Mulheres jornalistas na América Latina: entre a precarização e a violência

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Mulher sentada com computador no colo. - Pesquisa mostra desafios do trabalho da mulher jornalista na América Latina Imagem: free stock photos from www.picjumbo.com from Pixabay
Pesquisa mostra desafios do trabalho da mulher jornalista na América Latina Imagem: free stock photos from www.picjumbo.com from Pixabay

Pesquisa revela que a palavra que define as trabalhadoras da mídia é “emprego múltiplo”: quatro em cada dez jornalistas pesquisadas ​​têm mais de um emprego intermediário

FENAJ

Uma pesquisa realizada pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) na América Latina e Caribe revelou a situação das mulheres que trabalham na imprensa na região: 66% delas precisam procurar empregos fora da área de comunicação para complementar sua renda. E mais da metade delas afirmam ter colegas homens que recebem salários mais altos pelo mesmo trabalho.

Além disso, o relatório revela que quase 60% das mulheres entrevistadas sofrem violência de gênero por parte de colegas e/ou chefes do sexo masculino e um número semelhante afirmou que não existem ferramentas nos seus locais de trabalho para lidar com estas situações. O levantamento foi realizado com o apoio da Union to Union (UTU).

Mais de 300 jornalistas de 15 países da região participaram da pesquisa realizada pela FIJ entre setembro e novembro de 2023. Os resultados de seu trabalho estão incluídos no relatório “Situação das trabalhadoras da mídia na América Latina e Caribe”, cujo objetivo é servir de insumo para o desenvolvimento de soluções coletivas de sindicatos e organizações profissionais que reúnam mulheres jornalistas.

A palavra que define as trabalhadoras da mídia é “emprego múltiplo”: quatro em cada dez jornalistas pesquisadas ​​têm mais de um emprego intermediário, e 66,7% afirmam que precisam assumir empregos fora da área para complementar sua renda. 60% das respondentes dizem que são chefes de família ou que o seu rendimento é decisivo para o sustento da família. 82% delas afirmam que os seus colegas do sexo masculino recebem salários mais elevados pelo mesmo trabalho.

Os problemas no local de trabalho não se limitam apenas a questões econômicas: 59% das mulheres pesquisadas disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência por parte de colegas e/ou chefes do sexo masculino, e 55% disseram que seus empregos não têm ferramentas como protocolos ou guias de ação para lidar com essa violência.

Além disso, mais de dois terços das trabalhadoras que responderam à pesquisa disseram que foram questionadas sobre seu trabalho de forma diferente dos colegas homens. As agressões não se limitam apenas ao local de trabalho: mais de um terço das jornalistas (38%) sofreu agressões ou ameaças relacionadas a gênero on-line ou nas mídias sociais em relação ao seu trabalho jornalístico.

Conforme afirma o relatório, é necessário reconhecer a existência da violência contra as mulheres jornalistas e suas consequências como um problema que afeta a pluralidade de vozes e, portanto, as democracias como um todo. Tanto as associações como os sindicatos profissionais devem oferecer a estas mulheres espaços de trabalho seguros e garantir seu desenvolvimento profissional, que é afetado pela autocensura e outras estratégias adotadas diante dos ataques.

Nesse sentido, aumentar a consciência do caráter público do problema e enfatizar que não se trata de incidentes isolados – muito menos “provocados” por mulheres jornalistas – é o primeiro passo fundamental para fornecer uma estrutura coletiva de apoio às trabalhadoras.

O levantamento, que contou com a colaboração de organizações latino-americanas filiadas à FIJ e o apoio da UTU, é um insumo fundamental para a busca de soluções coletivas por parte de todas as organizações sindicais e profissionais da região. Sem espaços de trabalho seguros e sem remuneração igual para as mulheres que trabalham na mídia, elas não podem ter liberdade de expressão.

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