Imprensa independente discute a luta por democracia e acesso à informação

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Debate promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com representantes da imprensa independente. reforça a necessidade do governo enfrentar a disputa de narrativas

Por Redação RBA

A imprensa independente, livre do modelo comercial, que tende a responder aos interesses hegemônicos do grande capital, é essencial na trincheira da comunicação na defesa da democracia. Cobranças sobre a necessidade de um reposicionamento do governo federal nos tempos atuais foram o foco da roda de debates promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé no final de setembro.

As discussões sobre assuntos relacionados à comunicação durante o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelaram não um descontentamento e cobranças, mas um um desalento diante da perspectiva de repetição de velhos erros de quem não percebe que a mídia comercial tem lado, que não é o dos trabalhadores.

“Desde o golpe judicial, midiático e parlamentar contra Dilma Rousseff [em 2016], vimos a importância dessa turma que defende outra perspectiva midiática. A mídia hegemônica fez papel de assessoria da Lava Jato e agora vimos no que deu”, destacou o jornalista Felipe Bianchi, do Barão, que mediou o debate.

Desafios, propostas, erros e acertos entraram na pauta de três nomes da imprensa independente envolvidos historicamente com o desenvolvimento de projetos que questionam o modelo tradicional do jornalismo. O coordenador da TVT, Paulo Salvador, a jornalista e apresentadora da TV Fórum Cynara Menezes e o jornalista e colunista do Brasil 247 Dimas Roque.

Neste contexto, Salvador reforçou o ponto de vista de Bianchi. “Na TVT temos f,undadores e mantenedores sindicais, apoio luxuoso no sentido da solidariedade do MST, de associações. Somos a única TV aberta [independente]. Falo isso com alegria e tristeza. Alegria porque estou aqui neste projeto. Tristeza por ser o único, poderíamos ter mais. Já coloco uma crítica ao processo de comunicação. Somos a sexta televisão de 33 em São Paulo. Nosso alimento é o bom jornalismo”, disse.

Desafios do campo democrático

Cynara levantou voz crítica logo no início de sua fala. Ela refletiu que jornalistas do campo democrático seguem pensando e trabalhando em formas possíveis para enfrentar eventuais abusos da mídia burguesa. Contudo, todo esse esforço nem sempre encontra eco de apoio no governo federal. “Sempre falamos sobre falhas em uso de redes sociais, na comunicação em si. Enquanto membro da mídia independente, o que me preocupa é que, mais uma vez, a mídia alternativa não foi inserida no planejamento de comunicação”, disse.

A jornalista reforçou que existe relação com carência de recursos financeiros para realização dos trabalhos, mas não apenas isso. “Me refiro a tratar a nós, enquanto imprensa independente, igual às outras. Não pedimos nenhum privilégio. Só queremos o mesmo tratamento. Entendo que o governo goste de aparecer e procure a mídia comercial para isso. Óbvio. Mas o que acho lamentável é que a relação do governo do PT com a mídia independente é um tanto utilitarista. Durante a campanha, temos muitos convidados, somos prestigiados. Quando chegam ao governo, não é a mesma coisa”, afirmou.

Ruídos na comunicação

Este ponto crítico para Cynara é frequente alvo de reclamações dos jornalistas independentes. Por vezes, enquanto governo, existem barreiras aparentes de acesso a entrevistas, por exemplo, enquanto a mídia comercial parece ter acesso mais livre aos bastidores. “Os ministros e ministras do governo Lula estão quase o tempo inteiro na mídia comercial. E quase nunca na nossa. Quase nunca. Tem assessor de imprensa de ministro e ministra que nem responde às nossas mensagens. Muito menos aceitam dar entrevista.”

A pior queixa é em relação aos chamados furos que alimentam a imprensa como um todo. “Na hora de escolher para quem dar a informação exclusiva, o governo Lula dá para quem? Obviamente que para a imprensa hegemônica. Quem de nós teve acesso a informações exclusivas da CPMI? Vimos todos os dias em jornais que maltratam o governo diariamente”, criticou Cynara.

Apoio fundamental


Salvador, então, destacou questões relevantes para avançar em uma comunicação eficiente, realmente voltada à democracia. Para isso, é necessário, de acordo com o gestor, empenho governamental em um caminho construtivo que envolve atenção de diferentes formas. “Temos enormes desafios que são investimentos. Então, temos desafios financeiros. Precisamos financiar projetos para levantar a democracia”, disse.

“Temos problemas ainda. O principal é financeiro”, acrescentou. “Não dá para para a Globo receber R$ 54 milhões e você descer a lista e não nos encontrar [a TVT]. Existem inserções publicitárias de campanhas em grandes veículos da esquerda, muito pequenas, entre todos nós.”

Desafios da comunicação

O argumento de Salvador leva em conta uma conjuntura em que a democracia passou por desafios e fraquejos, estando em risco real de queda. Então, há de se ponderar que os tempos mais duros constroem um entendimento mais eficiente. Contudo, ainda parece pouco diante das grandes dificuldades que o cenário impõe, como a consolidação de ideologias fascistas aos escombros do neoliberalismo.

“Não temos como comparar Lula e Dilma antes do Bolsonaro com a virada. Houve uma organização, uma melhora da Secom. Linhas de transmissões, o conjunto das informações que circulam. Ouvi ministros falando, conversei com todas as estatais, existe uma preocupação. Mas, dentro da legalidade, toda audiência que temos é merecedora. É quase impossível pensarmos que a questão financeira vai ficar restrita à inserção publicitária em campanhas”, relatou Salvador.

Democracia e informação

Então, uma saída, de acordo com o gestor, é não temer a batalha vindoura na defesa da democratização da informação; luta que está coadunada com a defesa da democracia. “Acho que não pode ter medo. Existe uma preocupação, mas temos qualidade de conteúdo. Rejeito a mídia técnica, porque é igual banco, só dá dinheiro para quem tem garantia. Será sempre para os ricos. Reservar um pedaço de dinheiro para incrementar a democratização e o levantamento de outros veículos”, destacou também.

Por fim, o gestor pondera o cenário político que pode ser favorável. Lula, além de ser um grande comunicador, executa bem tarefas de um presidente. Os atos, contudo, apesar de falarem por si, precisam de veracidade na questão narrativa. “Essa disputa de narrativa não está suficientemente feita. Temos uma avalanche de informações e pouco debate. (…) Junto com isso, temos um cansaço. Era de se esperar que a comunicação da marca Lula tivesse milhões. Em qualquer veículo. Isso não ocorre. Não sei se é cansaço, preocupação com outras coisas, excesso de confiança. Isso precisa ser pesquisado. Então, a quantidade enorme de informações não está distribuída.”

Novas diretrizes

Já o jornalista baiano Dimas Roque, por sua vez, também aproveitou seu espaço para fazer coro às críticas e também ampliá-las à imprensa independente por certas condutas que ele não considera adequadas. “Cobramos muito, e com razão, informações privilegiadas. Também quero ter no meu blog, nas minhas redes sociais. Mas o que me incomoda é que, às vezes, alguém da direita comete um crime, uma agressão, deputado faz fala absurda. Então, grandes comunicadores da esquerda retransmitem tudo que a pessoa disse”, lamentou.

“O fechamento é esse. Vamos tornar aquela pessoa, quando tem mil seguidores, conhecida. É verdade. A pessoa termina os 15 minutos de fama com 1 milhão de seguidores. Aí, minha gente, não há governo no mundo que resolva essa situação. (…) Se a comunicação do governo tem erros, sabemos que tem, e cobramos — gosto de cobrar fora da mídia porque é meu governo, para não dar espaço para bater — alguns retransmitem aquilo queimando por algum tempo”, completou.

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