A série de reportagens “Por dentro do fogo” feita por Daniel Camargos, da Repórter Brasil, e Dom Phillips, do jornal britânico The Guardian, com fotos de João Laet e edição de Ana Magalhães, foi indicada ao prêmio Gabriel Garcia Márquez – Gabo 2020, que premia as melhores reportagens da América Latina, Portugal e Espanha. A série é uma investigação reveladora sobre o Dia do Fogo, uma queimada gigantesca e criminosa organizada por fazendeiros e empresários, que devastou a Amazônia em 2019.
A série pode ser lida clicando aqui: https://reporterbrasil.org.br/dia-do-fogo/. Ela concorre na categoria Cobertura, com mais nove séries produzidas por veículos de diversos países da América Latina, além do New York Times En Español e El País de España e El País de Cali, Colômbia.
A Repórter Brasil também produziu a reportagem “GIG – A Uberização do Trabalho”, veiculada pela Globo News, e que foi selecionada na categoria Imagem.
Outros trabalhos brasileiros também foram indicados: “Arsenal global”, publicado no The Intercept Brasil, “Elas no Congresso”, publicado na revista Azmina, e “Radar Aos Fatos”, publicado no Aos Fatos, os três na categoria Inovação; “Os Americanos”, da Folha de S.Paulo, na categoria Texto.
Ao todo, 40 trabalhos concorrem ao Gabo 2020 nas quatro categorias. O resultado será conhecido no dia 21/1.
Trabalho de equipe
Daniel Camargos é repórter investigativo da ONG Repórter Brasil, diretor da Abraji e ex-vice-presidente do SJPMG. Trabalhou também nos jornais Estado de Minas e O Tempo. Em 2019, ganhou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais tradicionais do Brasil.
“Jornalismo é um trabalho de equipe, nada seria possível sem a retaguarda da Repórter Brasil, desde as áreas administrativa e financeira até a produção e edição”, ressalta Daniel, lembrando que a editora das reportagens, Ana Magalhães, também é mineira. Ela é coordenadora de jornalismo da Repórter Brasil.
Outro aspecto do trabalho que ele destaca é a parceira com outros veículos de comunicação, uma prática costumeira da Repórter Brasil. Além da parceria com o The Guardian, que publicou a primeira reportagem em inglês, e da parceria com a Globo News citada, outras reportagens da série foram publicadas também pela Folha de S. Paulo, pelo Uol e pela Carta Capital.
Além da repercussão nacional e internacional, a série “Por dentro do fogo” teve vários desdobramentos em 2020, com novas reportagens que atualizaram o tema no contexto da pandemia, e foi determinante na soltura, pela justiça, de três sem-terras que estava presos, sem provas e sem recursos para contratar advogados.
Impunidade e reincidência
A investigação conjunta da Repórter Brasil e do The Guardian percorreu duas florestas protegidas na região de Novo Progresso, no Pará, alvo de queimadas, e encontrou desmatadores reincidentes que não pagam multas ambientais, entre eles, um fiscal ambiental do Paraná e uma ex-candidata a vereadora. “Com crimes impunes e redução da fiscalização, queimadas de 2019 devem se repetir neste ano em meio à pandemia do coronavírus”, alertaram os repórteres, numa previsão que se confirmou.
A série foi publicada em outubro de 2019 e maio de 2020 e inclui as reportagtens: “Investigações apontam fazendeiros e empresários como responsáveis”, “‘De boa, quem não deve não teme’, diz principal suspeito”, “Sem-terras soltos após passarem 50 dias na prisão”, “Madeireiros seguem destruindo Amazônia e ameaçando assentados”, “Garimpeiros ilegais movimentam mercado de R$ 4 bilhões no Brasil” e “Madeireiros seguem destruindo Amazônia e ameaçando assentados”.
Os títulos expressam o cenário de violências, ilegalidades e destruições na Amazônia em 2019 e 2020. Um dos responsáveis pela destruição da Reserva Biológica Nascentes Serra do Cachimbo, área protegida, na divisa do Pará com o Mato Grosso, é o fiscal ambiental do governo paranaense Paulo José Parazzi de Andrade. Após derrubar a mata, ele plantou capim para a criação de gado. Andrade recebeu pelo menos seis multas ambientais do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que, somadas, chegam a R$ 5,4 milhões.
A reportagem flagrou caminhões carregados com toras retiradas de área proibida e constatou a sucessão de assassinatos e as ameaças que marcam a vida de lideranças locais. Em 2020, com o cenário da pandemia, que teve em Manaus uma das situações mais dramáticas no mundo, a queimada da floresta ampliou o número de vítimas de doenças respiratórias na região.
Um ano depois, outra reportagem mostrou que a queimada organizada por produtores rurais e empresários em agosto de 2019 permanecia impune e sem sequer indiciamento.
(Crédito da foto: João Laet.)
[7/1/21]