O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) recebeu uma relíquia das mãos do ex-presidente da entidade Paulo Lott: um pedaço da porta de jacarandá da sede do SJPMG, a Casa de Jornalista, localizada na avenida Álvares Cabral, que foi arrebentada por uma bomba em junho de 1980, durante a Ditadura Militar.
Presidente da entidade à época do atentando, Lott guardou parte da porta danificada e a transformou em um totem, entregue ontem por ele à atual presidenta do SJPMG, Alessandra Mello, e ao ex-presidente do Sindicato e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Washington Mello.
“Essa relíquia representa materialmente a luta do nosso Sindicato, desde a sua criação, há 80 anos, em defesa dos jornalistas, do jornalismo, da liberdade e da democracia. É com muito orgulho que recebemos esse pedaço da história dos jornalistas mineiros, que a ditadura, sem sucesso, tentou calar “, afirmou a presidenta que, no próximo dia 23, passa o comando da entidade para a presidenta eleita, Lina Rocha.
Ao longo de sua existência, o SJPMG foi alvo de três atentados terroristas, em abril de 1978, junho de 1980 e março de 1995. Ocorridas durante a noite, as explosões fizeram estragos na sede, mas não feriram ninguém.
A presidenta também destacou a importância da atuação de Lott à frente do Sindicato nesse curto período em que presidiu a entidade (1980/1981). Ele sucedeu Washington Mello , de quem era vice, que deixou a presidência do Sindicato para comandar a Fenaj. “Lott pegou pela frente uma pauleira, enfrentada com muita coragem”, destacou Alessandra Mello.
Logo quando assumiu o Sindicato dos Jornalistas, Paulo Lott comandou a luta em defesa de sete jornalistas mineiros processados pela ditadura, com base na Lei de Segurança Nacional, por terem noticiado um manifesto divulgado pelo Partido Comunista do Brasil no dia 7 de setembro. Além de processados, cinco deles foram demitidos pelos seus patrões (Jornal do Brasil, Agência JB, TV Manchete e TV Globo). Apenas a Rádio Itatiaia resistiu às pressões dos militares e não dispensou os jornalistas Márcio Dotti e Samuelito Mares.
Em defesa dos jornalistas, Paulo Lott e Washington Mello chegaram a contatar um procurador militar, que pediu dinheiro para não apresentar denúncia. O Sindicato não aceitou o suborno. Defendidos gratuitamente pelos mais renomados criminalistas mineiros, contratados pelo SJPMG, os sete jornalistas foram absolvidos por unanimidade pela Justiça Militar.