O repórter fotográfico Denilton Dias, baleado pela PM durante o protesto contra o aumento nas passagens de ônibus, nesta quarta-feira 12/8/15, em Belo Horizonte, foi provavelmente o primeiro entre os vários feridos pela violência policial. Ele foi atingido à queima-roupa, a cerca de três metros, embora, tanto ele quanto sua colega Bárbara Ferreira, do jornal O Tempo, usassem crachá e tivessem se identificado como jornalistas em trabalho. “A sensação que eu tenho é que queriam me tirar dali”, disse o fotógrafo.
Denilton Dias não é novato em cobertura de manifestações. Aos 46 anos, desde maio de 2013 trabalhando em O Tempo, ele cobriu diversos protestos que ocorreram no período, inclusive os primeiros e de maior repercussão, em junho de 2013. Essa experiência o fez perceber que havia alguma coisa estranha no comportamento da PM ao fazer uma barreira na Avenida Afonso Pena. Ele notou que os policiais portavam armas que ele não conhecia e achou o bloqueio desnecessário.
“Os manifestantes estavam tranquilos, havia até crianças na frente, e provavelmente a manifestação ia acabar como outras, na porta da Prefeitura, com os manifestantes queimando catraca”, lembrou o repórter fotográfico. “Não imaginava que ia tomar a proporção que tomou.”
Impedidos de seguir pela Afonso Pena, os manifestantes subiram a Rua da Bahia, mas na esquina com a Avenida Augusto de Lima encontraram nova barreira formada pela PM. Já passava das 19h. Foi quando Denilton sentiu que alguma coisa grave estava para acontecer. Líderes da manifestação negociavam com o comandante do policiamento o prosseguimento da passeata, mas não tinham sucesso.
“Eu chamei a Bárbara e disse ‘vamos passar para o outro lado da barreira’”, narrou Denilton. Os policiais não deixaram. “Eles fecharam a passagem e disseram ‘ninguém passa’. Argumentamos que éramos jornalistas, que estávamos trabalhando, mas repetiram ‘ninguém passa’.”
O fotógrafo não usava os equipamentos de segurança indicados pelo Sindicato para trabalho em protestos, mas, pela forma como foi atingido, eles provavelmente de nada valeriam. “Foi à queima-roupa”, contou Denilton. “Eu estava a dois ou três metros dos policiais e a uns cinquenta dos manifestantes. Não estava ‘no meio da confusão’ e não podia ser confundido com manifestantes”, explicou. “Não havia ninguém entre mim e os policiais.”
O fotógrafo contou que de repente ouviu barulho, olhou para o céu, viu bombas voando e, quando a primeira bomba explodiu, sentiu sua perna atingida por um disparo. “Senti minha perna queimando e vi uma labareda de uns vinte centímetros na minha calça”, contou. Só então o deixaram passar. Arrastando-se, Denilton conseguiu chegar a um prédio na Avenida Augusto de Lima, onde pôde tirar a calça e constatar os ferimentos, no meio da coxa. De lá, ligou para o jornal, que enviou carro com motorista para conduzi-lo até o Hospital João XXIII, onde foi socorrido.
No dia seguinte, Denilton tomou a vacina antitetânica recomendada; os ferimentos – um deles mais leve e outro mais forte – continuavam roxos e o local, muito inchado. Da violência sofrida enquanto exercia sua profissão, ele guarda a impressão de que o comportamento da PM neste 12 de agosto foi diferente do que teve em outras manifestações. “Se houve pedradas, eu não vi”, conta. “A sensação que eu tenho é que levei o primeiro tiro, que queriam me tirar dali para que eu não fotografasse o que estava acontecendo.”
enquanto a midia apoiar a truculência da policia, jornalistas continuaram a ser vitimas.