Não é a tecnologia que ameaça o jornalista. O maior risco para o jornalista profissional está associado à concorrência predatória de outros especialistas. A conclusão é do estudo “Impactos da revolução digital no jornalismo”, elaborado pelo Radar do Futuro, saite mineiro dedicado a identificar tendências e transformações no estilo de vida global.
Produzido pelo jornalista Carlos Teixeira e pelo consultor de tecnologia Sérgio Viegas, o estudo teve como objetivo dar visibilidade às mudanças e contribuir para a elaboração de novas estratégias de atuação no mercado, pelos jornalistas. Ele contou com Apoio da Nous Sense-Making, consultoria de inteligência de mercado, e teve como fontes complementares o European Journaslim Observatory, o relatório da BBC “Future of News” e o Scenarios for the future of journalism.
De acordo com o estudo, são os produtores de conteúdos, vindos de diferentes especialidades, profissionais com conhecimentos de tecnologia, design e marketing, as maiores ameaças ao jornalista profissional. Esses especialistas tendem a assumir o papel de criadores de novos modelos de negócios jornalísticos.
Ano dramático
O estudo recomenda que os jornalistas assumam postura de protagonistas no uso das tecnologias se quiserem continuar atuando em redações. Devem também ser capazes de perceber as mudanças e propor novas estatégias.
De acordo com o estudo, as redações serão cada vez mais enxutas e muitas tarefas serão executadas por robôs. Os profissionais que restarem exercerão múltiplas tarefas e sobreviverão aqueles que investirem em capacidade de investigação, tiverem domínio de ferramentas tecnólogicas aplicadas, especialmente jornalismo de dados.
A análise ressalta que 2016 foi um ano dramático para a imprensa brasileira. Quinze veículos – duas emissoras de televisão, três de rádio, um saite de notícias e sete impressos – fecharam. Entre os jornais que fecharam está o Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, o mais antigo em atividade no país até então, fundado em 1827.
Só em são Paulo foram dispensados 1.806 profissionais de 2014 a 2016, segundo o Sindicato dos Jornalitas do estado. Foram 499 em 2014, mais 726 em 2015 e 581 em 2016.
Mercado publicitário
O estudo afirma que a criação de novas oportunidades de trabalho vai depender da sobrevivência das velhas marcas jornalísticas no novo mercado digital. Para isso elas dependerão da sua capacidade de se manterem no mercado publicitário.
O mercado de publicidade mudou radicalmente no jornalismo digital.
Google e Facebook detiveram 20% dos investimentos globais em publicidade em 2016. A receita do Facebook foi de US$ 26,9 bilhões e a do Google três vezes maior: US$ 79,4 bilhões. Eles são os dois maiores grupos de mídia do mundo, ranking no qual a Globo aparece em 19º lugar.
O cenário brasileiro, no qual os grupos tradicionais ainda predominam, é transitório, segundo o estudo, e se deve ao fato de a Globo impor, com conivência das agências de publicidade, o sistema de “premiação dos grandes anunciantes”.
O futuro do trabalho aparenta ser um trabalho “por job”, isto é por tarefa, no qual o profissional trabalharia para várias empresas ao mesmo tempo. As novas gerações de jornalistas têm perfis mais liberais e tendem a investir em projetos independentes. Além de ser ousado, criativo e apto em novas tecnologias, o jornalista deverá desenvolver novas competências profissionais e qualidades como a de atuar em grupo.
Buscar novos modelos de trabalho, identificar novos modelos de negócios e associar-se a outros profissionais, enfim estratégias normalmente associadas a empresas, deverão fazer parte das preocupações dos jornalistas adaptados ao novo cenário profissional, indica o estudo. Nele, editores serão mais afetados do que repórteres, pois o trabalho daqueles é mais suscetível de ser substituído por robôs. Além disso, têm salários mais altos.
Os repórteres, por sua vez, deverão se dedicar especialmente ao trabalho investigativo, mas estarão sujeitos à concorrência de especialistas de outras áreas, que avançarão cada vez mais sobre o jornalismo.
Para ler a íntegra do estudo, clique aqui.
[11/12/17]