O consertador de máquinas de escrever

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Por Pedro Popó

O ofício de consertar máquinas de escrever, que até o fim dos anos 1980 era bastante valorizado, embora esteja fadado ao desaparecimento nos dias de hoje, por causa da modernidade e da tecnologia que todos os dias nos reserva surpresas, ainda encontra homens que resistem e continuam na profissão.

A popularização dos computadores, que se tornaram acessíveis ao consumidor e as novidades tecnológicas que aparecem todos os dias, de forma acelerada, fizeram desaparecer os equipamentos que antes ocupavam, com pompa, lugar de destaque nas repartições públicas, nos escritórios, nos bancos, em jornais, e nas casas de quem tinha uma. Com a retirada delas de cena, os profissionais do ramo tiveram que se modernizar, mudar o foco, aprender a lidar com o novo instrumento e adquirir novos conhecimentos, hoje cada vez mais amplos.

Em Uberlândia, para se ter uma ideia, estimava-se que até o final da década de 1980, antes da proliferação do computador no meio de produção e o seu uso em ambiente doméstico, havia cerca de cinquenta oficinas de consertar máquinas de datilografia e outros equipamentos mecânicos utilizados por mecanógrafos. Hoje, não restam mais do que três, na opinião de quem é profissional desse ramo como Salmo Vieira Prado, 69 anos, que há 50 anos resiste para não deixar o ofício acabar. Sua oficina fica em sua própria residência, na Rua São Bernardo, 885, no bairro Pampulha, muito diferente da que ele tinha até há 30 anos, no bairro Martins. “Eu tinha muitos empregados. Hoje é só eu”, salienta.

Salmo começou no ramo aos 20 anos de idade, quando a assistência técnica às máquinas de datilografia e outros equipamentos mecânicos usados no dia a dia, era ofício bastante concorrido. Os bancos, os escritórios de contabilidade e as repartições e empresas eram seus maiores clientes, sempre apressados em ter o conserto dos equipamentos feito no mesmo dia ou até mesmo na hora para não haver atraso no serviço. A demanda era tão grande, segundo Salmo, que, naqueles anos, ele nunca tirou férias de 30 dias. “Às vezes”, completa, “tirava uns 15 dias para descansar”, afirma, saudoso daqueles bons tempos.

Hoje, de acordo com o trabalhador, com a substituição do maquinário antigo pelos computadores de ponta, raramente se encontra uma empresa que utilize ainda equipamentos mecânicos. O conserto de máquinas de escrever, então, é muito pouco. De vez em quando aparece algum escritório trazendo a máquina de datilografia, mas a maioria dos clientes, atualmente, é de gente que as mantém em casa, como um troféu, para mostrar aos filhos como o objeto funcionava, ou de colecionadores e jornalistas. Esses últimos sempre têm uma de estimação.

Salmo não quer que o oficio que aprendeu com o irmão desapareça. “É como uma tradição”, comenta ele, emendando que “ela não pode morrer”. Por isso conforme afirma, ensinou a profissão ao filho e, apesar da tecnologia, espera que o ofício ainda perdure por muito tempo. Para quem começou entregando máquinas de escrever aos clientes e por curiosidade aprendeu a consertá-las e até hoje continua, Salmo sabe que aqueles tempos em que tinha de trabalhar sábados e domingos para atender a clientela e deixar de pescar – sua diversão nos finais de semana – para trabalhar, não voltam mais. Mas mesmo assim, assinala, enquanto conserta uma trazida por um cliente, “quero continuar”.

 

[10/11/20]

 

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