Jade Vieira / Vilarejo Comunicação.)

 

8 COMMENTS

  1. Maravilhoso texto! Cada frase, cada palavra, cada ponto, cada vírgula que se desenhavam diante dos meus olhos eram a exata expressão daquilo que penso, daquilo que, como em milhões de brasileiros, me causa angustia e dói na carne. Triste é sentir que estou prestes a testemunhar, mais uma vez, o retrocesso aviltante, da família brasileira!

  2. Acho importante que nós brasileiros que trabalhamos e sustentamos todos esses parlamentares não fiquemos calados, todos nós que temos um celular na mão, acabamos tendo um microfone e uma câmera, ou seja, somos um repórter e temos que usar isso a nosso favor. Não é possível que 100% dos deputados sejam desonestos, eu clamo aos deputados honestos que briguem com unhas e dentes por nós. Disponibilize na internet abaixo assinado para respaudar suas ações. O povo com certeza lhe darão apoio.

  3. Com certeza, Fernando, eu tambem irei postar comentários criticos denunciando esse governo esse governo golpista até q ele seja deposto! Não vai ter golpe, vai ter luta , muita luta!

  4. Concordo plenamente com o autor de A Ilha. Vivemos um momento singular de nossos pouco mais de 500 anos. Somos uma nação nova e com uma vasta experiência de derrubadas de governos sempre pela mesma categoria social. Nossa cultura escravocrata está com as vísceras expostas com o Golpe em andamento. Não conseguem compreender que o Brasil não é só a “fascinante” avenida paulista. É nojento ver o Skaf ditar normas para o Temer. O mercado quer pautar o governo, e governo que não se rende cai. Varios senadores e deputados (inclusive os dois presidentes) são acusados de negociar Medidas Provisórias. Mas isso jamis será julgado pelo STF (Submisso Tribunal Fedral).

  5. Também estou dentro da luta! Não podem mais nos impedir o que nos pertence! Vamos também ficar atentos sobre a tentativa do Moro da CIA tentar prender o Lula. O processo dos procuradores de SP sobre pedido de prisão preventiva a Lula foi entregue ao carrasco, antinacionalista e entreguista Moro e seus asseclas alienados!

  6. Se tem uma coisa que Temer e Cunha conseguiram fazer de positivo foi mostrar que o Brasil sempre esteve dividido. Toda essa divergência, ou antagonismo estavam adormecidos. Como se fosse uma “paz dos cemitérios”. A trégua da luta de classes, antes levada à efeito pelo PT, chegou ao fim. Esse é o elemento positivo desses dois senhores. Fizeram com que nos defrontássemos com a terrível realidade brasileira. País de plutocratas, senhores autoritários, Justiça venal e mídia comprometida com a elite (ela é a própria elite, na verdade). Os senhores da casa-grande mostraram as suas armas. Chega de concessão!! disseram eles. E o setor popular percebeu isso e se insurgiu. Ainda vagarosamente, ainda nos seus primeiros passos. Mas é uma marcha firme. Nada mais pedagógico que o enfrentamento real entre propostas da esquerda e da direita. Agora a máscara caiu. A realidade está exposta. A senzala tem o mundo a ganhar e a única coisa que pode perder são os grilhões a que esteve acorrentada até o momento.

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