Por unanimidade, a assembleia do Sindicato dos Jornalistas profissionais do Estado de Minas Gerais (SJPMG) aprovou o projeto de reforma e requalificação do imóvel onde funcionam o Sindicato e a Casa de Jornalista de Minas.
O projeto, elaborado pelo escritório de arquitetura de Gustavo Penna, prevê a implantação de novos espaços na edificação, que, após a conclusão das obras, passará a contar com auditório para 160 lugares, estúdio de gravação de áudio e vídeo, memorial, estações de trabalho (coworking), cafeteria, livraria, além de espaço para o funcionamento das diretorias das duas instituições.
O projeto prevê a manutenção do salão de entrada com todos os seus componentes originais, como o piso em taco, mobiliário, lustres e adornos no teto. Em uma de suas laterais será instalada a escada que dará acesso ao andar superior, onde será construído o auditório, e o elevador, que compõe o projeto de acessibilidade, que irá atender a todas as normais legais que regulamentam o assunto.
De acordo com o projeto, o auditório será construído sobre a laje, ocupando apenas uma parte da área central da edificação, cujo telhado será mantido e irá circundar o espaço do auditório. O projeto aprovado em assembleia de jornalistas associados prevê a manutenção da fachada original, mas introduz modificações na entrada da edificação, também para atender às normas de acessibilidade.
A apresentação do projeto na assembleia foi feita pela arquiteta Laura Penna, que é filha de Gustavo Penna e foi quem coordenou o grupo que elaborou o projeto. Ela considerou a proposta uma ponte entre o passado e o futuro, pois moderniza a edificação sem que esta perca sua essência. “Essa identidade será mantida, pois a história do Sindicato e da Casa precisam continuar sendo contadas”, ressaltou Laura Penna.
Esta foi a primeira vez que um projeto de arquitetura que prevê alterações no imóvel foi aprovado pelos jornalistas, que rejeitaram, por ampla margem, as duas tentativas anteriores. Um primeiro projeto previa a derrubada do imóvel e a construção de um prédio no seu lugar. Nele funcionaria o Sindicato e a Casa, que lucrariam com a locação dos demais espaços. Uma segunda tentativa previa a manutenção do imóvel com a construção de um prédio nos fundos. Essa segunda ideia também foi rejeitada pela categoria.
O projeto não prevê a construção de prédio anexo e mantém as características da edificação, incluindo sua fachada. Um segundo andar, onde ficará o auditório, será construído na parte central da casa e, conforme explicou Laura Penna, interferirá pouco na estética da edificação, pois suas paredes serão de vidro e circundadas pelo telhado, que será mantido.
Sugestões de ajustes
Uma primeira versão do projeto foi apresentada no dia 14 de novembro último. Essa primeira versão sofreu críticas porque previa a instalação, no salão de entrada, de parte das estações de trabalho que compõem o coworking. Essa ponderação foi levada ao escritório de arquitetura, que ontem apresentou um novo estudo, que prevê a manutenção do salão sem que sejam nele instaladas as estações de trabalho. Estas ocuparão apenas uma sala, ao lado do salão, que, com isso, será, em sua quase totalidade, mantido, cedendo espaço apenas para a construção da escada para o andar superior e o elevador.
O restante do salão será mantido segundo suas características arquitetônicas originais, cuja importância para os jornalistas foi muito ressaltada na assembleia anterior. Por isso foi feito o ajuste no projeto, de forma a manter-se o salão, que, no lugar das estações de trabalho irá abrigar uma sala de visitas, onde ficará o mobiliário já existente.
Recursos virão de lei de incentivo
A previsão é de que o projeto de reforma e revitalização do imóvel seja custeado com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultural (Leic), ao qual será formalizado até amanhã, quando se encerra o prazo para a apresentação de projetos em 2023. A expectativa é de que até meados de março de 2024, o projeto esteja devidamente aprovado pela Leic. Com isso, estará apto a receber recursos, que deverão ser captados por uma comissão a ser designada pelo Sindicato dos Jornalistas com este fim específico. À medida que os recursos foram sendo captados, serão implementadas as diversas etapas que compõem o projeto.
A mesma comissão ficará responsável por analisar a possibilidade de solicitar o tombamento do imóvel em nível municipal, não tanto por seus atributos arquitetônicos, mas, principalmente por seu valor cultural e histórico. A ideia foi sugerida na reunião pelo jornalista Mauro Werkema e recebeu o respaldo técnico da arquiteta Laura Penna.
Segundo ela, o conceito de tombamento mudou nos últimos anos, não estando mais restrito apenas aos aspectos arquitetônicos da edificação, mas a várias outras de suas características. Se o tombamento for obtido, o Sindicato poderá receber um valor financeiro razoável em Unidades de Transferência do Direito de Construir (UTDC) correspondentes à metragem da qual o Sindicato abriria mão de construir naquele local. Estas UTDCs seriam adquiridas por quem precisa de metragem adicional aos limites fixados pela Lei de Uso e Ocupação do Solo no local onde pretende construir.
Próximas etapas
A próxima etapa será a elaboração dos projetos executivos de hidráulica, elétrico, estrutural (para dimensionamento do reforço que o imóvel terá que receber para a construção do auditório no piso superior), e de redes de computador, entre vários outros. Somente após a elaboração destes projetos, a obra será iniciada. A Lei estabelece um prazo de 24 meses para a implementação do projeto em todas as suas etapas, incluindo a obra em si. A mesma equipe de consultores que está cuidando do projeto, da Vivas Cultura e Esporte, irá apresentá-lo também à Lei Rouanet, para possibilitar a captação de recursos públicos no nível federal.
Para a presidente do Sindicato, Lina Rocha, a aprovação do projeto ontem foi importante por duas razões: a primeira é que a reforma e requalificação do imóvel abrem novas frentes de manutenção da entidade, com o aluguel do auditório e do estúdio, por exemplo, ao mesmo tempo em que fazem um resgate da memória e da história do Sindicato e da Casa, pois o projeto prevê a manutenção do salão e a implantação do Memorial do Jornalismo Mineiro, para onde será transferido o projeto da artista plástica Yara Tupinambá.
Na primeira reunião de apresentação do projeto, quem levantou a necessidade de preservação do salão segundo suas características originais foi o jornalista Aloísio Morais, que também participou, ontem, da segunda assembleia. Ele afirma que, desde o início, achou o projeto muito interessante e que apenas ponderou quanto à necessidade de preservar o salão. Com o ajuste feito, ele se considera satisfeito por ter sido preservado o que ele afirma ser a marca registrada do Sindicato –a fachada e o salão. Satisfeito com a aprovação do projeto, ele afirma que agora é torcer para que o projeto seja implementado e se garanta a manutenção desse patrimônio – o imóvel como um todo – que a categoria tanto merece.