Marcelo Freitas e Daniela Arbex estão na final da 45ª edição da premiação, na categoria Livro-reportagem
Retrato dos bastidores da cobertura da imprensa brasileira sobre a pandemia, o livro “Nós Também Estivemos na Linha de Frente”, do jornalista mineiro Marcelo Freitas, diretor do SJPMG, é um dos finalistas do 45º Prêmio Vladimir Herzog, na categoria Livro-reportagem. Publicado pela Comunicação de Fato Editora, a publicação revela os desafios enfrentados pelos jornalistas durante a maior tragédia sanitária das últimas décadas.
Outra mineira, a premiada jornalista Daniela Arbex, autora de “Holocausto Brasileiro”, também está no páreo com o livro-reportagem “Arrastados – Os Bastidores do Rompimento da Barragem de Brumadinho, O Maior Desastre Humanitário do Brasil” (Editora Intrínseca).
Completam a lista “Direitos Humanos na História: Elas Que lutem!” (Emerson Coe Estúdio), de Emerson Coe e Marilin Genezareth; “Poder Camuflado – Os Militares e a Política, do Fim da Ditadura À Aliança Com Bolsonaro” (Companhia das Letras), de Fabio Victor; “Sem Máscara: O Governo Bolsonaro e a Aposta Pelo Caos” (Companhia das Letras”, de Guilherme Amado.
Os vencedores desta e de outras seis categorias – Arte, Fotografia, Produção Jornalística em Texto, Produção Jornalística em Vídeo, Produção Jornalística em Áudio, e Produção Jornalística em Multimídia – serão conhecidos na próxima terça-feira (10).
Com o subtítulo “As Histórias do Jornalismo na Pandemia”, “Nós Também Estivemos na Linha de Frente” foi lançado em agosto do ano passado. Noticiar o período caótico na história da humanidade não era uma opção – era, de fato, o exercício pleno da profissão. Se parte da classe jornalística pôde continuar sua rotina no formato home office, outros não saíram das ruas, dos hospitais, das estradas, do front da reportagem.
“Fiquei muito satisfeito, estar entre os finalistas do Vladimir Herzog significa reforçar a ideia central do livro, que foi a de mostrar a rotina e as histórias de vida dos profissionais da imprensa que atuaram durante a pandemia”, diz Marcelo Freitas a O TEMPO. “Essa inclusão reforça os objetivos do livro, que é o de valorizar e valorizar o jornalismo e os jornalistas, estes profissionais invisíveis que tiveram um papel crucial durante a pandemia”, completa.
Segundo o autor, a ideia do livro nasceu no início do ano passado com um objetivo fundamental: mostrar uma realidade que, se não fosse contada, “permaneceria na mais absoluta invisibilidade quando o mundo voltasse ao normal”.
“Escrevi o livro na expectativa de ajudar a quebrar o paradoxo que acompanha o jornalismo e os jornalistas desde que a profissão foi criada. O jornalista escreve sobre tudo e sobre todos, mas raramente escreve sobre a sua própria realidade. Então me veio um insight de que se essas histórias não forem contadas, vão ficar perdidas. Foi aí que comecei a fazer as entrevistas”.
Marcelo Freitas conversou com editores e repórteres de alguns dos principais veículos de comunicação (rádio, TVs, jornais impressos e portais de notícias) do país, e assessores de comunicação de instituições que atuaram durante a pandemia, entre os quais podemos citar o Instituto Butantan, a UFMG e o Ministério da Saúde. De O TEMPO, colaboraram o editor executivo Juvercy Júnior, os repórteres Gabriel Rodrigues e Vitor Fórneas e o fotógrafo Flávio Tavares.
O autor diz que mostrar como foi o trabalho em home-office, particularmente para as mulheres jornalistas, “que tiveram que juntar, em um único ambiente, a sua própria casa, o espaço do trabalho e o espaço do cuidado com os filhos”, foi um dos esforços centrais da obra. “Também era importante mostrar as ameaças que os jornalistas recebiam rotineiramente dos negacionistas, o trabalho das assessorias de imprensa, que trabalharam pesadamente durante a pandemia, e a parceria da imprensa com os cientistas”, conclui Marcelo Freitas.
Homenagens especiais
Desde 2009 as instituições promotoras retomaram a proposta original do Prêmio de homenagear, a cada edição, personalidades e profissionais com atuação destacada nas causas relevantes da Democracia, da Justiça Social e dos Direitos Humanos.
Neste ano, o jornalista e escritor Fernando Morais e a jornalista e documentarista Sônia Bridi recebem o troféu símbolo do Prêmio – a meia lua recortada com a silhueta de Vlado Herzog, uma criação do jornalista, artista plástico e designer Elifas Andreato. A repórter e apresentadora Glória Maria será homenageada in memoriam.
Fernando Morais
O jornalista e escritor Fernando Morais, reconhecido como um dos maiores jornalistas e principais biógrafos do país, trabalhou em redações brasileiras como da revista Veja, Jornal da Tarde, Folha de S. Paulo e TV Cultura. Recebeu três vezes o prêmio Esso e quatro vezes o prêmio Abril de Jornalismo. Foi deputado estadual por oito anos (1979-1987), Secretário da Cultura (1988-1991) e da Educação (1991-1993) do Estado nos governos Quércia e Fleury.
É autor de obras consideradas clássicas como A ilha (1976), Olga (1985), Chatô, o Rei do Brasil (1994), Cem quilos de ouro (2003), Na toca dos leões (2005), O mago (2008), Os últimos soldados da Guerra Fria (2011) e Lula – vol. 1 (2021).
Pelo livro-reportagem Corações sujos, recebeu o Prêmio Jabuti, em 2001. A obra trata da organização Shindo Renmei, criada no interior de São Paulo na década de 1940 por imigrantes japoneses, que cometeu atos de violência contra outros imigrantes japoneses e nipo-brasileiros após a derrota do Japão na 2ª Guerra. Ganhou adaptação para o cinema em 2011 com o título Kegareta Kokoro, em japonês, com direção de Vicente Amorim.
A biografia escrita por Fernando sobre Olga Benário Prestes, companheira de Luiz Carlos Prestes e mãe da historiadora Anita Leocádia Prestes, teve adaptação para o cinema em 2004 por Jayme Monjardim. Foi sucesso de bilheteria no Brasil e recebeu três prêmios no Grande Prêmio Brasileiro de Cinema de 2005. Chatô, o Rei do Brasil também foi parar no cinema, com produção e direção de Guilherme Fontes. O longa foi concluído em 2015 e navegou em universo ficcional a partir de episódios da vida do paraibano Assis Chateaubriand, magnata da comunicação e fundador dos Diários Associados.
O argumento para o longa ‘Operação Pedro Pan’, dirigido por Kenya Zanatta e Mauricio Dias (2020), nasceu após um encontro dos diretores com Fernando Morais, que cita o episódio no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria” . Operação clandestina apoiada pela CIA e Igreja Católica durante a década de 1960, em plena Guerra Fria, promoveu uma longa separação de famílias de classe média e alta cubanas: cerca de 15 mil crianças e adolescentes foram enviados pelos pais aos Estados Unidos sob o pretexto de fugir dos rumos que o governo de Fidel Castro tomava ao se aproximar da União Soviética.
Sônia Bridi
Jornalista, escritora e documentarista, Sônia Bridi atua como Repórter Especial na TV Globo há mais de três décadas. Foi correspondente da Rede Globo em Londres, Nova Iorque, Pequim e Paris, e é reconhecida como uma das principais vozes do jornalismo ambiental no Brasil.
Lançou em 2008 o livro “Laowai – histórias de uma repórter brasileira na China” (Editora Letras Brasileiras) e “Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco continentes” (Globo Livros, 2012) com relatos de suas viagens pelo mundo em busca de respostas para as alterações climáticas.
Trabalhou com o jornalista Glenn Greenwald nos Snowden Papers, revelando no Fantástico a espionagem do EUA e seus aliados que teve como alvos a então presidente Dilma Rousseff, a Petrobrás e o Ministério das Minas e Energia, além de empresas internacionais, o sistema Swift de transferências financeiras e o Ministério das Relações Exteriores da França.
Liderou a equipe de reportagem que denunciou o crime humanitário contra indígenas da tribo Yanomami, em Roraima, vítimas do garimpo ilegal. Cenas do resgate de crianças reféns da fome, desnutrição, malária e descaso do poder público na Terra Indígena Yanomami impressionaram o Brasil e o mundo quando veiculadas no programa Fantástico, da TV Globo, em janeiro deste ano.
Seu primeiro documentário – “Vale dos Isolados: O Assassinato de Bruno e Dom”, foi lançado em junho de 2023 pela Globoplay. Com direção de fotografia de Paulo Zero e roteiro de Cristine Kist, o filme é parte de “O Projeto Bruno e Dom – Uma Investigação sobre a Pilhagem da Amazônia”, que reúne 16 veículos e organizações jornalísticas de dez países, entre eles, a Folha de S. Paulo. A iniciativa é capitaneada pela Forbidden Stories, entidade dedicada a dar continuidade ao trabalho de jornalistas assassinados no exercício da profissão.
Glória Maria (in memoriam)
Repórter e apresentadora, Glória Maria foi uma jornalista pioneira. Integrou a equipe de jornalismo da TV Globo por mais de 50 anos. Foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, apresentou o Fantástico por quase uma década e comandou o Globo Repórter por mais de 12 anos.
Ao longo da carreira, Glória Maria visitou mais de 100 países em suas reportagens e protagonizou momentos históricos. Esteve com chefes de Estado e, em episódios icônicos do jornalismo brasileiro, entrevistou celebridades como Freddy Mercury, Michael Jackson e Madonna. Também cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982; a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista, em 1996; os Jogos Olímpicos de Atlanta, também em 1996; e a Copa do Mundo de 1998, na França.
Acima de tudo, Glória Maria foi uma inspiração. Foi ela uma das principais responsáveis por mostrar para milhões de meninas negras, de diferentes gerações, que o jornalismo era um caminho possível. Ao ser uma das poucas – ou, por muito tempo, a única jornalista negra à frente de vários dos programas de maior audiência do telejornalismo brasileiro, mostrou que o lugar de mulher negra é onde elas quiserem, inclusive no Jornal Nacional, no Fantástico ou no Globo Repórter.
Morreu no dia 2 de fevereiro de 2023 vítima de um câncer no pulmão contra o qual lutava desde 2019. Deixou duas filhas, Maria, de 15 anos, e Laura, de 14, e um legado de maior inclusão e diversidade que, aos poucos, passa a fazer parte do jornalismo brasileiro.
Sobre a premiação
A cerimônia solene do 45º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos será no dia 24 de outubro, terça-feira, das 20h às 21h30, no Tucarena, em São Paulo. A já tradicional Roda de Conversa com os Ganhadores antecederá a cerimônia.
O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento, Instituto Vladimir Herzog (IVH) e Família Herzog.
Um arco de alianças formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), TV PUC, União Brasileira de Escritores (UBE) e OBORÉ atua como grupo de parceiros realizadores desta 45º edição.
Calendário
45º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos | 2023
Divulgação dos finalistas: 3 de outubro CONFIRA AQUI
Sessão pública de julgamento e divulgação dos vencedores: 10 de outubro, das 14h às 17h. Transmissão ao vivo pelo Canal do YouTube do Prêmio
Roda de Conversa com os Ganhadores: 24 de outubro, das 14h às 17h, no Tucarena
Solenidade de premiação: 24 de outubro, das 20h às 21h30, no Tucarena.
Com informações de Bruno Mateus, de O Tempo e Fenaj