Por Luísa Cortés, edição Géssica Brandino, no saite da Abraji.
Se antes os departamentos jurídicos das redações estavam acostumados a lidar com acusações de plágio, pedidos para retirar matérias do ar por falar mal de alguém e ameaças de processo, hoje os caso ali são um tanto diferentes: ameaças por ligações telefônicas e nas redes sociais, divulgação na internet de dados pessoais, como endereço e número de telefone.
Foi o que aconteceu com as jornalistas Patrícia Campos Mello (Folha de S. Paulo) e Constança Rezende (UOL, ex-Estadão), que participaram nesta sexta-feira (28) no 14º Congresso de Jornalismo da Abraji.
No caso de Patrícia Campos Mello, jornalista de guerra premiada, as ameaças vieram depois da reportagem Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp, publicada em 18 de outubro, durante o segundo turno da campanha eleitoral. A matéria denunciava empresários que apoiavam a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) e que pagavam por disparos programados no aplicativo de conversa.
Desde então, grupos bolsonaristas passaram a convocar militantes para comparecer a eventos que seriam frequentados pela jornalista, que, com medo, teve que cancelá-los.
Patrícia também recebeu ligações anônimas no celular, com ameaças a ela e a sua família. Vizinhos passaram a gritar quando a viam na rua. Mensagens com ofensas a ela viralizaram nas redes sociais. “Eu cubro Líbia, Síria, e nunca tive um guarda-costas.
De repente, me vi em SP [com um]”, disse a jornalista especializada em conflitos. Para Constança Rezende, as ameaças vieram após uma notícia falsa publicada em um site e compartilhada pelo presidente Bolsonaro em seu Twitter, no dia 10 de março.
O boato dizia que Constança queria “arruinar” a vida de Flávio Bolsonaro, filho de Jair bolsonaro, e buscar o impeachment do presidente. Mas o áudio linkado à matéria era editado e não mostrava o conteúdo escrito em seu texto.
Repórter de política, ela conta que nunca entendeu o motivo daquele compartilhamento, já que mantinha boa relação com a família do presidente. “Bolsonaro nunca reclamou de uma matéria minha, nem os filhos.” Foi a primeira vez que Constança comentou o caso.
Ela conta que parou de atender ligações anônimas e com o auxílio de advogados do jornal selecionadas as ameaças para levar a questão à Justiça. “Ainda existem vários perfis fakes que ainda estão lá”, conta. Segundo o Coordenador do Observatório de Liberdade de Imprensa da OAB, Pierpaolo Bottini, colocar jornalistas como personagens das notícias é uma estratégia de um ataque orquestrado.
O advogado citou evidências de que muitos desses casos são planejados com sofisticação, da mesma forma como também pode ocorrer com profissionais que estão no foco do noticiário, caso da antropóloga e pesquisadora Debora Diniz após defender a descriminalização do aborto no STF.
Ela e sua advogada foram alvo de ameaças sistemáticas, vindas de um site localizado na Suíça. “Faz parte de uma estratégia de descredibilização da mídia”, acrescentou Patrícia Campos Mello. Para quem passar pelo mesmo problema, a orientação de Bottini é que o profissional faça um print screen, boletim de ocorrência e uma ata notarial em um cartório para comprovar que o fato aconteceu.
Já as medidas para combater esses ataques incluem estratégias como a formação de uma rede de apoio de jornalistas, o que a mediadora Daniela Pinheiro definiu como “sororidade dos jornalistas”. Deixar de divulgar opiniões e informações pessoais nas redes sociais também pode proteger esses profissionais. Outra opção é deixar essas informações em contas fechadas. Também é importante saber distinguir a ameaça da crítica.
O 14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio de Google News Initiative, Grupo Globo, Facebook Journalism Project, Itaú, UOL, Twitter, Estadão, Folha de S.Paulo, Poder 360, Crusoé e Aos Fatos; apoio de mídia de Correio (BA), CBN, Grupo RBS e SBT; e apoio institucional de Abert, ANJ, Aner, Comunique-se, Consulado dos Estados Unidos, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Insper, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, Meio, Oboré Projetos Especiais, Ogilvy, Portal Imprensa, Revista piauí, Textual e Unesco. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, orientados por profissionais coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.
(Publicado pela Abraji. Na foto, Constanza Rezende (UOL), Daniela Pinheiro (Revista Época), Patrícia Campos Mello (Folha de S. Paulo) e Pierpaolo Bottini (OAB). Crédito da foto: Augusto Godoy.)
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[1/7/19]