Repórteres se recusaram a participar de evento em que colegas foram barrados.
O governo britânico convocou uma coletiva para falar sobre o Brexit. O assunto é espinhoso e todos os veículos de comunicação estão cobrindo. Quando assessores do premiê Boris Johnson barraram a participação de alguns veículos no evento, um grupo decidiu virar as costas e ir embora.
Isso aconteceu nesta segunda-feira 3/2, na residência oficial do primeiro-ministro, a famosa casa 10 da Downing Street (foto), em Londres.
Os atritos entre o governo e os jornais britânicos se assemelha aos que ocorrem no Brasil, nos EUA, na Polônia e em outros países presididos por líderes populistas, que fazem campanha contra a imprensa e apelam para uma “conexão direta” com o povo.
Segundo os relatos, o premiê convocou jornalistas para uma entrevista técnica. A pauta seria a divulgação de detalhes da proposta de acordo comercial que o Reino Unidos apresentará à União Europeia.
O Reino Unidos deixou a União Europeia oficialmente no dia 31 de janeiro, mas algumas questões continuam pendentes até o final do ano, quando o período de transição do Brexit se completa.
Esta transição é o principal assunto a ser definido. Johnson pretende conseguir da União Europeia o que o Canadá conseguiu.
Ao chegarem para a entrevista, os jornalistas tiveram uma surpresa desagradável. Foram separados em dois grupos de acordo com o veículo que trabalhavam. Logo a seguir, o diretor de comunicação de Johnson, Lee Cain, disse aos repórteres de um grupo que deixassem o local, pois não participariam da coletiva.
Dentre os excluídos estavam os saites Huffington Post e PoliticsHome, os jornais The Mirror, The Independent e inews e a agência de notícias Press Association, entre outros.
Quando perceberam o que acontecia, os jornalistas do grupo autorizado a participar da entrevista, entre eles a BBC, The Guardian, Financial Times, The Telegraph, Daily Mail e The Sun, viraram as costas e deixaram o local.
Ao se deparar com o problema, o governo britânico disse que faz eventos abertos aos jornalistas duas vezes por dia, mas tem o direito de restringir a entrada em casos específicos.
Esse mecanismo vem sendo usado sem parcimônia pelo governo de Johnson, que assumiu o comando do país em julho do ano passado. E o mecanismo simplesmente restringe a entrada de veículos de imprensa.
Segundo o The Guardian, os representantes do governo disseram que esta foi a primeira vez que os jornalistas reclamaram da restrição.
A grande crítica dos profissionais que deixaram a entrevista foi de que a coletiva era com a área técnica e não política. E é na área política que o governo tem a tradição de restringir a presença de profissionais de determinados veículos.
Membros do Parlamento Britânico manifestaram desaprovação ao comportamento do gabinete do primeiro-ministro.
(Informações do Jornal GGN, do Nexo e da Folha de S. Paulo.)
[4/2/20]