As barreiras das mulheres no jornalismo esportivo

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Por Olga Bagatini

Pela dificuldade de encontrar dados recentes, não é possível precisar qual a proporção entre jornalistas homens e mulheres que atuam na área de esportes no Brasil, tampouco quantos ocupam cargos de chefia nessas editorias. Mas uma pesquisa do Monitoramento Global de Mídia, que avaliou 18 mil notícias esportivas publicadas em 23 países em 2011, mostra que apenas 11% desse conteúdo foi escrito por mulheres. Em 2016, a Gênero e Número avaliou colunas esportivas dos dez jornais de maior circulação dos estados brasileiros e dos líderes de audiência e mostrou que menos de 10% dessas colunas são assinadas por elas.

Nos programas esportivos da TV fechada, 13% das profissionais são mulheres e quase todas estão na reportagem, segundo levantamento feito pelo UOL Esporte. São comuns as “mesas redondas” compostas majoritariamente por homens, mas que têm como apresentadoras mulheres consideradas padrão de beleza e vestidas em trajes curtos. Elas não participam efetivamente do debate esportivo: estão ali como enfeites do cenário. Além de excluir as jornalistas, que ficam como “café com leite”, essa prática também reforça estereótipos de que mulheres não entendem de esporte e são meros corpos para apreciação masculina.

A ausência de jornalistas mulheres em cargos de chefia no esporte também prejudica o combate à desigualdade da área. Primeiro, porque sem mulheres como figuras de referência nas redações, muitas pautas sobre atletas, modalidades femininas e até mesmo sobre igualdade de gênero acabam sendo barradas por editores. Segundo, porque há casos em que as mulheres são tiradas de pautas consideradas “perigosas” pelos chefes, que em geral são homens, o que prejudica o desenvolvimento profissional dessas jornalistas, e mina, em comparação com colegas homens, suas chances de se destacarem, serem promovidas e enviadas para grandes coberturas.

A falta de oportunidades quase fez a jornalista Gabriela Charatuba desistir da carreira. Em 2011, ela conseguiu um estágio em uma das maiores redações esportivas do Brasil, mas começou a perceber que só era encarregada de tarefas “fáceis e burocráticas”, enquanto os outros repórteres – todos homens – faziam o trabalho mais desafiador, como ir aos estádios e escrever as crônicas das partidas. “Eu achava que isso acontecia porque eu era mais nova, mas depois fui percebendo que era questão de gênero, ligada à herança patriarcal que estava na cabeça deles. Hoje vejo que existiu preconceito”, explica.

Gabriela conta que viveu casos de clara desconfiança em relação ao seu trabalho. Certa vez, ela conseguiu um furo que ganhou destaque no jornal. A apuração foi dela, mas a tarefa de escrever o texto foi designada a um repórter homem. Acabaram assinando a matéria juntos. Por que não deram a ela o direito de escrever a matéria com as informações que havia conseguido, sob a orientação de um editor? “Não me davam oportunidade de fazer o que os homens faziam. Era nítida essa diferença”, diz a jornalista, que também se queixa de não ter recebido chances como repórter fixa, apesar dos vários convites para freelas.

“Sabendo do meu conhecimento, me chamavam para vários trabalhos esporádicos, mas nunca me cogitaram para uma vaga. Surgiram oportunidades e sempre optaram por homens, até menos experientes e que não conheciam tanto a dinâmica da redação como eu, que estava lá há anos”, diz.

A diferença no tratamento deixou Gabriela frustrada com o jornalismo esportivo. Ela se mudou para o Uruguai, onde passou alguns meses e também sofreu com a resistência que as mulheres habitualmente encontram para entrar nesse meio. Agora, de volta ao Brasil, a repórter segue em busca de espaço na mídia esportiva.

Além dessas dificuldades, jornalistas relatam que, por serem mulheres, são pressionadas a provarem seu conhecimento sobre esporte o tempo todo, e que qualquer deslize é muito mais criticado do que uma falha cometida por um homem. A repórter Monique Danello, do Esporte Interativo, resumiu: “A gente fala de preconceito e ofensas nas redes sociais, mas isso acontece entre colegas, sente isso de um colega para a gente. As mulheres estão sempre sendo colocadas à prova”, disse, em entrevista ao UOL Esporte.

A melhor maneira dos veículos, programas e emissoras lutarem contra essas disparidades é dar mais oportunidades às mulheres que querem cobrir esporte, incentivando aquelas que querem seguir no ramo esportivo. Mas é preciso abrir espaço para que elas produzam conteúdo de qualidade e relevância jornalística, e não para que estejam ali apenas como objetos de decoração, excluídas do debate.

Novos cenários, velhos preconceitos

Aos poucos, porém, as portas começam a se abrir. Em 2018, os canais Fox Sports e Esporte Interativo tiveram a iniciativa de buscar talentos femininos da narração esportiva, ramo em que a presença de mulheres é ainda mais incomum. Contudo, as propostas iniciais das emissoras geraram duras críticas.

A produtora BluemoonKM anunciou no Facebook o processo de seleção para o programa da Fox Sports. Um detalhe chamou atenção: a agência pedia, como pré-requisito para a inscrição, “fotos de corpo inteiro” das candidatas, dando a entender que os atributos físicos também seriam levados em conta na escolha. A maioria dos narradores esportivos da TV não se encaixa no padrão de beleza imposto pela sociedade, mas isso não parece ser um problema para os canais, que escolhem seus funcionários com base em talento e habilidade. Apenas as mulheres são submetidas a testes de aparência, o que deixa claro: vistas como corpos para apreciação, elas ainda não são levadas a sério.

Já no Esporte Interativo, a ideia inicial era fazer um reality show para testar os conhecimentos delas sobre futebol. A escolhida narraria apenas um jogo e nem sequer seria contratada. Mais uma vez, uma mulher seria escolhida, mas sem um cargo fixo e sem antes passar por uma situação de provação. Esse modelo de “gincana” é problemático porque expõe mulheres a suposta diversão do público, reforça o estereótipo de que elas não entendem tanto de futebol quanto eles, mostra a desconfiança com as profissionais do meio esportivo e ainda trata aquelas que gostam de futebol como aberrações.

Se a emissora queria contratar uma mulher para narrar jogos, por que não simplesmente contratou uma mulher para narrar jogos? Em 2009, o canal fez uma versão masculina do programa em que os participantes foram avaliados apenas pela narração dos jogos. Nenhum teste de conhecimentos foi aplicado. Afinal, para ser narrador esportivo não é preciso responder a perguntas infantis sobre impedimento nem ter o corpo dentro do padrão de beleza, o que importa é a capacidade de comandar transmissões. Por que o mesmo não vale para as mulheres?

Diante das contestações, as emissoras deram um passo atrás e apresentaram novos projetos, menos desrespeitosos às mulheres, que foram um sucesso. Vencedora do A Narradora Lays, do Esporte Interativo, Vivi Falconi teve a oportunidade de narrar a semifinal da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Bayern de Munique diretamente do Santiago Bernabéu, na Espanha. Ela era a única mulher narrando a partida do estádio, e conta como as participantes tiveram que lidar com o estranhamento.

“Pela internet a gente sofreu bastante, principalmente no começo. O pessoal dizia que não ia se acostumar, que narração não era coisa para mulher. Mas, durante o programa, muita gente viu nosso desenvolvimento e mudou de opinião. É apenas uma questão de costume, de se acostumar com a voz feminina, porque capacidade e conhecimento a gente tem”, diz Vivi.

A radialista Natália Lara também lidou com comentários negativos. Uma das seis finalistas do Narra Quem Sabe, da Fox Sports, ela passou por treinamentos na sede da emissora, que deu às três vencedoras a chance de narrar jogos do Brasil na Copa do Mundo. Durante o programa, Natália conta que leu na internet frases como “lugar de mulher é na cozinha fazendo petiscos enquanto o homem vê futebol”. Porém, o que mais a preocupa não são os comentários machistas ou a discriminação, mas a continuidade das mulheres na narração esportiva.

“Quando saí da Fox, achei que ia chover propostas de emprego. Não foi exatamente o que aconteceu. Acho que a tendência é que o mercado da narração feminina se abra, mas tenho receio se vai ter espaço, se as outras emissoras estarão dispostas a dar essa oportunidade para as mulheres”, avalia Natália.

Assédio, violência e desrespeito

O assédio, o desrespeito, a provação diária, enfim, todo o machismo que as jornalistas esportivas passam, faz com que a sua permanência nessa profissão seja praticamente uma luta diária. Na Copa da Rússia, por exemplo, o assédio contra jornalistas esportivas está marcando negativamente o evento.

Profissionais relatam constrangimentos causados por torcedores e colegas nas ruas e estádios do país, marcado pela intolerância e machismo escancarados. Para efeitos de comparação com o Brasil, a Rússia tem leis que criminalizam a causa LGBT e permite aos maridos bater em mulheres uma vez por ano.

O preconceito causa estranhamento à presença feminina e deixa as mulheres que estão trabalhando na cobertura em situações complicadas. Jornalistas de vários veículos afirmam se sentirem desrespeitadas por colegas nas salas de imprensa e zonas mistas. Já nos arredores dos estádios, o clima de festa leva alguns torcedores a pensar que “vale tudo” para se divertir na Copa. A repórter Júlia Guimarães, do SporTV, que o diga. Ela se preparava para uma entrada ao vivo quando um torcedor russo tentou beijá-la à força. Ela conseguiu se desvencilhar e pediu respeito ao rapaz. “Estou vivendo isso muito aqui na Rússia, desde olhares agressivos até cantadas em russo, que obviamente eu não entendo, mas sinto. E é a segunda vez que acontece algo físico, de um cara tentar me beijar. É horrível. Eu me sinto indefesa, vulnerável. Desta vez eu dei uma resposta, mas é triste, as pessoas não entendem. Eu queria entender por que a pessoa acha que tem direito de fazer isso”, disse a jornalista.

Apesar da euforia causada por uma Copa do Mundo, os torcedores precisam se lembrar que os direitos das mulheres devem ser respeitados em qualquer circunstância. Porém, engana-se quem pensa que foram casos pontuais. Jornalistas esportivas precisam lidar com o machismo diariamente. Não são raros os relatos de assédios por atletas, técnicos, dirigentes, torcedores e, inclusive, pelos próprios colegas de profissão.

Nas redes sociais, a sensação de anonimato deixa os fãs de esporte à vontade para proferir ofensas às repórteres e comentaristas. Um vídeo feito pelo Just Not Sports em 2016, com quase 4,5 milhões de visualizações no YouTube, colocou torcedores homens em frente a duas jornalistas esportivas para lerem os comentários ofensivos que elas recebem diariamente na internet. Os rapazes ficam visivelmente constrangidos ao lerem os xingamentos.

Vídeo do Just Not Sports: https://www.youtube.com/watch?v=9tU-D-m2JY8

Em julho de 2017, a jornalista gaúcha Kelly Costa, da RBS, foi alvo de uma frase grosseira do técnico Guto Ferreira, à época no Internacional. Ao ouvir e se incomodar com a pergunta da jornalista sobre as chances de gol desperdiçadas pela equipe, Guto apelou para a discriminação de gênero para responder a questão gênero. “Desculpe, eu não vou te responder a pergunta porque você é mulher e talvez não tenha jogado (futebol). Mas todo jogador que joga tem dificuldades de ter uma tensão a mais no lance final”, disse o treinador, que momentos depois foi se desculpar com a repórter.

Dez anos antes, em 2007, Émerson Leão, então técnico do Corinthians, se envolveu em polêmica com a jornalista Marília Ruiz. Ela foi ao aeroporto acompanhar o desembarque do time e, ao ver o treinador – que havia dito que não concederia entrevistas no aeroporto – , questionou se ele iria embora de táxi ou com o restante da equipe. “Por que você quer saber? Você é minha mulher, minha amante? Você vai dormir comigo? Quer ir para o motel?”, disse Leão à repórter, que só tentava fazer seu trabalho.

A repórter da ESPN Gabriela Moreira fez um desabafo no Facebook após ser alvo de assédio de torcedores durante a cobertura da final da Copa do Brasil de 2015. “’Você vai ver eu te chupando todinha, sua vagabunda”, foi um dos gritos que ouvi por longos 40 minutos. Gritado por dezenas de torcedores, na frente de pessoas com as quais me relaciono diariamente”, escreveu. Já a belga Hilde Van Malderen reuniu em um livro todas as cantadas que recebeu de jogadores, técnicos, dirigentes e até árbitros do futebol da Bélgica, solteiros e casados, ao longo de sua carreira.

#DeixaElaTrabalhar

Dois episódios recentes de assédio na imprensa esportiva brasileira foram a gota d’água e levaram um grupo de jornalistas a fazer um manifesto pedindo respeito e igualdade no ambiente de trabalho. Em março de 2018, a repórter da Rádio Gaúcha, Renata de Medeiros, foi agredida por um torcedor dentro do estádio Beira-Rio. A jornalista estava trabalhando quando ouviu: “sai daqui, sua puta”. Ela reagiu à ofensa, começou a filmá-lo e pediu que repetisse o que estava dizendo diante da câmera ligada. Foi então que o torcedor tentou dar um soco, que deixou um hematoma no braço da repórter.
Poucos dias depois, a repórter Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, fazia uma passagem ao vivo perto do estádio São Januário, no Rio de Janeiro, quando um torcedor tentou beijá-la na boca, deixando a jornalista visivelmente constrangida.

Os casos levaram um grupo de 52 mulheres que atuam na mídia esportiva a lançar a campanha “Deixa Ela Trabalhar”. O objetivo do movimento foi denunciar e combater o assédio moral e sexual sofrido por elas nos estádios, nas redações e nas ruas, encorajando outras mulheres a romperem o silêncio.

#DeixaElaTrabalhar: https://twitter.com/deixaelatrab/status/977940367982125061

Inspirada em movimentos como Time’s Up e Me Too, a campanha Deixa Ela Trabalhar ganhou as redes sociais, foi amplamente apoiada por profissionais da comunicação, torcedores e até por clubes de futebol. A frase também repercutiu na imprensa internacional e ganhou destaque em veículos como The Guardian e BBC.

“As mulheres estão se unindo muito e fazemos questão de falar sobre o assunto. Isso não pode mais acontecer e não vamos mais deixar acontecer. Desde que lançamos o manifesto, muitas mulheres relataram que passaram por isso e estão se motivando a falar sobre isso. Quanto mais falarmos, mais vão perceber o quanto é absurdo”, avaliou a jornalista Bruna Dealtry.

No mesmo dia em que a campanha foi lançada, a repórter Kelly Matos ouviu xingamentos sexistas de um torcedor durante uma transmissão no estádio Passo D’Areia, no Rio Grande do Sul. A diretoria do São José, mandante da partida, identificou o homem, que foi expulso do estádio.

Embora os casos de assédio moral e sexual, convites e olhares indesejados e xingamentos às mulheres da mídia esportiva sejam inúmeros, dentro e fora do Brasil, eles são apenas um espelho da sociedade. Para combater o machismo, é preciso que as mulheres ocupem cada vez mais espaço no mundo do esporte e usem a sua voz para denunciar as agressões. A presença delas nos estádios e redações deve ser incentivada, consolidada e naturalizada.

Quando o jornalismo esportivo assedia

A ausência de mulheres nas redações e emissoras também é prejudicial à atletas e torcedoras. Por ser um ambiente considerado “descontraído” e dominado por homens, casos de assédio de jornalistas homens podem passar como brincadeira ou piada, mas não são nem devem ser tratados como tal.

No Aberto da Austrália de 2015, a tenista Eugenie Bouchard ouviu um pedido estranho do entrevistador após uma vitória: que desse uma “voltinha” para exibir seu visual. A canadense atendeu o pedido, constrangida, e a atitude do repórter foi considerada machista por muitos fãs do esporte. Para mostrar que o jornalismo esportivo por vezes tem uma cobertura enviesada que diminui as competições e atletas femininas, a campanha Cover the Athlete refez perguntas feitas às mulheres aos atletas homens e mostrou como o enfoque é diferente. E pior: como essa diferença de tratamento é naturalizada.

A reação mais expressiva é a do astro da NBA, Russell Westbrook, que ouviu o pedido para dar uma “voltinha” e ficou revoltado com o jornalista. Outras reações mostram como questões sobre aparência e vida privada, recorrentes nas entrevistas com atletas mulheres, não fazem sentido. Ao nadador Michael Phelps, por exemplo, perguntaram se a remoção dos pelos do corpo ajudava, além do desempenho na piscina, também na vida amorosa. Já para o jogador de futebol americano Golden Tate, se o ganho de peso afetou os relacionamentos. O piloto Kimi Raikkonen foi questionado sobre a aparência de seu cabelo depois de tirar o capacete.

E se fizessem aos atletas homens as perguntas que fazem às atletas mulheres?
http://extratime.uol.com.br/e-se-fizessem-aos-atletas-homens-as-perguntas-que-fazem-as-atletas-mulheres/

As torcedoras também são alvo de assédio e sexismo. Em dezembro de 2017, o jornalista Vagner Martins, da Fox Sports, entrevistou uma torcedora gremista de 15 anos antes da final da Libertadores. Depois de perguntar a idade da garota, o repórter pediu seu telefone, mas disse que era brincadeira e segue a entrevista.

“Não foi um elogio, foi um assédio ao vivo, em um programa esportivo no meio da tarde, com uma menina de 15 anos”, pontua a jornalista Renata Mendonça, das Dibradoras. “Fosse mulher a repórter e um menino o entrevistado, a piada jamais aconteceria – a graça nem iria existir. As pessoas olhariam para TV com cara de interrogação, tentando entender por que a repórter estaria pedindo o whatsapp do entrevistado. E se ela tivesse feito algo assim, na certa levaria uma bronca do editor por não estar levando a sério seu trabalho. Percebem a diferença?”.

Vagner Martins se desculpou, mas muita gente saiu em defesa do repórter e alegou que não passou de uma brincadeira. Foi também em nome do humor que o programa Os Donos da Bola da TV Goiânia, afiliada da Rede Bandeirantes, submeteu mulheres a piadas machistas e constrangimento. Torcedora do Goiás, Karol Barbosa, de 23 anos, participou de um quadro chamado Desafio das Musas e ouviu perguntas de duplo sentido do apresentador Beto Brasil.

“Se o nutricionista mandar você chupar uma laranja porque faz bem para a saúde, você chuparia um saco por dia?” e “Em um clássico contra o Vila Nova, se o juiz põe para fora, você mete a boca?” foram alguns dos absurdos que a torcedora teve que ouvir. Visivelmente sem graça, Karol tentou se esquivar das perguntas sexistas enquanto ele caía na gargalhada.

A revolta foi grande. Imediatamente, jornalistas, torcedores e veículos criticaram a postura do programa. Goiás e Vila Nova divulgaram notas de repúdio, pedindo respeito às suas torcedoras. Após uma série de justificativas contraditórias, que começou no discurso do “foi só uma brincadeira” e passou por “fizemos isso para vocês entenderem o que as mulheres sofrem todos os dias”, a direção do canal demitiu o produtor Leandro Vieira, que se responsabilizou pelo quadro, e tirou o programa do ar. Semanas depois, a atração estava de volta, sem muito alarde e com outro nome – o cenário e o apresentador continuaram os mesmos.

O jornalismo esportivo, assim como outras esferas da sociedade, submete mulheres a constrangimentos sob a justificativa do senso de humor e acaba naturalizando uma violência sofrida por elas todos os dias. Combater essa violência e dar um basta às brincadeiras de mau gosto são passos essenciais para que o mundo esportivo seja um lugar menos hostil para as mulheres que tentam ocupar um espaço tradicional e historicamente reservado aos homens.

(Publicado no Think Olga.)

#LutaJornalista

#SindicalizaJornalista

[18/9/18]

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