Bolsonarista que agrediu jornalista se retrata e pede desculpas

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Paulo César Bretas, 70 anos, que em março de 2021, durante manifestação bolsonarista, tentou golpear a cabeça de um jornalista com um capacete, retratou-se pela tentativa de agressão e pediu desculpas à vítima e a todos os jornalistas, que são alvo de uma escalada de violência nunca vista antes em Minas e no Brasil.

A retratação pública foi firmada em acordo fechado ontem no Juizado Especial Criminal em Belo Horizonte.

O repórter fotográfico do jornal Estado de Minas cobria uma manifestação em favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e as medidas de isolamento social, em frente ao 12º Batalhão de Infantaria do Exército, quando começou a ser hostilizado. Ele levou chutes, empurrões e quase teve a cabeça acertada por um capacete. A violência foi filmada pelo próprio repórter, que é fotojornalista há 20 anos, mas somente um dos agressores foi identificado e autuado em flagrante pela PM.

“Eu, Paulo Cesar Bretas, tentei agredir um jornalista do Estado de Minas durante uma manifestação pró-Bolsonaro. Por isso peço desculpas a ele e a todos os jornalistas que se sentiram agredidos. A liberdade de imprensa é um princípio basilar da democracia que todos devemos respeitar “, diz o texto da retratação, que foi lida pelo aposentado em cumprimento ao acordo judicial.

Durante a audiência de conciliação, o repórter destacou a importância pedagógica da punição para que fatos como esse não se repitam. “Quero que as pessoas ponham a mão na consciência e pensem na gravidade que é agredir um jornalista no exercício legítimo da profissão. É censura, é violência e é um ataque à democracia e a liberdade de imprensa”, afirmou o jornalista, que temendo represálias, pediu que seu nome não fosse citado. O jornalista afirmou ainda ter total desinteresse por indenização pecuniária. “Quero só trabalhar com segurança e respeito”.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alessandra Mello, que acompanhou a audiência, defendeu que todos os casos de violência contra jornalistas, mesmo os de menor potencial ofensivo, sejam apurados para ajudar a coibir a escalada de ataques aos profissionais da comunicação. “A impunidade é o combustível da violência. Tenho certeza que as pessoas que estavam naquela manifestação hostilizando e agredindo o jornalista, mas que infelizmente não foram identificadas pela Polícia, vão pensar antes de cometer novamente atos como esse”, afirmou Alessandra Mello.

Em 2021, o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação manteve-se nas alturas e chegou a bater novo recorde:  foram 430 casos, dois a mais que os 428 registrados em 2020, ano em que houve uma verdadeira explosão das violações à liberdade de imprensa no Brasil, de acordo com o Relatório Anual de Violência Contra Jornalistas publicado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) desde a década de 90.

O presidente Jair Bolsonaro, assim como no ano anterior, foi o principal agressor. Sozinho, ele foi responsável por 147 casos (34,19% do total), sendo 129 episódios de descredibilização da imprensa e 18 de agressões verbais a jornalistas.

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