Ansiedades, assombros emocionais e angústias não combinavam com a cardiopatia que acometia o meu aguerrido coração atleticano. Acostumado ao radicalismo de grandes emoções, ele estava prestes a sucumbir a uma dupla lesão aórtica reumática, com reflexos em uma estenose e regurgitação de graus que se iniciava no Moderado e atingia o Importante. O diagnóstico intuía que meu coração sofria mais que a esperança de torcedor cruzeirense diante da sua realidade de segunda divisão.
A recomendação era uma apenas: substituir a válvula aórtica original, mas defeituosa, através de uma cirurgia coordenada pelo cirurgião cardiovascular Renato Rocha Rabello e seus assistentes Heberth Coelho, Vera Teixeira, Cláudio Azevedo, além do experiente corpo clínico da cardiologia do Hospital Felício Rocho, sob a inspiração eficiente da doutora Maria e de seus intrépidos médicos e enfermeiros.
“Alea jacta est” – A sorte estava lançada desde as 15 horas do dia 12 deste mês de marçoquando, após algumas intercorrências, fui encaminhado ao Pronto Atendimento do já referido hospital com recomendação do urgente procedimento cirúrgico, sob ameaça de morte súbita, caso ocorresse a protelação da intervenção.
Prontuário preenchido, burocracias atendidas, aguardava somente a autorização para a internação do meu Plano de Saúde, que veio traduzido em uma sonora negativa. Apesar das recomendações dos médicos que me assistiam, algum insensível técnico, em decisão monocrática, assegurava que minha enfermidade era eletiva e pré-existente e sua urgência, já atestada em dois laudos, não seria considerada.
O Judiciário mineiro, entretanto, teve entendimento divergente e reparou a injustiça mortal que estava prestes a ser produzida. Determinou o imediato cumprimento da recomendação médica quatro dias depois de ter dado entrada no Felício Rocho. Abandonava a improvisação de uma internação em Pronto Atendimento para um confortável apartamento, como exigia o acordo contratado com o referido Plano, pago regiamente em dia.
Pois bem: atleticano que se preze, entretanto, jamais arrefece as armas, ou abandona sua trincheira. Em meio a todos este transtornos, este judiado e estropiado coração alvinegro encontrava espaço no universo de suas preocupações, para falar com os enfermeiros sobre o Galo, o único e original Maior de Minas.Uma máscara com o escudo do Glorioso denunciou suas preferências futebolísticas. Doutora Maria, flamenguista, logo provocou: “Seu coração não vai aguentar”.
“Aqui é Galo” retruquei.
Apesar de Euclides da Cunha não ter incluído na sua icônica frase da literatura brasileira, o coração do atleticano é, também, à exemplo do sertanejo, antes de tudo um forte. Foi a senha para me preparar para acompanhar o jogo com o Patrocinense, pelo Campeonato Mineiro.
Faltava saber, entretanto, como seria. Sem “pay-per-view” no pacote de tv oferecido pelo hospital nos apartamentos, a solução foi valer-se dos préstimos do companheiro e jornalista Eduardo Ávila. Ele ficou incumbido demanter-me informado, missão que foi cumprida com maestria. No final do jogo ainda me enviou os gols de Igor Rabello, Vargas e Marrony, na vitória por 3 a 0.
O teste maior ocorreria dois dias após a cirurgia, já classificada como exitosa pelos médicos da equipe da Cardiologia do hospital. Ainda ligado a fios de monitoramento, acessos, medidores de temperatura, saturação e pressão, este humilde atleticano aplaudiu outra grande exibição alvinegra quando, impiedosamente, o Maior de Minas derrotou o Coimbra por 3 a 0, gols de Nacho Fernandez, Igor Rabello e Hulck. Assisti ao jogo por um link oferecido a mim pelo Eduardo.
Após todos estes acontecimentos de grande relevância, recebia no dia seguinte alta hospitalar, convencido de que mesmo combalido, o meu coração e de todos os atleticanos jamais abandonarão o seu amor maior e mais significativo: O Clube Atlético Mineiro. No meu caso particular, este compromisso tem uma outra dimensão, principalmente porque pulsa do lado esquerdo do meu peito um órgão reformado e revigorado. Vamos lá Galo. O mundo ansia pelas suas futuras conquistas.
Está claro que este não é um “coração vagabundo e sem amor”(Lindomar Castilho), mas bateriia mais forte no peito se o adversário fosse do Barro Preto.
Melhoras,amigo.
Ai ai ai. Ainda bem que o Galo segue invicto. Já pensou se perde? Você entraria nas estatísticas das intercorrências imprevisíveis.
Boa recuperação. E nada de Viagra (kkkkk).