Os bastidores da cobertura da Covid-19, a maior operação da imprensa brasileira em toda a sua história, estão sendo mostrados no livro Nós também estivemos na linha de frente, do jornalista Marcelo Freitas. O livro descreve como foi a migração do jornalismo presencial para o home office, os desafios enfrentados para se fazer a cobertura da pandemia no novo modelo, a formação do Consórcio de Veículos de Imprensa, as agressões e tentativas de intimidação que os jornalistas sofreram durante a Covid-19, a parceria do jornalismo com os cientistas e a volta para o sistema presencial nas redações, a partir do final de 2022.
Nós também estivemos na linha de frente foi produzido a partir de entrevistas realizadas com 61 profissionais, entre editores e repórteres que trabalham na redação de alguns dos principais veículos de comunicação (rádio, TVs, jornais impressos e portais de notícias) do país; assessores de comunicação de instituições que tiveram interface forte com os veículos durante a pandemia, como o Instituto Butantan, a UFMG e o Ministério da Saúde; cientistas, que descreveram como foi a parceria com a imprensa, além do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. Também foram entrevistados diretores de instituições que representam jornalistas e empresas na área de comunicação, como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), sindicatos dos jornalistas de Minas, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, e a Associação Nacional de Jornais (ANJ).
Marcelo Freitas considera que o jornalismo traz, na sua essência, um paradoxo, pois é a profissão que reporta o que acontece no mundo, dos pequenos aos grandes acontecimentos, sejam eles alegres ou tristes. “O jornalista fala de tudo e de todos. Mas quase não fala de si próprio. Suas histórias raramente estão nas páginas de jornais, nos portais de notícia, nos telejornais ou nos noticiosos de rádio. As histórias dos jornalistas são invisíveis”, observa Marcelo Freitas.
Essa realidade se fez presente também durante a pandemia, quando, segundo o autor, pouco ou nada se falou sobre como as redações se reorganizaram, da noite para o dia, para cobrir um acontecimento do porte da Covid-19. “Nenhum veículo mostrou como foi a rotina do jornalista trancado em casa, em home office e tendo que noticiar algo que ele não gostaria que fosse notícia. Nenhum veículo descreveu o medo dos jornalistas que iam para as entrevistas coletivas ou para os hospitais”, afirmou o autor de Nós também estivemos na linha de frente. O objetivo do livro, segundo ele, é mostrar um pouco de tudo isso.
O livro mostra o trabalho da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) no sentido de garantir condições sanitárias mínimas de trabalho nas redações durante a pandemia e a campanha feita com objetivo de se evitar a redução de jornada e de salários em um momento crucial do jornalismo brasileiro, que era quando a população mais demandava informações corretas sobre a pandemia. Mostra também o esforço do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG) nessa mesma direção e as respostas dadas pela instituição sempre que algum jornalista era agredido por estar noticiando corretamente a pandemia, ou seja, em sintonia com a ciência.
O livro descreve também as mudanças ocorridas nos modelos de produção da notícia, como os trabalhos colaborativos, cujo melhor exemplo é o Consórcio de Veículos de Imprensa, que surgiu durante a pandemia; o funcionamento das redações em home office, que antes da Covid-19 acreditava-se que não seria possível; a edição remota de reportagens em vídeo; e a aceitação da ideia de que no jornalismo televisivo e de rádio a qualidade da imagem e do som não é mais determinante para que uma reportagem vá ao ar. No entender do autor, a pandemia significou a quebra de vários dos paradigmas vigentes no jornalismo até antes da Covid-19. Porém, trata-se, segundo Marcelo Freitas, de uma transição que ainda não se completou.
Nós também estivemos na linha de frente
Lançamento: 17 de agosto, quarta-feira
Local: Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) – avenida Álvares Cabral, 400, Belo Horizonte
Horário: de 19 às 21h30
Exemplar: 216 páginas, R$ 55