Charges do Zé Brasil voltam a ser publicadas, agora na internet, no Jornal do Padre Eustáquio

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Dez anos depois de sair de circulação, com a extinção do jornal Diário da Tarde, o Zé Brasil, personagem do chargista Museu, volta a divertir o público, agora na internet. As charges do Museu serão publicadas no Jornal do Padre Eustáquio, nos dias 1, 10 e 20 de cada mês. A estreia aconteceu no dia 20 de julho passado.

“Este retorno é muito bacana. O convite do PH é um desafio e uma responsabilidade”, diz Museu, apelido do jornalista Eduardo Ambrósio de Lacerda. PH são as iniciais pelas quais é conhecido o jornalista Paulo Henrique Lobato, que há um mês lançou o Jornal do Padre Eustáquio, em parceria com a jornalista Isabella Souto, sua esposa. Ambos trabalham no jornal Estado de Minas.

Apesar de jornalista formado, Museu ficou conhecido como artista. Além de chargista, é músico profissional; acompanha cantores há 30 anos, tocando bateria. No Estado de Minas, onde está desde 1989, não publica matérias: sempre ocupou funções no arquivo e na biblioteca. Atendendo colegas e público, “aprendeu de tudo” e formou a visão crítica essencial ao trabalho de chargista.

“A charge me possibilita tratar da realidade com leveza e humor”, define Museu. “É a linguagem mais aceita pelo público”, acrescenta, revelando que gosta de desenhos que até crianças entendam.

Arquivando charges dos desenhistas do Diário da Tarde e do Estado de Minas, e consultando o acervo da revista O Cruzeiro, herdado pelos Associados Minas, Museu desenvolveu a arte que pratica hoje, procurando associar simplicidade, responsabilidade e ética. “O Cruzeiro só tinha feras, como Borjalo e Ziraldo”, conta o chargista, citando dois mineiros de projeção nacional. “Minas Gerais é um celeiro de chargistas.

Em 1996, a convite de Son Salvador, Museu começou a fazer o Zé Brasil, publicado no DT. Era época do “É o Tchan”, ele desenhou o Palácio do Alvorada, numa das suas periódicas crises políticas, e escreveu a legenda: “Segura o tchan”. Foi um sucesso. “Zé Brasil é o brasileiro, gente que faz, mas dá tudo errado”, resume o chargista.

A tirinha saía no DT uma vez por semana, depois passou a alternar com “Os Invasores”, outra criação do Museu. “Nunca parei de desenhar”, conta o chargista, que se orgulha de ter dado muitos workshops de desenho para alunos de escolas públicas.

De volta a um jornal, Zé Brasil enfrenta agora o espaço competitivo da internet. “O Brasil mudou muito, a informação é muito mais dinâmica e democrática, todo mundo tem voz”, analisa Museu. “Jornal de bairro é mais bacana, é a célula da célula da célula”, diz. “Quem mora no Padre Eustáquio é brasileiro. O bairro representa o todo, o Padre Eustáquio é o Brasil, tem de tudo.”

Um jornal para 80 mil

Jornal tem que ter chargista, diz PH, e a volta do Zé Brasil expressa um fenômeno, o crescimento do jornalismo produzido na internet por jornalistas empreendedores. O Jornal do Padre Eustáquio cobre também os bairros Carlos Prates, Minas Brasil e Caiçara, uma região com 80 mil habitantes, população maior do que a de 80% dos municípios mineiros.

“É uma cidade”, define PH. “Aqui tem notícias todos os dias, como também no restante da cidade”, explica o jornalista, que há três anos planejava o empreendimento e se diz satisfeito com o resultado – nas três primeiras semanas, o jornal teve mais de 12 mil visualizações. “Está dando certo”, avalia.

PH não esconde sua satisfação em fazer jornalismo no bairro em que mora há 12 anos. “A gente conta o que a grande mídia não conta, principalmente o que só interessa aos moradores”, explica. “A gente fala de futebol, mas não fala dos grandes clubes, fala do time amador do bairro”, exemplifica. “Quem sabia que o Padre Eustáquio tem o campeão brasileiro de queda de braço?”, acrescenta, citando outra matéria já publicada.

A fórmula adotada é oferecer bom serviço e boas histórias. O anúncio de fechamento da 9ª Companhia da PM, pelo governo do estado, mobilizou os moradores – e o jornal acompanhou tudo. A matéria mais lida nas primeiras semanas foi sobre o abacateiro da Praça Rio Alto. Tentaram derrubá-lo, mas um morador não deixou. “São matérias gostosas de fazer, com os moradores”, diz PH.

A essa pauta variada que o casal de jornalistas descobre e apura percorrendo as ruas do bairro, soma-se a colaboração de um time de 13 colunistas, entre eles o padre da paróquia, o bispo da igreja evangélica e o pai de santo, além da jornalista Leida Reis. “Todos têm laços fortes com o bairro”, informa PH.

Com quase 20 anos de profissão, PH leva sua experiência de jornalista para o bairro. “Não sou empresário, sou repórter”, faz questão de dizer. Não faltam ao Jornal do Padre Eustáquio, porém, anúncios de negócios regionais. “O jornal de bairro sempre foi importante. A grande mídia não consegue cobrir a cidade inteira, pelo tamanho da cidade, esse papel cabe aos jornais de bairro, que têm uma função social muito importante.”

PH cita um artigo do colega Marcelo Freitas, publicado na revista Pauta, do Sindicato, que compara as transformações no jornalismo às transformações na distribuição de leite: a plataforma internet revoluciona o jornalismo como a “plataforma” embalagem longa vida revolucionou o consumo de leite. “O futuro do jornalismo é incerto, mas o jornal de bairro certamente é um dos caminhos para salvar o jornalismo e o mercado”, afirma.

Ao mesmo tempo que atinge a população local, o Jornal do Padre Eustáquio já cativou leitores em diversas partes do mundo, onde vivem ex-moradores do bairro. “Recebo relatório diário e temos leitores em 12 países. São pessoas que moraram no Padre Eustáquio e que querem notícias do bairro”, conta o jornalista, que virou repórter multimídia: “A gente faz texto, foto, vídeo, faz tudo, do começo ao fim.”

[9/8/17]

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