Na manhã chuvosa de sexta-feira 30/10, jornalistas e dirigentes sindicais manifestaram-se em frente à Editora Abril, na Marginal Tietê, em São Paulo, contra a cassação da liberação sindical sem prejuízo dos vencimentos e benefícios do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Paulo Zocchi. O ato foi realizado na data em que Zocchi teve de se apresentar para retorno ao trabalho.
O acordo firmado entre o SJSP, a Editora Abril e Zocchi, em 2015, reconhecia que o exercício do mandato sindical é incompatível com a manutenção das atividades profissionais e, por isso, concedia a liberação sindical sem prejuízo dos vencimentos. O sindicato é de âmbito estadual e o presidente da entidade tem extensa atuação diária em defesa dos direitos da categoria. A Editora Abril, no entanto, convocou o presidente do SJSP a retornar ao trabalho, encerrando cinco anos de liberação sindical.
Na prática, a atual cassação da liberação sindical do presidente do SJSP ataca frontalmente os jornalistas, que devem sofrer consequências. Iniciaram-se as campanhas salariais dos segmentos de jornais e revistas do interior e litoral e de rádio e televisão. A do segmento de jornais e revistas da capital se iniciará nas próximas semanas. Se estiver cumprindo sua jornada de trabalho, como exige a Abril, teremos de fazer as negociações sem a participação do presidente da entidade! Além disso, as assembleias e reuniões de discussão com a categoria serão seriamente prejudicadas por essa medida.
Desde que se iniciou a pandemia do novo coronavírus, o Sindicato tem cobrado a adoção de medidas, pelas empresas jornalísticas, para garantir condições seguras de trabalho aos jornalistas. Firmou também acordos coletivos mais vantajosos à categoria do que o previsto pelas medidas governamentais que previam redução de jornada e salário.
As discussões e os encaminhamentos a respeito tiveram participação intensa do presidente do Sindicato, o que só pôde ocorrer plenamente por causa da liberação sindical.
Retaliação da Abril
Durante o ato, dirigentes sindicais e jornalistas ressaltaram que a medida é antissindical e um ataque à organização da categoria, como forma de retaliação da Abril em razão da ação firme do Sindicato em defesa dos jornalistas.
O secretário de Finanças e Administração do SJSP, Cláudio Soares, destacou: “Este protesto é em relação à atitude da Abril que alega dificuldades financeiras, mas está fazendo com que o Sindicato tenha sua capacidade de atuação diminuída”.
Já o diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Batista Gomes, ressaltou que a atitude da Abril é inadmissível. “Tirar o presidente de suas atividades desempenhadas no Sindicato é, na verdade, tentar cortar as pernas do Sindicato na luta em defesa dos jornalistas”.
Em nome da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Márcio Garoni fez coro com os demais dirigentes sindicais: “Trazendo o histórico de luta dos trabalhadores da Abril e de como o Sindicato agiu, não há dúvidas de que é uma tentativa de enfraquecer a luta dos trabalhadores. Especialmente diante do que a Abril tem feito contra os trabalhadores em um cenário de avanço do bolsonarismo, que ataca as liberdades democráticas, os direitos dos trabalhadores, a imprensa e a liberdade de expressão.”
O ex-presidente do SJSP, Fred Ghedini, reiterou que, neste momento, os jornalistas não podem se calar. “Os jornalistas não deixarão passar esse tipo de atitude e estão aqui para resistir e manifestar-se contra essa atitude antissindical e antidemocrática, contra a liberdade de imprensa, pois o Sindicato dos Jornalistas é uma das principais entidades de jornalistas do Brasil e é uma entidade importante na luta pela democracia nesse país.” Ghedini destacou ainda que ele e mais cinco ex-presidentes do Sindicato enviaram uma carta conjunta à Editora Abril reiterando a importância e a necessidade em manter a liberação sindical do presidente da entidade.
A jornalista Cláudia Tavares, diretora do SJSP, questionou: “A quem interessa cassar a liberação remunerada do presidente do Sindicato dos Jornalistas? Qual a extensão dessa medida nesse contexto em que os jornalistas e o jornalismo estão sendo atacados diariamente? A presença do Paulo Zocchi é fundamental em todas as negociações. O que a Abril quer: que os jornalistas negociem individualmente as suas condições de trabalho sem uma negociação coletiva? Não, os jornalistas não querem isso!”
Outros dirigentes sindicais estiveram no ato representando as seguintes entidades: Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam), Sindicato dos Médicos de São Paulo e Sindicato dos Gráficos de Jundiaí.
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(Publicado pela Fenaj.)
[4/11/20]