O jornalismo nunca foi um campo neutro para as mulheres jornalistas: a prática cotidiana profissional muitas vezes nos leva a fontes machistas, que se sentem no direito de nos desrespeitar por meio de grosserias, cantadas e insinuações, apesar de sermos maioria nas redações. Com muita luta, nossa pauta de conscientização do nosso papel na imprensa brasileira vem mudando esse cenário sexista e misógino. Mas quando a sociedade brasileira parecia atingir um nível razoável de convivência social e profissional entre homens e mulheres, eis que um presidente de extrema intolerância é eleito, passando a veicular um discurso de ódio em relação às mulheres, em mensagens nada subliminares de que o desrespeito está liberado; a violência recrudesceu.
É o que aconteceu no caso da jornalista Patrícia Campos Mello, autora de denúncia muito bem fundamentada dos disparos em massa de Whatsapp por apoiadores do presidente durante as eleições, configurando crime eleitoral: atitude profissional que se espera de uma jornalista ética e ciente de que o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental dos cidadãos e jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse (art. 2º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros), muito menos por quem ocupa o mais alto cargo do Executivo, em um Estado Democrático de Direito.
Por tudo isso, nós, mulheres do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) e do Movimento Feminista Mineiro Quem Ama Não Mata (QANM) repudiamos mais esta atitude de um presidente que a cada dia mostra a sua total incompetência e falta de dignidade para se manter num cargo que exige respeito e consideração a todos os brasileiros e brasileiras. Nossa solidariedade é muito mais que sororidade jornalística. Trata-se de respeito a todas as mulheres que têm por ofício defender a liberdade de expressão e o princípio do contraditório, doa a quem doer.
CHAMAMENTO PÚBLICO: convidamos o mulherio de todas as profissões, coletivos, organizações não-governamentais e outras entidades para um ato público de repúdio aos discursos misóginos do presidente Jair Bolsonaro, em 28 de fevereiro de 2020, sexta-feira, às 16 horas, na sede do SJPMG, à Avenida Álvares Cabral, 400, Centro. Os homens simpatizantes da causa serão muito bem-vindos.
[19/2/20]