Dinheiro da carne podre foi parar no jornal Hoje em Dia?

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A operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira 17/3 pela Polícia Federal, tem um aspecto que a liga à venda do jornal Hoje em Dia pelo Grupo Bel de Comunicação ao empresário e político Ruy Muniz. É que uma das empresas de agronegócio investigadas, a JBS pertence ao grupo J&F, que adquiriu o edifício sede do jornal belo-horizontino, numa operação que o Ministério Público do Trabalho (MPT) considerou fraudulenta. Daí as perguntas feitas hoje pelos jornalistas mineiros: foi o dinheiro da carne podre que comprou a sede do Hoje em Dia? Como ele chegou às mãos dos antigos proprietários, a família Carneiro, do Grupo Bel? Quem teria intermediado o negócio?

Estranhamente, os veículos de comunicação, com algumas exceções, ao noticiarem com alarde a operação Carne Fraca, deixaram de mencionar que a J&F era presidida pelo atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, até que este assumisse o ministério. É a segunda vez que a J&F é alvo de investigação, a primeira foi na Lava Jato.

No documento do MPT datado de janeiro deste ano, a J&F surge inesperadamente como compradora da sede do Hoje em Dia, às vésperas da venda da empresa pelo Grupo Bel para Ruy Muniz. O valor do negócio teria sido R$ 18 milhões, dividido em 10 parcelas.

Representando empregados dispensados do jornal nos dias 29 de fevereiro e 1º de março do ano passado, sem receberem acerto nem salários, o advogado do Sindicato dos Jornalistas, Luciano Marcos, pediu a hipoteca judiciária do prédio para quitar a dívida trabalhista da empresa. O grupo Bel informou então que não tinha dinheiro a receber, pois o pagamento tinha sido antecipado.

Toda essa operação, que deixou a empresa sem patrimônio para honrar a dívida com seus empregados e possibilitou ao Grupo Bel sair do mau negócio feito em 2014, quando comprou o jornal da Igreja Universal, chamou atenção do procurador do trabalho Victório Álvaro Coutinho Rettori, no seu parecer ao processo. Como se sabe, nas mãos do Grupo Bel, o Hoje em Dia apoiou ardorosamente a candidatura a presidente do tucano Aécio Neves, adotando práticas que prejudicaram profundamente a reputação do jornal.

Ministério Público

Transcrevemos a seguir trecho do parecer do procurador referente à venda do imóvel.

“Também não convence a alegação do 6º réu FLÁVIO JACQUES CARNEIRO de que os 18 milhões de reais provenientes da venda dos 2 imóveis para a empresa J&F EMPREENDIMENTOS S.A. foram utilizados exclusivamente para a quitação de dívidas do 1º réu EDIMINAS S.A., mesmo porque o documento de fls. 1689/1690 não tem qualquer validade contábil ou jurídica, tratando-se de uma mera planilha.

Por sua vez, os documentos de fls. 1595 e 1631/1633 também não comprovam a destinação dos 18 milhões de reais, uma vez que retratam apenas um passivo elevado e referente a um período anterior à alienação dos 2 imóveis, além de uma simples análise comparativa do 1º semestre de 2014 e do 1º semestre de 2015 do passivo da empresa, ou seja, de períodos também anteriores à venda dos 2 imóveis.

De todo modo, para realmente comprovar a destinação dos 18 milhões de reais, o 6º réu FLÁVIO JACQUES CARNEIRO poderia e deveria ter juntado cópia de documentos contábeis oficiais, tais como Livro Razão Analítico, Livro Caixa, Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, entre outros, referentes ao período em que foram pagas as parcelas desses 18 milhões de reais, ou seja, de setembro/2015 a fevereiro/2016, mas assim não o fez. Por que? Portanto, não há outra alternativa senão buscar-se o paradeiro desses 18 milhões de reais, o que somente será possível por meio da quebra dos sigilos fiscais e bancários de todos os envolvidos, a começar da empresa J&F EMPREENDIMENTOS S.A., de onde supostamente esse dinheiro originou-se, e, daí, segui-lo até sua atual localização.

Diante dessas circunstâncias, é mais do que plausível, mas imperioso que esse Juízo defira o pleito do autor para a quebra dos sigilos fiscais e bancários da empresa J&F EMPREENDIMENTOS S.A., de seus acionistas, além de todos os réus, com exceção do 3º réu – RADIO E TELEVISÃO RECORD S.A., já que não há evidências de sua participação na prática de atos ilícitos nesta ação.

O Ministério Público do Trabalho, portanto, pugna pelo deferimento do pedido do autor para que se realizem pesquisas nos sistemas denominados CCS e SIMBA, mormente para averiguação do paradeiro do valor da venda do apontado imóvel, em quaisquer contas bancárias, sejam dos reclamados, seja da empresa J&F Investimentos S/A e de seus acionistas, e a averiguação de outras movimentações bancárias, inclusive aquelas que possam ser detectadas em nome de terceiros, visando com tais procedimentos colher informações da vida financeira dos envolvidos e efetuar o bloqueio de todo e qualquer valor financeiro que for detectado em contas bancárias, inclusive por meio do BACEN/JUD e que os respectivos valores possam ser colocados à disposição desse Juízo, com a finalidade de garantir o pagamento das verbas rescisórias e salários dos substituídos.”

3 COMMENTS

  1. A OPERAÇÃO CARNE PODRE foi feder na Rua Padre Rolim e no golpe dado nos jornalistas que até hoje, 22 de março, não receberam o que os donos da empresa não pagaram. O assunto ainda vai render e cheirar poder por muito tempo. Cruzes, gente…

    • São os proprietários do Grupo Bel.
      Grupo Bel – Wikipédia, a enciclopédia livre
      https://pt.m.wikipedia.org › wiki › Grupo…
      Grupo Bel é uma empresa brasileira com sede na cidade Belo Horizonte fundada por Marco Aurélio Jarjour Carneiro em 12 de junho de 1969.
      Fundação‎: ‎12 de junho de 1969 (47 anos)‎
      Sede‎: ‎Belo Horizonte, Minas Gerais; Brasil‎
      Fundador(es)‎: ‎Marco Aurélio Jarjour Carneiro‎
      Razão social‎: ‎Grupo Bel Ltda‎

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