Gestão Dória impõe censura em coletiva de imprensa

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Durante evento em que comandante da PM elogiou a transparência do governo, a repórter Maria Teresa Cruz, apesar de inscrita, foi impedida de participar; assessora quis saber antes o tema da pergunta.

A repórter e editora Maria Teresa Cruz, da Ponte Jornalismo, foi impedida de fazer perguntas durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (5/4) pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), do governo João Dória (PSDB), a respeito da ação da Polícia Militar em Guararema (SP) que terminou com 11 mortos.

Os funcionários da In Press, empresa terceirizada responsável pela comunicação da Segurança Pública, confirmaram no início do encontro que a repórter da Ponte estava inscrita para participar da coletiva. No momento da entrevista, contudo, pularam a vez dela e encerraram a coletiva, após sete perguntas, sem mais explicações.

Repórteres de outros veículos foram solidários e reclamaram da atitude da Secretaria da Segurança Pública. Um jornalista presente ao evento, que pediu para não ser identificado, relatou: “Achei desrespeitosa e seletiva ação da SSP, como ela costuma fazer cotidianamente, inclusive com casos considerados menores. Eles respondem conforme seus interesses e nitidamente optam pela política da omissão de suas ações. Com a Ponte, eles nitidamente boicotaram o direito da jornalista em questionar, sendo que ela foi uma das primeiras a levantar a mão. Na fala, dá pra perceber o incômodo da assessora quando fala ‘Ponte’”.

A coletiva começou pouco antes das 15h30. Estavam na mesa: Mario Sarrubbo, subprocurador-geral de SP, Tenente Mario Alves da Silva Filho, comandante da Rota, Tenente Coronel José Carlos Alves Brandão, comandante do CPA – M12, Adalberto Henrique Barbosa, divisionário do patrimônio do Deic, tenente coronel Luis Augusto Ambar, comandante do 4º Batalhão de Choque – Operações Especiais.

No começo, uma das funcionárias da Inpress disse: “Vamos começar com a apresentação das autoridades e depois a gente abre para as perguntas”. O coronel Álvaro Camilo, diretor executivo da PM, falou por aproximadamente 7 minutos. Na sequência, a mesma assessora retomou a palavra: “Vamos organizar. São sete perguntas”. Começou a contar, em voz alta. “CBN, Globo, Estadão… Ponte Jornalismo. Não sou boa de conta”.

Enquanto a CBN fazia sua questão, uma assessora aproximou-se da reportagem da Ponte e quis saber: “sua pergunta é sobre letalidade policial?”. Maria Teresa Cruz respondeu que perguntaria sobre conjuntura política e diretrizes da segurança pública. “Ouvi da funcionária um OK e para que eu esperasse. Após o questionamento da reportagem da CBN, eu, que estava sentada ao lado, imaginei que o microfone seria passado para mim. Isso não ocorreu. A vez foi passada para a reportagem da Globo. Aguardei tranquilamente minha vez, por imaginar que, como estava inscrita, essa vez chegaria”, conta Teresa.

Quando a a assessora disse ao microfone “última pergunta”, Teresa levantou o braço e se dispôs a falar, mas passaram a vez para outro jornalista e encerraram a coletiva em seguida. “Protestei em voz alta e ainda tive que ouvir: ‘agradeça, porque eles estão aqui para tirar dúvidas de vocês, imagine se não estivessem’”, afirma.

O relato de outro jornalista, que também prefere não se identificar, confirmou a impressão de tratamento diferenciado: “Achei que você [Maria Teresa Cruz] ia perguntar, porque estava no começo da fila quando a assessora falou, mas, de repente, você foi excluída. Não entendi nada. Aí o colega que estava ao meu lado lembrou: ‘isso é porque ela é da Ponte’”.

Durante a coletiva, o diretor-executivo da PM havia falado sobre a importância da transparência e do diálogo nas ações do governo. A Ponte questionou a In Press por e-mail sobre o ocorrido, mas até a publicação da reportagem não havia resposta.

(Publicado pela Ponte Jornalismo. Na foto, autoridades da PM paulista, da SSP e do MP que participaram da coletiva na qual a Ponte foi censurada. Foto: Maria Teresa Cruz / Ponte Jornalismo.)

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[5/4/19]

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