Comissão Nacional de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas exige da Rede Globo e de suas afiliadas a apuração de casos de assédio.
A Comissão Nacional de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) solidariza-se com a jornalista Ellen Ferreira em virtude dos relatos de assédio vivenciado por ela e por seus colegas na Rede Amazônica, afiliada da Rede Globo em Roraima, praticado pelo então gerente de Jornalismo, Edison Castro.
Em entrevista ao Metrópoles, Ellen deu detalhes das práticas de Edison, as quais compuseram um dossiê com denúncias enviado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima (Sinjoper), assim como do e-mail enviado ao diretor de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, no qual expunha o que acontecia na praça de Roraima. Os relatos vão desde assédios moral e sexual, a racismo, injúria racial, LGBTIfobia e gordofobia.
Segundo o Sindjoper, na ocasião, para não expor as vítimas, a entidade, junto à direção da empresa e ao Ministério Público do Trabalho, mediou a situação, a qual culminou na demissão de Edison Castro por justa causa.
Causa-nos estranheza, ainda, o fato de Ellen Ferreira ter sido demitida na última quinta-feira 24/7, meses após fazer a denúncia contra o então gerente de Jornalismo da Rede Amazônica. A apresentadora foi dispensada no dia em que retornou ao trabalho recuperada da covid-19. Ou seja, além de passar por um processo de assédio, de adoecimento e da perda de familiares, a profissional foi descartada em meio à maior crise sanitária deste século.
O Sinjoper informou que ao tomar conhecimento da demissão da jornalista, encaminhou correspondência à direção da Rede Amazônica em Roraima e aguarda manifestação.
Ressalte-se que esta Comissão também recebeu relatos do Sindicato de Jornalistas do Estado do Tocantins (Sinjor-TO) sobre conduta semelhante à relatada por Ellen, referente ao período em que Edison trabalhou na afiliada da Rede Globo local, a TV Anhanguera.
A época, a direção da TV Anhanguera informou que ele foi dispensado sem justa causa, mas o Sindicato daquele estado foi informado que vários profissionais relataram ao RH da empresa as situações vivenciadas na redação e solicitaram providências.
A prática de assédios moral e sexual é atualmente uma triste realidade que acontece em quase todos os locais de trabalho, colocando em risco a saúde física e emocional dos jornalistas. É uma rotina a ser enfrentada pelos profissionais de imprensa, com o suporte dos sindicatos da categoria.
Dados divulgados pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) em 2017 apontam que uma em cada duas jornalistas sofre violência de gênero no trabalho, sendo que mais de 66% não apresentam denúncia formal sobre os casos, e das que denunciaram, 84,8% não consideram que foram tomadas medidas adequadas em todos os casos contra os infratores.
Além de solidarizar-se com as e os jornalistas que sofrem assédio em seus ambientes de trabalho, esta Comissão repudia veementemente qualquer forma de violência de gênero, assim como as tentativas de naturalizar as agressões contra as mulheres. Lembramos que é dever do jornalista denunciar as práticas de assédio moral no trabalho às autoridades e, quando for o caso, à comissão de ética competente.
Por fim, esta Comissão exige da Rede Globo e de suas afiliadas a apuração dos casos de assédio, bem como a adoção de medidas prevenção e suporte psicológico às vítimas. Garantir que o profissional tenha um ambiente de trabalho saudável e seguro é obrigação dos empregadores. A prática do Jornalismo exige, ainda, o respeito à diversidade e à pluralidade como valor universal, não cabendo, dentro das empresas jornalísticas, pessoas que praticam assédio e preconceito.
Brasília, 25 de julho de 2020
Comissão Nacional de Mulheres da Fenaj
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima (Sinjoper)
Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado Tocantins (Sinjor-TO)
[27/7/20]