Matéria republicada em homenagem ao jornalista Paulo Henrique Amorim, falecido nesta terça-feira 9/7/19. Em 2015, PHA fez palestra na Casa do Jornalista e lançou seu livro “O Quarto Poder”.
A democratização da comunicação, prevista na Constituição de 1988, não aconteceu porque os governos não tiveram vontade política. Considerada o quarto poder, a imprensa, no Brasil, é na verdade o primeiro poder, que põe e depõe presidentes. No entanto, é um poder em decadência, graças às novas tecnologias e à internet. Essas ideias foram desenvolvidas pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em debate nesta terça-feira 20/10, na Casa do Jornalista, onde lançou seu livro O Quarto Poder – Uma outra história.
O presidente Kerison Lopes agradeceu a presença de Paulo Henrique Amorim e explicou que a opção feita por ele de lançar o livro na Casa do Jornalista era “um ato político em defesa de democratização da comunicação”. Lembrando que era a segunda vez em que participava de um encontro na sede do Sindicato, a qual chamou de “minha casa”, Paulo Henrique Amorim manifestou sua solidariedade aos jornalistas mineiros. “Em poucos lugares os jornalistas foram submetidos a um regime de exceção como os jornalistas mineiros durante o governo Aécio Neves”, ressaltou.
Paulo Henrique Amorim explicou que o seu livro é um livro sobre os bastidores do poder que ele, como jornalista, acompanhou, ao longo de 50 anos. “É o meu testemunho de repórter, do que vi acontecer e fui anotando em caderninhos”, contou. Ele explicou que teve de escrever um outro livro dentro do primeiro para contextualizar os episódios que narrou.
Paulo Henrique Amorim contou alguns desses episódios, todos eles envolvendo presidentes, ministros e outras autoridades, e tendo como protagonista a mídia, em especial as organizações Globo – cujo presidente, Roberto Marinho, sempre chamou de O Globo, por considerar o jornal mais importante que a televisão. Na avaliação de Paulo Henrique Amorim, Roberto Marinho, se pudesse, teria parado o tempo no governo Sarney, período em que teve mais poder no país. Esse poder persistiu nos governos seguintes e dura até hoje. “Os governos têm medo da Globo”, disse o jornalista.
Entre os episódios narrados no livro estão a transição do último governo militar para o primeiro governo civil, nos anos 80, na qual a Globo teve papel de destaque, tendo como representante o falecido político baiano Antônio Carlos Magalhães. Paulo Henrique Amorim lembrou que ACM rompeu com o governo numa longa entrevista ao Jornal Nacional. “ACM era uma pessoa de confiança de Roberto Marinho”, observou.
Exemplificando o poder da poder da Globo durante o governo Sarney, Paulo Henrique Amorim contou que o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega foi “sabatinado por Roberto Marinho na sede da Globo” antes de ser escolhido e soube da sua nomeação pelo ex-presidente Sarney assistindo ao Jornal Nacional. O jornalista testemunhou ainda o ex-presidente Collor afirmar: “Não vou comer pela mão de Roberto Marinho como o Sarney”.
Segundo Paulo Henrique Amorim, Roberto Marinho “chegou atrasado” no apoio ao ex-presidente Collor, pois tinha outros candidatos preferenciais, Afif e Covas. Embora tenha criado a imagem do “caçador de marajás” e manipulado a eleição de 1989, levando-a para o segundo turno, com a edição do debate entre os candidatos, no Jornal Nacional, “Roberto Marinho temia Collor, que pretendia montar uma outra rede de televisão” para apoiá-lo.
Outro episódio narrado por Paulo Henrique Amorim foi uma conversa com o falecido jornalista Armando Nogueira, quando este era responsável pelo jornalismo da Globo. Segundo Amorim, Nogueira contou-lhe ter recebido três orientações de Roberto Marinho. “A segunda foi: ‘Não quero preto nem desdentado no Jornal Nacional’. A terceira foi: ‘Se uma criança se jogar nos trilhos de um trem e Brizola se jogar para salvá-la e morrer, ainda assim você tem que me consultar para saber se pode dar no Jornal Nacional ou não’”.
A primeira orientação que Roberto Marinho teria passado a Armando Nogueira é a mais importante, segundo Paulo Henrique Amorim: “O Globo não tem a importância que tem pelo que publica, mas pelo que não publica”. Amorim ressaltou que esta é “a força da interdição, que os irmãos Aécio e Andrea Neves conhecem bem” e fizeram valer em Minas durante doze anos.
(Crédito da foto: Samuel Gê.)
[20/10/15 — 10/7/19]