Jornal Marco, da PUC Minas, chega a quase meio século de circulação

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Foram muitos – alguns milhares – os professores e alunos que nele deixaram sua marca. Esta soma de ensinamento com aprendizado contínuo deu ao jornal laboratório Marco, do curso de Jornalismo da PUC Minas, um honroso título: o de ser um dos cinco jornais laboratório de circulação ininterrupta mais antigos do país. O jornal começou a circular no dia 5 de dezembro de 1972, apenas dois anos após a fundação do curso de Jornalismo da PUC, e não parou mais. Na pandemia, circulou apenas em versão digital. E já se prepara para retornar com a versão impressa.

O Marco já teve diferentes formatos e projetos gráficos. Começou como tabloide em preto e branco; passou a standard e depois em cores, até se assumir como tabloide, novamente, nos últimos anos. Quanto ao conteúdo, foi, ao longo desse tempo, basicamente um jornal voltado para os bairros localizados ao lado do campus da universidade no Coração Eucarístico.

Na pandemia, circulou apenas em versão digital, o Marquinho – o nome foi dado por ser a publicação uma espécie de filho do jornal Marco. A primeira edição digital circulou em agosto de 2020. O Marquinho tem periodicidade quinzenal e é divulgado para a comunidade através de WhatsApp e e-mail. O número de páginas varia de acordo com o número de temas a serem abordados.

Na redação, alunos e professores avaliam edição do Marco, ainda fase impressa Foto: Acervo FCA

Longevidade

Uma parte da história do jornal está registrada no livro Jornal laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público-leitor, de Dirceu Fernandes Lopes (Summus Editorial). Para investigar sua longevidade, o próprio Marco produziu reportagem sobre o assunto, publicada na edição 334, de dezembro de 2017.

De acordo com a reportagem, da monitora Larissa Duarte, o primeiro jornal laboratório do país foi A Imprensa, da Faculdade Cásper Líbero, fundado em 1949, mas já com sua circulação interrompida. O segundo foi Campus, da Universidade Nacional de Brasília (UnB), de 1970. Na sequência, vieram o Marco (1972), da PUC Minas; o Esquina, do Centro Universitário de Brasília (1975); o Rudge Ramos Jornal, do Instituto Metodista de Ensino Superior (1980); e o Jornal do Campus, da Escola de Comunicação e Artes da USP (1984).

Para Viviane Maia, chefe do Departamento de Comunicação Social da PUC e coordenadora do curso de Jornalismo, a longevidade do Marco se explica, entre outras razões, pelo fato de o jornal ser feito com muita ética e crítica e abordar temas que, muitas vezes, não apareciam ou não aparecem na grande mídia. O Marco é um projeto vitorioso e de sucesso. Desejo vida longa para o jornal”, afirmou Viviane Maia.

Ana Maria Oliveira, professora do curso de Jornalismo da PUC Minas e atual editora do Marco, elenca alguns fatores que explicam longevidade da publicação: o empenho e o interesse dos alunos em praticar jornalismo, o incentivo de seus familiares, o profissionalismo de editores e subeditores, a existência de um diálogo respeitoso com o mercado de trabalho, a conquista de prêmios de reportagem e a cobertura de temas inovadores. Entre os prêmios que o jornal conquistou estão três Délio Rocha, do Sindicato dos Jornalistas de Minas, dos anos de 2009, 2016 e 2019.

Ana Maria aponta a cobertura de temas inovadores como fator de longevidade Crédito: Acervo pessoal

Relação com a comunidade

O jornal nasceu e se consolidou com dois objetivos. O primeiro era o de ser um projeto de extensão da universidade para os bairros localizados no seu entorno. O segundo é o de ser o jornal laboratório dos alunos de jornalismo. Nas primeiras edições, houve manchetes como “Dom Cabral sem policiamento”. Na edição 73, de abril de 1985, o jornal estampava “A Vila lutou muito por essa passarela”, referindo-se ao início da construção de passarela sobre a BR-262, que ligou os dois trechos da Vila 31 de Março.

Nesses anos de luta, o Marco tornou-se um porta-voz da comunidade. De acordo com o professor José Milton Santos, que dirigiu o Departamento de Comunicação Social da PUC Minas em dois períodos (1978/1980 e 1984/1986), 0 Marco, além de ser um jornal experimental, era um canal de expressão dos moradores numa época em que as informações não circulavam livremente e a população carente tinha dificuldades para expressar suas reivindicações. Assim, com o apoio do jornal e do padre Pedro de Sousa, os moradores do Dom Cabral reativaram o Conselho e, mais tarde, criaram a associação de moradores do bairro.

Palavra dos editores

Ao longo de seus 49 anos de circulação ininterrupta, quatro dezenas de profissionais de jornalismo passaram pela coordenação do jornal, como editores, subeditores, coordenadores de fotografia e programadores gráficos. O que mais tempo ficou à frente do projeto, como subeditor e depois editor, foi o jornalista Fernando Lacerda, entre 1995 e 2014.

Fernando Lacerda afirma ter vivido no Marco alguns dos momentos mais importantes de sua extensa carreira jornalística. E considera gratificante ter contribuído para a formação profissional de um sem-número de profissionais. “Ajudar na formação de futuros profissionais, muitos deles se destacando com força no jornalismo brasileiro e até internacional, foi fundamental para manter o brilho nos olhos de um experiente jornalista, que, de repente, tinha virado professor”, afirmou Lacerda.

Outro veterano no jornal foi José Maria de Morais, que esteve à frente do planejamento gráfico do Marco entre 1983 e 2019. “Foi uma experiência ímpar na minha vida como profissional de design e, principalmente, como professor. Uma experiência maravilhosa em que tive a oportunidade de ensinar a milhares de alunos a arte de fazer arte gráfica para um jornal impresso”. Ele também afirma ter orgulho de, a partir da redação do Marco, ter podido contribuir para colocar no mercado muitos profissionais de alto quilate”, afirmou Morais, que considera o design gráfico peça chave para o sucesso de qualquer publicação jornalística. “Ele potencializa o discurso jornalístico, organiza os conteúdos, atrai a atenção e ajuda na construção do sentido na relação entre a comunicação verbal e não-verbal”, afirma José Maria de Morais.

Alunos consideram o jornal um importante veículo de formação profissional Foto: Acervo FCA

Formação profissional

Os alunos reforçam o papel do Marco como instrumento de formação profissional. “É através do contato com a apuração, junto com o direcionamento dos professores, que começamos a colocar em prática todo o estudo desenvolvido em sala de aula”, afirma Sheila Lemes, aluna da unidade Coração Eucarístico. Para ela, poder propor pautas e produzir matérias desafiadoras tem sido muito importante. “Me sinto grata por participar desse time”, afirmou Sheila. Para Yagho Nikollas, também aluno do Coração Eucarístico, o jornal foi importante porque permitiu a ele vislumbrar e entender todas as etapas de seu futuro desenvolvimento enquanto profissional.

Isabela Lana, aluna de jornalismo do campus São Gabriel, afirma que o ganho mais importante que teve com o jornal foi o apoio para produzir matérias desafiadoras. “Isso contribuiu muito na construção da minha autoconfiança como profissional em formação. Considero que fui lapidada a cada produção e agora me sinto mais segura para traçar novos caminhos”, afirma Isabela. É o que também destaca Anna Bracarense, aluna do São Gabriel. “Eu aprendi a cobrir pautas com as quais eu não imaginava ter afinidade e que foram um verdadeiro desafio”, afirma Anna.

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