Lições da pandemia, por Fernando Ângelo

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Depois de sete meses, as lições que a pandemia nos deixa são, a meu ver, nenhuma. A menos que você não soubesse que a família é muito importante, que agir pensando no coletivo seja essencial, que manter hábitos de higiene preserva a saúde e que a solidariedade é o único caminho para um mundo melhor.

A dificuldade nos mostrou a importância dos profissionais da saúde, dos lixeiros, dos catadores de papel, dos caixas de supermercados, dos grandes cientistas – que buscam em tempo recorde a descoberta de uma vacina para a covid-19.

Estas coisas todas o ser humano já está cansado de saber. Mas movidos pela ganância, egocentrismo, egoísmo, a maioria segue o caminho na busca do seu próprio bem e não do coletivo. Porque parece que o homem não gosta do coletivo. Ele age coletivamente apenas quando vê que a sua própria pele está correndo um risco iminente.

A pandemia não trouxe lições, ela apenas escancara para o mundo o que já sabíamos: o homem, principalmente aquele que poderia amenizar a situação, não está nem aí para o próximo, quanto mais para o planeta.

Claro que têm aqueles que agem em prol do coletivo, mas são uma minoria. Veja, por exemplo, o esforço dos poderes executivos e legislativos aqui no Brasil, que mesmo com enormes dificuldades financeiras, liberaram verbas astronômicas aos estados, para o combate à pandemia.

Mas o que estamos vendo, vergonhosamente, em alguns casos, é o dinheiro limpo, necessário para o combate à epidemia, transformar-se em dinheiro sujo, ao circular nas cuecas de políticos idem.

As florestas ardem em chamas, na maioria dos casos provocadas por mãos humanas, ou melhor, desumanas, de agricultores inescrupulosos que não estão interessados em saber se o fogo vai se alastrar e matar plantas e animais indefesos, desde que sua produção de milho e soja cresça bonita e rentável.

Todos os dias, a natureza tenta nos dar avisos que simplesmente ignoramos. O ar nas grandes metrópoles ficou muito melhor de se respirar com a paralisação das atividades dos aviões, ônibus, caminhões e carros.

A Bahia da Guanabara ficou inacreditavelmente limpa sem o óleo das embarcações, assim como as águas da Lagoa de Veneza, na Itália, onde apareceram golfinhos nadando no meio de uma rica fauna e flora, há dezenas de anos escondidas sob as águas sujas.

Com estes exemplos, você sinceramente acredita que as pessoas vão se tornar melhores depois que cientistas encontrarem uma vacina? Você acha que vai acontecer uma mudança de paradigma nos comportamentos, na economia e nos governos?

Será que no “novo normal” os governos vão abandonar o crescimento econômico a qualquer custo e vão procurar o bem estar das pessoas, respeitando os limites do meio ambiente?

Ou mesmo com estas verdades e consequências escancaradas, nós vamos continuar agindo no “antigo normal?

Só o tempo nos dirá o quanto este triste período, em que mais de 1 milhão de pessoas foram mortas pelo vírus até hoje — sendo 160 mil só aqui no Brasil –, vai servir para conscientizar as pessoas que detêm o poder de que o mundo precisa mudar com urgência.

 

[23/10/20]

1 COMMENT

  1. Bom dia Fernando. Muito bom amanhecer o sábado lendo sua bela crônica . Você é diferenciado . Parabéns e sucesso sempre . Léo Perez

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