Por Carlos Barroso*
“sim, meu país é a guerra:
luz que já não ilumina;
presente que não espera
a hora que tudo termina”
(Trecho do poema de Marcelo Dolabela, “Sim, meu país é a guerra.”)
Morreu o maior nome da atual poesia de Minas e certamente do Brasil, Marcelo Dolabela.
Ele publicou mais de 40 livros de poesia e música (dentre entre os antológicos Radicais, ABZ do Rock e Lorem Ipsus).
Também artista contemporâneo, participou de várias mostras, como Coletiv4, entre outras.
A poesia acompanhou Dolabela por toda uma vida, desde a geração mimeógrafo, também chamada marginal, e a fundação da revista Cemflores (1977/1978), que se opunha de forma veemente e poética à ditadura militar.
Cemflores Pirata e Cemflores Greve eram distribuídos em manifestações populares e de trabalhadores.
Desde então, Dolabela, foi protagonista e ativista da produção cultural e artística em Belo Horizonte. Fundou as bandas de rock-punk Divergência Socialista e Sexo Explícito. E outras revistas de poesia, como Alegria Blues Band e Dez Faces.
Influenciou toda uma geração de poetas e músicos.
Toda essa efervescência sempre foi marcada pelo apuro e busca da renovação na poesia.
Pesquisador da poesia, música e demais manifestações culturais, deixa impressionante acervo, incluindo centenas de discos de vinil, com trabalhos importantes em todas essas áreas.
Dolabela organizou tamanho material, que foi necessário montar um escritório no Edifício Maletta só para esse fim e também ocupar parte de sua casa.
Portanto, além da poesia e da música, a cultura perde batalhador e pesquisador incansável.
Não é por coincidência que Marcelo Dolabela veio a sofrer um AVC no Maletta, em uma mesma mesa (como na música), onde se reunia com poetas e músicos – arte e amizade.
E isso aconteceu durante a última campanha eleitoral, que elegeu o governo protofacista Bolsonaro. Essa dor, ao lado da poesia, o acompanhou durante mais de um ano, até a morte.
*Jornalista e poeta.
PS: Marcelo Dolabela foi velado na Casa do Jornalista no sábado 18/1.
[21/1/20]