Nova diretoria do Sindicato toma posse em noite de festa dos jornalistas mineiros

1
73

Tomou posse na sexta-feira 23/6 a diretoria que comandará o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais no triênio 2017-2020. A cerimônia, marcada pela informalidade e quebra de protocolos, incluiu a entrega do 10º Prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público e reuniu mais de 500 jornalistas e convidados em ambiente de confraternização e união. No encontro foi lançado também o Manifesto Suprapartidário pelas Eleições Diretas Já.

“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.”

Citando estes versos do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht e deixando de lado seu discurso para falar de improviso, a nova presidenta do Sindicato, Alessandra Mello, exortou os jornalistas a superar o medo e se unirem para enfrentar a crise pela qual passam o Brasil e o Jornalismo. Alessandra sucede Kerison Lopes, que presidiu o Sindicato entre 2014 e 2017.

Ela disse que todos os brasileiros hoje estão com medo e que no coração dos jornalistas o medo é ainda maior. “Começou com as mudanças das novas mídias, aumentou com a crise econômica, contaminada pela crise política, e o Jornalismo desandou”, analisou Alessandra, citando a deterioração no ambiente das redações, com pressões dos patrões para perda de direitos dos trabalhadores. “Só há uma maneira de combater isso: juntar forças. Só a luta conquista direitos”, enfatizou.

Chamamento à luta

A nova presidenta do Sindicato lembrou a ocupação da antiga sede do jornal Hoje em Dia, por jornalistas e movimentos sociais, no dia 1º de junho. O movimento chamou atenção da sociedade para a situação dos trabalhadores demitidos pela empresa em 2016 e resultou num acordo com os antigos proprietários do jornal para pagamento de parte da dívida trabalhista.

“Não podemos desanimar”, enfatizou Alessandra. “As mulheres não podem aceitar o machismo e o assédio nas redações. O jornalismo hoje é majoritariamente feminino, mas as mulheres não estão nos cargos de chefia”, denunciou.

A novo presidenta defendeu um Jornalismo plural, que expresse a diversidade. “O Jornalismo é um pilar da democracia. Não podemos deixar que o Estado brasileiro seja tomado pelo poder econômico e político”.

Alessandra reafirmou o compromisso de manter a sede do Sindicato aberta para a sociedade. “Na Casa do Jornalista já aconteceu de tudo, de curso de turbante a fundação de partido”, lembrou.

Ela agradeceu aos companheiros da gestão que terminou, da qual foi vice-presidenta, citou Fidel Castro (“Revolucionários não podem ser pessimistas”) e fez uma chamamento à categoria para fortalecer o Sindicato, filiando-se e participando. “Só juntos vamos conseguir vencer. Luta, Jornalista!”, finalizou, citando o nome da chapa aprovada na eleição por 97,5% dos votantes.

Momento de mudança

A nova diretoria é nova também em renovação: 80% dos integrantes participam da direção do Sindicato pela primeira vez. Outro índice expressivo é o de mulheres: 42%.

“Há diretorias que marcam momentos de mudança na história do Sindicato. A gestão Dídimo Paiva [1975-1978] foi uma delas. Essa eu acho que vai ser outra”, comentou o ex-presidente do Sindicato Tilden Santiago, ao final da posse.

Outros ex-presidentes estiveram presentes à festa: Manoel Marcos Guimarães, Aloísio Morais Martins, Dinorah Maria do Carmo, Aloísio Soares Lopes e Eneida Ferreira da Costa, além de Kerison Lopes. Entre as autoridades, compareceram a deputada federal Jô Moraes, o secretário estadual de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e o secretário municipal de Comunicação, Chico Maia.

A mesa da posse, no entanto, foi formada por representantes de movimentos sociais: Geanini Hackbardt, do MST; Késsia Teixeira, da União Colegial de Minas Gerais; Carmélia Viana, da União Brasileira de Mulheres; Clarice Barreto, do Sinpro, e Carlos Magno, da Associação Brasileira LGBT.

“A mesa também quebrou protocolos. Não quisemos chamar políticos e autoridades. Não temos nada contra políticos, mas queríamos mostrar que o Jornalismo tem que ser plural”, explicou Alessandra Mello, lembrando que o apoio dos movimentos sociais e da mídia alternativa foi fundamental na exitosa ocupação da antiga sede do jornal Hoje em Dia. “Esta mesa é a nossa cara.”

Dois Brasis

No seu discurso, o ex-presidente Kerison Lopes iniciou a quebra de protocolos que marcou a solenidade. Ele começou dizendo que não leria o discurso que tinha preparado e iria falar de improviso. “Quando entrei aqui e vi os rostos de cada um de vocês, com quem convivi nesses três anos, e a bandeira do Sindicato, que simbolizou a ocupação do Hoje em Dia, decidi falar de cor, de coração”, explicou.

Agradecendo a todos que colaboração com sua gestão, diretores e funcionários do Sindicato, Kerison disse que encerrava um ciclo na sua vida e citou o escritor Guimarães Rosa: “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. “Outras lutas virão”, acrescentou.

O ex-presidente contou que entrou no Jornalismo sem querer, como uma forma de luta, ainda adolescente, na sua cidade natal, publicando a Gazeta de Bonsucesso. Igualmente, foi a necessidade que o colocou na presidência do Sindicato. “Espero que tenha respondido às demandas da categoria”, disse.

Kerison contou ainda que releu o discurso da sua posse e constatou as mudanças ocorridas no país em três anos. “Tenho a sensação de que comecei a gestão num Brasil e terminei em outro. Vivemos tempos muito difíceis”, disse. “O Sindicato cumpriu seu dever de lutar em defesa de democracia e da liberdade, como sempre fez desde que foi fundado há 72 anos.”

Kerison lembrou também dois momentos de luta sindical fundamentais durante sua gestão: a greve no jornal Estado de Minas e na TV Alterosa e a ocupação da antiga sede do jornal Hoje em Dia. Ele ressaltou que os últimos anos marcaram uma mudança radical na categoria, que passou a se ver como parte da classe trabalhadora. “O Brasil, como diz Mino Carta, e o único país em que os jornalistas chamam o patrão de colega, mas isso está mudando. A duras penas os jornalistas aprenderam a lição.”

Diretas já

O diretor empossado Felipe Canêdo leu, durante a solenidade, o “Manifesto Suprapartidário pelas Eleições Diretas Já”, do qual o Sindicato dos Jornalistas é um dos signatários. Ele lembrou que o Sindicato tem relação profunda com a bandeira, uma vez que o movimento Diretas Já! foi lançado na Casa do Jornalista em 1984.

O documento afirma que Belo Horizonte quer votar para presidente e que não há saída para o impasse que o país vive senão pela democracia, com a realização de eleições.

O 10º Prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público foi patrocinado pela Unimed BH, Sindágua, CDL BH e Cemig.

 

(Na foto, a nova diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais na posse. Crédito da foto: Charles S. Duarte.)

[26/6/17]

1 COMMENT

  1. Parabéns, para nova diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Desejo a todos muito sucesso e grandes conquistas. Estamos todos (as) unidos (as) na luta em defesa da vida e do bem viver. Abraços a Alessandra Mello e demais companheiros (as). Ana Lúcia Figueiredo

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here