Carlos Plácido Teixeira
Jornalista de Minas
Após seis anos enfrentando tempestades conjunturais severas, a jornalista Alessandra Mello volta ao ambiente onde encontra uma das suas paixões. A ex-presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais reassume o trabalho cotidiano na redação do jornalismo impresso de onde se licenciou para viver momentos desafiantes, que o cidadão atento à história brasileira não imaginava ocorrer mais, como a ascensão da extrema-direita ao poder e o ataque à democracia, mais uma vez com apoio das elites e da mídia tradicional.
A energia e a persistência para enfrentar desafios em série foram reconhecidas em depoimentos postados em redes sociais. Uma das mensagens merece destaque especial. Em um grupo no WhatsApp, o jornalista Eduardo Campos registra a “mais profunda admiração por uma das maiores guerreiras que conheci em meus 65 anos de existência: Alessandra”.
Na mensagem, apoiada por outros integrantes do grupo, ele assinala que muitos não têm ideia da magnitude do trabalho desenvolvido nos últimos seis anos para manter a entidade dos profissionais da imprensa viva. “Eu mesmo não tenho a noção exata, mas sei o suficiente para afirmar que ela foi GIGANTE”, escreveu.
Sou uma devota fervorosa da Alessandra. Merece todas as nossas homenagens e reverências.
Mirtes Helena ScalioniAlessandra é uma mulher admirável por todas as razões já expostas aqui pelos colegas. Eu pessoalmente ainda acrescento que ela empreendeu tudo com muito charme, competência e simpatia.
Teresa Cristina Mota
Desventuras em série
Nome de uma coleção de livros infanto-juvenis, depois transformada em filmes, “Desventuras em Série” define a saga vivida por Alessandra Mello desde o momento em que assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas, em 2017. No contexto nacional, o golpe contra Dilma Rousseff, no ano anterior, preparou o cenário de acontecimentos inesperados. Desafios sequenciais. Ou melhor, crises.
Eduardo Campos assinala que “talvez nem no período da ditadura tenhamos enfrentado momento tão adverso, seja pelo avanço da destruição da profissão e da categoria, iniciada pelo neoliberalismo há mais de 30 anos, seja pela gravíssima situação financeira dela derivada, com o sério agravante da pandemia”.
Em Minas, governado pelo petista Fernando Pimentel, a categoria ainda enfrentava a influência e o poder de censura do PSDB de Aécio Neves.
O corte dos recursos para as entidades dos trabalhadores veio com a aprovação da reforma trabalhista, no governo de Michel Temer, em 2017. “De uma hora para outra, perdemos quase 70% de nossa receita”, recorda Alessandra Mello, que chegou a usar dinheiro pessoal para pagar despesas do sindicato. Com contas negativas, a entidade foi obrigada a cortar o trabalho de seis funcionários. A possibilidade de fechamento foi imaginada no contexto dos acontecimentos em série.
Além da “reforma trabalhista insana e irresponsável”, que atacou os direitos do trabalhador e, ao mesmo tempo, enfraqueceu as entidades de classe, as diversidades prosseguiram com a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência. Durante quatro anos, o líder da extrema-direita perseguiu sistematicamente a imprensa, estimulando o ódio contra os jornalistas. Intervir e promover denúncias sobre casos de violência passou a ser rotina do SJPMG.
Segundo o relatório “Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil”, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o País registrou recordes de violência contra os trabalhadores em 2021. Foram 430 episódios de agressões verbais e ataques virtuais até atos de violência contra a organização dos trabalhadores. A lista inclui ameaças, assassinato, impedimento ao exercício profissional.
E também veio a pandemia, responsável pela aceleração da crise e decadência da imprensa tradicional, que segue sem encontrar um modelo de negócios capaz de garantir o faturamento para sustentar a contratação de jornalistas. Além de enfrentar a concorrência de mídias digitais, o jornalismo sente os reflexos da influência das fakenews e da perda de credibilidade do jornalismo.
O ambiente mudou com o terceiro mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva. E Alessandra Mello continua no Sindicato, como integrante da diretoria, enquanto atua como profissional e defensora da categoria.
Confira a mensagem do jornalista Eduardo Campos:
SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ, ALESSANDRA…
Gostaria de registrar aqui minha mais profunda admiração por uma das maiores guerreiras que conheci em meus 65 anos de existência: Alessandra, que deixou a presidência do Sindicato dos Jornalistas na última sexta.
Creio que muitos não têm ideia da magnitude do trabalho que ela desenvolveu nos últimos seis anos, e que vai continuar, agora sob a liderança da também brava Lina. Eu mesmo não tenho a noção exata, mas sei o suficiente para afirmar que ela foi GIGANTE.
Talvez nem no período da ditadura os que passamos pelo sindicato tenhamos enfrentado momento tão adverso, seja pelo avanço da destruição da profissão e da categoria, iniciada pelo neoliberalismo há mais de 30 anos, seja pela gravíssima situação financeira dela derivada, com o sério agravante da pandemia.
Alessandra fez de tudo e muito mais para enfrentar essa barra. Foi combativa e ampla ao mesmo tempo. Fez as alianças possíveis, sem comprometer os princípios e valores que defendeu já em sua primeira campanha. Teve que dispensar, com muita dor, a quase totalidade dos funcionários, por absoluta falta de dinheiro, ficando apenas a escudeira Jô.
Pôs, literalmente, a mão na massa, pintando ela própria a sede da entidade. Prestou assistência a jornalistas em situação de vulnerabilidade, correndo atrás de ajuda para aliviar a situação deles. Esteve, todo o tempo, na linha de frente da luta democrática e no combate ao fascismo que se instalou em nosso país, posicionando-se sempre do lado dos interesses populares.
Eterno reconhecimento e eterna gratidão pela inestimável contribuição prestada por ela.
VIVA ALESSANDRA!!!