A Rádio 98 FM assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) se comprometendo, sob pena de pagamento de multa, a não expor qualquer trabalhador a situação de discriminação moral, sexual, de gênero e também, inclusive, em função da atuação sindical e associativa.
O TAC foi firmado depois da abertura de um inquérito que apurava denúncias feitas pela Organização Não Governamental Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC), envolvendo o caso de uma jornalista, cujas iniciais são N.S, que sofreu assédio moral dentro da emissora onde trabalhou por sete anos. N.S. moveu uma ação contra a emissora, que acabou fazendo um acordo dentro do processo.A Rádio 98 FM também se comprometeu perante a entidade a zelar para que as relações entre os seus trabalhadores respeitem os princípios de boa convivência.
Para Rafaela Lima, jornalista e presidenta da AIC, o caso denunciado pela entidade foi de extrema gravidade, pois a jornalista sofreu violências sistemáticas de caráter machista e misógino. “Ela foi tratada de forma abusiva todo o tempo, sendo ofendida, ridicularizada e humilhada inúmeras vezes enquanto o programa em que atuava estava no ar. Teve sua honra, dignidade e reputação duramente afetadas. E o motivo de todos os abusos era só um: “zoar” com uma mulher, fazer piada com a pretensa condição inferior dessa mulher; proferir ofensas absurdas sob o pretexto da ‘zoação’ “. afirma a presidenta.
Segundo Rafaela, os anos de abusos na emissora afetaram de forma profunda a saúde mental e comprometeram a carreira profissional da vítima, que teve sua imagem pública muito danificada. “Práticas covardes como essa, infelizmente, são comuns em emissoras que têm espalhado preconceitos, ódio e mentiras e que, lamentavelmente, têm ouvintes fiéis, que se reconhecem nesses discursos tão danosos à sociedade. Por isso, consideramos que o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da 98 FM com o Ministério Público, ao definir regras básicas de respeito às pessoas a serem seguidas pela emissora, é um avanço, pois muitas vezes as denúncias não levam a nenhum lugar”, afirma Rafaela.
A presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alessandra Mello, que acompanhou o caso da jornalista N.S., também comemorou o TAC que pode ser pedagógico para coibir práticas de assédio, infelizmente ainda comuns nas redações, muito mais do que as pessoas imaginam. A jornalista até hoje, afirma a presidenta Alessandra Mello, enfrenta barreiras para se recolocar no mercado, já que quem denuncia práticas como essa muitas vezes perde o emprego e muitas vezes não é mais contratado.
“O assédio moral abala demais o trabalhador. Em todos os casos acompanhados pelo sindicato, a vítima chega em frangalhos, com o emocional e a auto estima totalmente comprometidos. Muitos se licenciam por motivos de saúde ou pedem demissão. A pessoa vai tentando segurar a onda, com medo de denunciar, aí adoece”, afirma.
A presidenta cobra das empresas a necessidade de instituir canais de denúncias dentro das empresas para coibir e apurar essa prática.
Procurada pela reportagem, a emissora afirmou, por meio de nota enviada por seu diretor executivo, Rodrigo Carneiro, que a “ Rede 98 sempre se posicionou aberta e aderente a atitudes positivas e que favoreçam a construção de um mundo melhor. “Para que esse propósito também estivesse expresso internamente, desde 2021, fazem parte do nosso dia a dia campanhas e palestras para os colaboradores e parceiros que reforçam o compromisso do grupo com a manutenção de um ambiente plural, diverso e inclusivo, onde o respeito e o cuidado com as pessoas são a base de todas as ações. Entre as medidas, estão também a implementação de uma ouvidoria, que atua de forma passiva e ativa, focada em responder de forma rápida e efetiva quaisquer manifestações ou questões de ordem pessoal ou profissional na empresa. Todo esse esforço corrobora com o TAC assinado de forma voluntária com o Ministério Público do Trabalho e representa a nossa crença no aperfeiçoamento e busca constante por uma sociedade mais justa e honesta”.
SE VOCÊ FOR VÍTIMA DE ASSÉDIO, PROCURE O SJPMG. A DENÚNCIA NÃO PODE SER ANÔNIMA, MAS O SIGILO É GARANTIDO
(31) 982394231