Jornalismo em tempos de estupidez e resistência

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enquanto brasileiros se manifestam a favor da palestina, a imprensa comercial defende israel - Fotos: Roberto Parizotti
enquanto brasileiros se manifestam a favor da palestina, a imprensa comercial defende israel - Fotos: Roberto Parizotti

Anotações pessoais sobre o cenário atual e rumos do jornalismo no Brasil e no mundo


Carlos Plácido Teixeira
Jornalista | Diretor do SJPMG

No Twitter, ou “X”, nove entre dez comentários relacionados à expressão “o jornalismo” são negativos. “O jornalismo profissional ético está há um passo da morte no Brasil” afirmam internautas, com ou sem argumentos. O cenário retrata unanimidades, da direita à esquerda.

No momento, o Estadão lidera o ranking de frequência dos comentários mais negativos. A esquerda, especialmente, expressa críticas pela abordagem tendenciosa do jornal da elite paulistana em relação à cobertura do governo Lula e do massacre israelense em Gaza. A Folha de S. Paulo também recebe grande volume de críticas, por conta do mesmo posicionamento pró-ocidental, estadounidense e sionista. Em seguida, o jornalismo da Globo consegue receber ataques de todos os lados.

Em síntese: a imprensa está sendo massacrada diariamente nas redes sociais.

E daí?

Os jornalistas serão, amanhã, os principais prejudicados pelo comportamento atual da mídia comercial. A insanidade da direita tende a ser amplificada pela atuação de grupos radicais. Hoje, mesmo jornalistas conservadores são apontados como petistas, em textos repletos de ódio.

Luis Nassif

Jornalista

O jornalismo brasileiro parece ter perdido totalmente a noção de relevância. O que se tem é um palpitômetro vazio, superficial, palpite de rede social, de quem não parece dispor de mínima condição de uma crítica fundamentada, praticando exclusivamente o jornalismo de implicância.

Novo jornalismo

Financiamento coletivo – Fortalecer o jornalismo independente do Nordeste é o objetivo de diversas organizações do Nordeste, que se uniram de forma inédita para lançar uma campanha conjunta de financiamento coletivo. A proposta leva o nome de “Balaio Nordeste de Jornalismo Independente”. Os recursos arrecadados devem garantir a  produção de conteúdo jornalístico de qualidade feito a partir do próprio território. Com a arrecadação online, pretende-se atingir a meta de R$32 mil.

A ideia surge a partir da necessidade de garantir a manutenção e a existência de um jornalismo plural no Nordeste, feito de maneira independente, sem amarras e qualquer interferência de grandes empresas e grupos políticos nas linhas editoriais dos veículos. (MarcoZero)

Fundações apostam no jornalismo local – Vinte quatro fundações privadas norte-americanas se comprometeram a reunir 500 milhões de dólares para iniciar a criação de um fundo de um bilhão de dólares a serem usados na recuperação e fortalecimento do jornalismo local nos Estados Unidos. Trata-se do maior esforço já feito até agora no país para reduzir a multiplicação dos chamados desertos informativos, regiões sem nenhum veículo jornalístico. (Observatório da Imprensa)

Livro revela narrativas da colonização – Jornalista Bernardo Esteves lança obra que revela narrativas silenciadas sobre a colonização da América. Livro do repórter da revista piauí, que é egresso da UFMG, provoca questionamentos sobre aquilo que os cientistas ignoraram na construção da história do continente. (UFMG)

Tecnologias no jornalismo

Impactos da IA – A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF), em conjunto com 16 parceiros, divulgou a Carta de Paris sobre inteligência e jornalismo, com o objetivo de definir princípios e padrões éticos para jornalistas, redações e meios de comunicação na sua relação com a inteligência artificial. (Sapo)

Monitoramento do governo – A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) começa a monitorar decisões tomadas pelo governo federal sobre publicidade de documentos produzidos por órgãos públicos. Será possível acessar, tanto no site da Abraji quanto na newsletter Achados, uma seleção de decisões da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre publicidade a documentos pedidos pela sociedade. (Abraji)

Força para os sindicatos – Trabalhadores de Hollywood conseguiram regulamentar uso da IA e trabalhadores automobilísticos terão aumento de 25%. (Opera Mundi)

Franceses testam o ChatGPT – Dois diários regionais franceses, o L’Est Républican e o Vosges Matin, vão testar a utilização do ChatGPT “no âmbito estrito de revisão e correção de conteúdos propostos por correspondentes locais”. “A chegada da IA generativa às redações é inevitável e o nosso objetivo é antecipá-la ao testar as ferramentas disponíveis nos nossos processos de tratamento de informação”, afirmou o diretor-geral das duas publicações, Christophe Mahieu. (Sapo)

Violência

Impunidade – Na 10ª posição do ranking global, o Brasil está entre os países que menos responsabilizam assassinos de jornalistas no mundo, de acordo com o Índice de Impunidade Global 2023, elaborado pelo Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) e lançado em 2 de novembro, Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas. (Abraji)

Jornalista censurada – A jornalista Schirlei Alves, do site Intercept, foi condenada pela juíza Andrea Cristina Rodrigues Studer, de Santa Catarina a um ano de prisão em regime aberto e R$ 400 mil em indenizações. Em 2020, ela revelou o tratamento cruel dado à influenciadora digital Mari Ferrer pelo advogado de defesa, promotor e juiz no julgamento do acusado de estupro. (Intercept)

Canal de denúncias – Criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), ainda no início do ano, após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, o Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais, ganhou um canal para o recebimento de denúncias sobre ataques à imprensa. (Coletiva.net)

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