Vozes diversas e ao mesmo tempo uníssonas se reuniram para afirmar a importância do jornalismo e o papel dos jornalistas em tempos de obscurantismo, desinformação e retrocessos, durante a abertura do 38° Congresso Nacional dos Jornalistas, ocorrida na quinta-feira, 22 de agosto, no Teatro São José, localizado em Fortaleza (CE). A escolha do local simbolizou a resistência da cultura popular de uma região que também luta contra os desmontes ocasionados pela conjuntura atual.
Antes da solenidade, programada para iniciar com a composição da mesa de abertura, o grupo de tradições folclóricas Raízes Nordestinas, que possui 23 anos de existência, subiu ao palco do Teatro São José para dar as boas-vindas aos presentes naquele momento. A apresentação contou com interpretações da vida sertaneja, incluindo canções cearenses populares e muita dança. Vale lembrar que a data coincidiu exatamente com o Dia do Folclore (22/8). Na plateia, estavam operárias e operários da notícia de vários estados, assim como personalidades locais. As presenças mais ilustres foram citadas uma a uma durante todo o evento.
O discurso que deu início ao Congresso Nacional dos Jornalistas foi lido pelo jornalista Kennedy Saldanha. O texto lembrou e ressaltou conceitos e acontecimentos que seguem sendo debatidos pela categoria e sociedade no geral. O espectro neofascista que paira sobre o Brasil; o falso moralismo tão presente na disputa de narrativas; o perigoso anti-intelectualismo; o extermínio do povo negro; a morte de Marielle Franco; a prisão política de Lula; o desemprego generalizado; a desinformação disseminada; a crise do modelo de negócios do jornalismo e suas consequências.
Momentos difíceis
Logo após a leitura, a mesa de abertura foi composta pelos seguintes nomes: Maria José Braga, presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj); Rafael Mesquita, presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce); Chagas Vieira, assessor especial de comunicação do Governo do Estado do Ceará; Moacir Maia, coordenador de comunicação da Prefeitura de Fortaleza; Inácio Arruda, secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará; Gilvan Paiva, secretário da Cultura de Fortaleza; Antônio Oliveira, procurador do Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE); Oswaldo Maneschy, representante da Associação Brasileira de Imprensa – ABI; e Luizianne Lins, deputada federal pelo Ceará.
Houve aspectos unânimes nos discursos, como a concordância em relação aos momentos difíceis vividos na atualidade, marcada por ataques profundos a instituições históricas e a áreas essenciais para o Estado Democrático de Direito. Gilvan Paiva enfatizou o momento grave pelo qual a cultura nacional está passando. O secretário considera o contexto um verdadeiro ataque à democracia.
Moacir Maia, por sua vez, relembrou fatos importantes sobre a história do Ceará. Segundo o jornalista, há “disposição e capacidade de luta” no povo cearense, por essa razão, é necessário desenhar “caminhos e estratégias para sairmos dessa nuvem sombria”. Da mesma forma, Inácio Arruda defendeu, em seu discurso, a importância das informações verdadeiras, bem como das pessoas capacitadas para produzi-las.
Enquanto secretário da Ciência, ele comentou sobre o aprimoramento das tecnologias, como alternativa para a recuperação da economia, e afirmou seu repúdio aos ataques promovidos pelo atual presidente. Segundo Arruda, o termo “Terra da Luz” não é à toa, pois simboliza a luz da liberdade e da democracia. O Ceará, em sua opinião, é um dos estados mais equilibrados, assim como os demais da região Nordeste.
Boas notícias
Antônio Oliveira disse enxergar o processo civilizatório ameaçado. O procurador do Trabalho frisou que a luta pelos direitos é diária, logo, “o único caminho é continuar lutando”. Oliveira afirmou acreditar na existência de “um Brasil que está dando as costas ao Planalto”, pois “a planície está fazendo” por si só. Criticou, ainda, a “cultura da má notícia”, defendendo a busca por um “rio das boas notícias”, que deve pautar assuntos além da “agenda da destruição”.
Chagas Vieira iniciou sua fala afirmando que estamos vivendo “uma grande oportunidade para mostrar que ninguém vai calar os jornalistas e que não iremos sucumbir”. Segundo o assessor de comunicação, o jornalismo vai sair (desse processo singular) mais fortalecido, principalmente contra as chamadas fake news. Ele finalizou seu discurso com a frase “Somos todos Paraíba”, fazendo referência ao recente episódio que envolveu o presidente da República e os governadores do Nordeste.
Rafael Mesquita, presidente do Sindjorce, discursou de forma assertiva. Frisou a necessidade do fortalecimento da categoria dos operários e operárias da notícia; agradeceu o apoio do Governo do Estado do Ceará às iniciativas dos jornalistas cearenses; mencionou a ex-presidente Samira de Castro como fundamental para a superação de crises e construção de uma unidade; rechaçou a conjuntura atual citando o retorno de ações praticadas na ditadura civil-militar brasileira; apontou os desmontes trabalhista e previdenciário; relatou a atual crise de credibilidade do Jornalismo; repudiou as posturas das empresas de comunicação, que exploram seus funcionários por meio da multifuncionalidade; e reafirmou o jornalismo como pilar da democracia.
Por fim, Rafael frisou o papel fundamental dos jornalistas, dizendo “não podemos nos calar!”. Além disso, deixou questionamentos representativos, como “Quem matou Marielle e Anderson? Quem mandou matar?”, “Onde está o Queiroz?” e “Cadê a prova contra Lula?”.
Idiotização do Brasil
Oswaldo Maneschy, em sua oportunidade, comentou sobre a relevância histórica da Associação Brasileira de Imprensa, que possui mais de 100 anos de existência. Assim como os demais, falou sobre a luta pela democracia, que deve ser protagonizada pelo povo brasileiro. Oswaldo fez menção ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, enfatizando a responsabilidade social que a categoria possui em relação à opinião pública.
Da mesma forma, Luizianne Lins afirmou que a situação do jornalismo é grave e frisou que os jornalistas não podem ser cúmplices do que ela chama de “idiotização do Brasil”. Segundo a deputada federal, os colegas jornalistas possuem o “papel não só de detectar, mas de subverter”. “A resistência não é fácil, mas é possível”, finalizou.
Maria José Braga, última da mesa a discursar, parabenizou o Ceará por estar vivendo um momento diferente dos demais Estados e fez menção honrosa à diretoria do Sindjorce pelo trabalho desenvolvido nos últimos anos. A presidenta da Fenaj compartilhou estar vivenciando os mesmos sentimentos das demais autoridades e deixou a seguinte reflexão: “o Governo brasileiro caiu no abismo do absurdo”. Segundo Braga, o País está dando passos em direção ao passado, pois, “não há área da civilização humana que não esteja sendo afetada”, concluiu.
“Somos chamados de idiotas”, disse Maria José em relação às declarações do atual executivo federal sobre os jornalistas. Ela também expressou sua preocupação ao ver a constante disseminação do ódio no meio social. Da mesma forma, a presidenta frisou que é “urgente sairmos da defensiva”, mas reconheceu: “Felizmente, não estamos imobilizados”. Para finalizar, deixou uma convocação: “sigamos em luta na defesa do jornalismo e na defesa da democracia brasileira”.
(Publicado pela Fenaj. Redação: Alex Ferreira; edição: Samira de Castro; fotos: David Leitão Aguiar. )
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[26/8/19]