Futebol e guerra, do céu ao inferno!, por Fernando Zuba

1
288

O ano era 1982, e a promissora Seleção Brasileira, comandada por Telê Santana, realizava parte de sua preparação na Toca da Raposa – casa do Cruzeiro. Caju, então motorista da Rádio Capital, era encarregado de transportar os repórteres da Avenida do Contorno, quase esquina com a Avenida Afonso Pena, onde ficava a sede da estação, até à Lagoa da Pampulha, local dos treinamentos para a Copa da Espanha.

Além dos jornalistas escalados para cobrir a concorrida seleção recheada de craques, dentre eles Luizinho, Leandro, Júnior, Toninho Cerezo, Sócrates, Paulo Izidoro, Falcão, Zico e Éder, lá estava eu, aos 7 anos de idade, entre um emaranhado de fios, cabos, câmeras fotográficas e de televisão, além de incontáveis microfones de diferentes veículos de comunicação.

Nas oportunidades que tive para acompanhar de perto a cobertura, feita inclusive por equipes internacionais de jornalismo, percebi que a rotina era pesada e exaustiva. Havia muito trabalho, bem como emoção, paixão e expectativas. Amante do futebol e precocemente aprendendo sobre a rotina diária de repórteres esportivos, eu estava no céu. O Brasil transbordava samba, suor e cerveja! Mas o ano ainda era 1982, e após uma simples e única ligação telefônica, tudo mudou.

Telefone no gancho, o “velho” repórter Fernando Zuba, então chefe de jornalismo da Rádio Capital e Editor-chefe do Jornal de Minas, não conseguiu esconder a surpresa, ou talvez o medo inicial em revelar o teor da conversa/missão. Pediu um copo d’água, respirou fundo e, na sequência, falou: embarco depois de amanhã para Argentina, rumo a Buenos Aires. Fui escalado para cobrir a guerra do país vizinho contra a Inglaterra na disputa pelo domínio da Ilhas Malvinas. Eu estava no inferno.

Pelo rádio, acompanhava os boletins, noticiários, entrevistas e reportagens produzidos pelo “velho”. Pelo telefone, havia um ramal exclusivo e dedicado da rádio até o apartamento onde residíamos naquele período, conversava com ele sobre a cobertura. Os Hermanos transpiravam sangue, suor e lágrimas. Como aqui, no céu, lá também, no inferno, havia um mundo de fios, cabos, câmeras fotográficas e de televisão, além de uma centena de microfones, repórteres e veículos de comunicação do mundo inteiro, todos arrebanhados no Sheraton Hotel, em Buenos Aires.

Futebol, guerra, céu, inferno e jornalismo!

 

[19/2/21]

 

1 COMMENT

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here