Rede de Jornalistas Internacionais dá dicas de como cobrir o governo Bolsonaro

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Renata Johnson, na IJNet, 30/10/18.

A onda populista direita que resultou no voto do Brexit, na eleição de Rodrigo Duterte nas Filipinas e Donald Trump nos Estados Unidos chegou às areias de Ipanema com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições brasileiras.

O ex-capitão do exército é famoso por sua retórica que vai contra os direitos humanos, considerada divertida e um sinal de autenticidade por alguns de seus apoiadores.

Para muitos jornalistas brasileiros, que enfrentam crescente intimidação desde o início da campanha presidencial, o consenso é que dias difíceis virão.

“A gente sabe que em regimes autoritários, profissionais da imprensa são sempre os primeiros a rodar”, escreveu Igor Patrick, um leitor da IJNet no Brasil, no nosso Fórum em Português no Facebook.

Jornalistas não estão apenas preocupados com a hostilidade do governo, mas com ataques físicos, assédio online e ataques cibernéticos de seus partidários fervorosos, que são agravados pela amplificação de desinformação e discurso de ódio nas redes sociais.

Em um país polarizado por linhas ideológicas, como os jornalistas podem se preparar para cobrir seu próximo presidente? Aqui estão algumas dicas que reunimos.

Não amplifique o discurso de ódio

Jornalistas americanos aprenderam uma dura lição sobre os tuites provocativos de Trump, e essa lição também deve ser ouvida por jornalistas no Brasil: “Não existe publicidade negativa”, algo que tanto Trump quanto Bolsonaro conhecem bem.

Rafa Fernandez, um jornalista que cobre histórias de imigração desafiando a narrativa de Trump, adverte os jornalistas brasileirosl a não se concentrarem demais nas declarações sensacionalistas de Bolsonaro. “Isso dá uma plataforma para ele; e nós já sabemos que ele é um fascista de direita, racista e homofóbico”, diz Fernandez, que é repórter e consultor do México e da América Latina para o Fusion Media Group.

Concentre-se em manter o poder responsável

Os jornalistas têm o dever de responsabilizar os poderosos por suas ações, o que não muda com um novo líder. Não amplie simplesmente a voz de Bolsonaro, mas “concentre-se em seus negócios obscuros, qualquer coisa que cheire a corrupção”, sugere Fernandez. “Concentre-se no tipo de investigação que irá realmente expô-lo à sua base.”

Juntos somos fortes

Antes da posse de Trump, quando jornalistas foram ameaçados por seus partidários, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) publicou dicas de segurança para cobrir a inauguração do seu mandato. Entre elas: “Sempre tente trabalhar com um colega e crie um procedimento regular de check-in com sua redação.”

Jornalistas no Brasil agora enfrentam ameaças semelhantes, e esse conselho também se aplica a eles. Em momentos em que o jornalismo está sob ataque, trabalhe junto com seus colegas e considere projetos colaborativos de jornalismo.

Por exemplo, na Venezuela, as alianças de jornalismo nacionais e transfronteiriças ajudaram a investigar questões escondidas pela agenda pró-governo.

Seja transparente em sua reportagem

A melhor investigação do mundo não valerá nada se as pessoas não acreditarem em jornalismo. Para combater esse problema, os jornalistas precisam fazer um esforço para serem transparentes, diz Tai Nalon, diretora e co-fundadora do Aos Fatos.

“Seja transparente em suas apurações. Explique nos seus textos como você coletou suas informações, com quantas pessoas ou bases de dados teve contato e, sobretudo, quais informações permanecem inacessíveis. Remeta sempre às fontes, dê crédito e não abuse do off”, ela aconselha. “Dessa forma, os leitores terão menos motivos para desconfiar do seu trabalho.”

Lembre do básico e siga os fatos

Marina Iemini Atoji, gerente-executiva da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), oferece dicas que não se aplicam exclusivamente ao governo Bolsonaro, mas a qualquer governo, e servem a qualquer jornalista que trabalhe no controle social do poder.

1- Precisão

– Use e armazene dados públicos relevantes para a cobertura de políticas públicas.
– Sempre que possível e cabível, use a Lei de Acesso a Informações para obtê-los.
– Técnicos de órgãos públicos são, no geral, boas fontes para a apuração de execução de políticas públicas, seja na hora de pedir informações ou na hora de compreendê-las.

2- Documentação

– Registre a comunicação com fontes (seja por e-mail ou gravações). É importante tanto para a precisão da cobertura quanto para subsidiar reações a eventuais questionamentos após a publicação da reportagem.

3- Equilíbrio

– Entre em contato com todos os envolvidos e deixe claro que isso foi feito, mesmo quando sem sucesso. Tente ao máximo obter as versões de quem é retratado na reportagem.

4- Segurança digital

– Comece com providências simples, como adotar senhas fortes para suas contas e habilitar autenticação em dois fatores.
– Faça backup de arquivos e contatos com frequência.
– Ao lidar com informações sensíveis, use ferramentas de VPN e comunicações criptografadas.

Isto é apenas o começo!

Nossos leitores compartilharam suas preocupações e estamos ouvindo. Você pediu mais orientações sobre como sobreviver a uma guerrilha digital, incluindo ataques cibernéticos, esforços para desacreditar a mídia e o assédio online, bem como lidar com questões legais e proteger-se contra ataques físicos durante coberturas ao vivo. Confira nossos recursos sobre a segurança dos jornalistas e fique ligado!

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Alessandro Dias

Agradecemos aos nossos leitores no Fórum da IJNet em Português, que sugeriram vários dos links incluídos neste post.

(Publicado pela IJNet Rede de Jornalistas Internacionais.)

 

#LutaJornalista

#SindicalizaJornalista

[30/10/18]

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