Depoimento do repórter fotográfico do Hoje em Dia, agredido por bolsonaristas em Belo Horizonte
Quinta-feira, dia 5
Fui escalado para fazer imagens da manifestação dos bolsonaristas em frente ao quartel. Cheguei pelo lado de cima, onde há um pequeno tanque de guerra estacionado na rua, e comecei a fazer as imagens. Neste momento, o homem que estava em cima do carro de som, falando ao microfone para os manifestantes, por volta de 16h45, conseguiu me visualizar de longe e quis dialogar comigo com palavras ameaçadoras.
Imediatamente ele incitou os manifestantes a me pegarem e me expulsarem dali, pois eu não teria autorização para fazer registros fotográficos ou mesmo fazer filmagens naquele local. Foi quando um batalhão de covardes me cercou, pela frente e por trás, proferindo palavras de ordem. Com gritos veementes e ameaçadores, começaram a me encurralar.
Continuei segurando a câmera e o celular utilizado para gravar o vídeo. Foram 30 segundos de filmagem.
Foi quando o linchamento começou. Com socos, pontapés, pauladas no corpo e na cabeça. Ao tentar correr para baixo, na avenida Raja Gabaglia, recebi uma paulada no meu equipamento, que partiu a minha câmera fotográfica em duas partes.
Continuei tentando sair daquele linchamento covarde, realizado por homens e mulheres ao mesmo tempo. Ao tentar me abrigar debaixo de um veículo do outro lado da via pública, percebi fortes dores na cabeça. Ao passar a mão, vi que estava cheia de sangue. Nem mesmo deitado no chão e sangrando, o linchamento diminuiu.
Dois homens me arrastaram para fora do carro e tentaram, a todo custo retirar e levar o meu colete e todo o equipamento de trabalho. Não conseguiram.
Quando percebi que, se eu não tentasse sair daquele local, o linchamento iria continuar, levantei e mesmo totalmente atordoado com as agressoes, corri em direção à avenida.
Avistei um táxi, que me deixou entrar e que me levou para o hospital. Então, consegui verificar que os bolsonaristas covardes tinham roubado o corpo da câmera fotográfica. Levei pontos na cabeça e passei a noite em observação no hospital devido às pancadas na cabeça.