Agências de notícias esperam “grande revolução” com inteligência artificial

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Redação de jornalistas com profissionais usando os seus computadores - Foto: Unsplash
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Presidente executivo da agência de notícias italiana acredita que a Inteligência Artificial na primeira fase trará maior “eficiência” à forma ao jornalismo mas com custo para emprego dos jornalistas


“Nunca sabemos quão grande é o fenómeno, mas talvez seja a maior revolução desde a introdução da imprensa”. A afirmação é de Stefano de Alessandri, presidente executivo da agência de notícias italiana, ao participar em Lisboa da conferência de primavera da Aliança Europeia das Agências de Notícias (EANA, na sigla inglesa), realizada em maio.

O executivo acredita que a revolução tende a ultrapassar o feito de Gutenberg, que inventou a imprensa no século 15. “Pessoalmente acho que será uma grande revolução”, mas em diferentes estágios, considera. A curto prazo, a IA terá muito a ver com “eficiência”. Ou seja, muito provavelmente “irá cancelar alguma parte do nosso trabalho, do trabalho dos jornalistas que é repetitivo e sem valor acrescentado e criaremos condições para uma eficiência muito maior”, explica.

Claro que isto terá efeito “no emprego”, como sempre aconteceu quando foi introduzida tecnologia. Ele reforça a crença sobre a possibilidade de que, a médio prazo, serão criadas novas oportunidades de negócio, o que irá “afetar não apenas o lado dos custos, mas também o lado das receitas”.

Já a longo prazo, “ente cinco a 10 anos, irá provavelmente criar um novo ecossistema em que tudo será diferente e o papel das agências de notícias também será mudado”. Stefano de Alessandri segue a linha de que a IA é uma “oportunidade” porque traz de volta a inovação para o negócio e pode criar um novo fluxo de receitas, além de mais eficiência.

Aumento da desinformação

O executivo italiano admite que um dos riscos que se enfrenta com o desenvolvimento da inteligência artificial é a questão da desinformação, porque é uma “ferramenta muito poderosa para criar ‘fake news'”. Por outro lado, também é uma ‘arma’ para verificar a vericidade dos fatos e detectar notícias falsas.

Diante das preocupações, ele defende a necessidade de que os governos lidem com o assunto de forma clara, porque a ausência de controles pode afetar seriamente as eleições”, entre outros aspetos, sublinha. O Governo italiano, por exemplo, assinala, “está trabalhando arduamente em leis sobre o tema”, diz, recordando a aprovação recente da lei europeia sobre inteligência artificial (IA Act).

Com todas estas mudanças, também o papel das agências de notícias vai evoluindo.

Rapidez versus confiança

Stefano de Alessandri identifica mudanças de comportamentos nos modelos de produção de conteúdos informativos. “Há alguns anos eu diria que uma agência de notícias deveria ser sempre a primeira a dar a notícia porque é o nosso papel ser o primeiro no mercado, estamos na base do sistema”, diz o CEO da ANSA.

“Agora, pelo menos na Itália, o objetivo deixa de ser sair primeiro, mas uma vez que a ANSA publique a notícia” todo o sistema tem de estar completamente seguro de que aquilo que a ANSA disse “é absolutamente verdade”, relata. Isso representa a mudança no papel da agência.

O presidente executivo da agência de notícias francesa AFP, Fabrice Fries, afirmou, também em entrevista à Lusa, que o papel da IA para as agências noticiosas funcionará “principalmente, como uma ferramenta de produtividade”. “Na AFP não produzimos conteúdos com IA. Acho que é o mesmo com a maioria dos membros da EANA”, mas “isso pode mudar”, adverte Fabrice Fries, destacando que a alucinação do ‘Large Language Models’ (LLM) [grandes modelos de linguagem] faz com que a informação não seja confiável. E que esse é um risco que tem de ser combatido.

A alucinação do LLM acontece quando a informação dada pelo sistema de IA, embora pareça coerente, apresenta dados incorretos, errados ou tendenciosos.

O presidente da AFP considera também que IA “é ao mesmo tempo uma ferramenta que pode ajudar os “fact-checkers’ a verificar de uma forma melhor, mas também – e temo que a preocupação seja maior do que a oportunidade que existe – pode democratizar a desinformação porque qualquer pessoa agora com uma ferramenta de IA pode produzir ‘deep fakes'”.

‘Deep fakes’ são vídeos manipulados com recurso a inteligência artificial, sendo um dos grandes motivos de preocupações por parte de governos, organismos internacionais e cidadãos.

Atualmente, “vemos no mercado muitas ‘deep fakes’ e a maior preocupação, para mim, é esta desconfiança geral em relação ao jornalismo”, porque as pessoas deixam de saber em quem podem confiar.

Fabrice Fries sublinha que “as agências de notícias têm a missão de expor os factos de forma imparcial”. E que, considera que “são extremamente úteis precisamente porque hoje a desinformação é massiva, porque há uma polarização do debate em cada país” e “estamos aqui para produzir jornalismo honesto, informação factual”.

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