O jornalista e escritor mineiro Wander Piroli, falecido em 2006, ganhou uma biografia patrocinada pelo BDMG Cultural e escrita pelo também jornalista e escritor Fabrício Marques. O livro Wander Piroli: uma manada de búfalos dentro do peito, publicado pela Conceito Editorial, será lançado na próxima quinta-feira, 21 de junho, das 19h30 às 22h, no BDMG Cultural (Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes).
Fabrício refez a trajetória de Wander Piroli, da Lagoinha, seu bairro de coração, no qual morou até os 27 anos, ao sucesso internacional como escritor, e a descreveu em 256 páginas. Dono de uma escrita poderosa, ao mesmo tempo lírica e áspera, Piroli recebeu o Prêmio Jabuti em 1977, por Os rios morrem de sede, obra na qual antecipou questões ecológicas que hoje estão na ordem do dia.
“O maior contista do Brasil”, na opinião de João Antônio, ao qual é muitas vezes comparado, Wander Piroli estreou na literatura em 1951, aos 20 anos de idade, com o conto O Troco. Ganhou logo um concurso da Prefeitura de Belo Horizonte. O primeiro livro de contos, A mãe e o filho da mãe, saiu em 1966.
Wander Piroli inovou a literatura infantil, deixando de fora bruxas e fadas, disse André Carvalho, editor de O menino e o pinto do menino, livro que tornou o escritor conhecido nacionalmente, em 1975. Segundo sua filha Silvana, ele escreveu o conto para o público adulto e resistiu à ideia do editor de publicá-lo para o público infantil.
Cronista da vida boêmia de Belo Horizonte, com estilo conciso, seco e sarcástico, Piroli deu vida a inúmeras personagens do submundo de pobreza e exclusão que ele conhecia tão bem. Ao todo, publicou nove livros e deixou 18 inéditos, cinco dos quais já publicados pela família. Os direitos de publicação atualmente são da Editora Sesi-SP.
Os dois irmãos, Nem filho educa pai, Três menos um é igual a sete, Minha bela putana e O Matador são outros livros de contos de Wander Piroli. Seu único romance, Eles estão aí fora, foi publicado postumamente, no ano da sua morte. Seus contos foram traduzidos e publicados em vários países e O Matador ganhou uma edição na Colômbia.
Jornalista inovador
Foi no entanto a atuação de Wander Piroli como jornalista que mais surpreendeu seu biógrafo. “O Wander Piroli escritor é muito conhecido, A mãe e o filho da mãe, O menino e o pinto do menino hoje são clássicos”, disse Fabrício. “É impressionante o que ele fez como jornalista. Seu trabalho de editor foi inovador e continua atual,”
Fabrício citou como exemplo o Jornal de Domingo, editado por Wander Piroli nos começo dos anos 80, que no primeiro número estampou na capa foto do cabeleireiro homossexual Luiz Carlos Moreira Vicente, o Carlinhos, em frente ao Palácio da Liberdade, e a manchete: “Sou fresco com a maior dignidade”.
“Destacar um homossexual desconhecido do grande público já apontava para a linha editorial desse projeto em que Wander embarcava, coerente com os anteriores: trazer para o debate público pautas marginalizadas, dar voz a minorias, sem preconceitos ou, como ele diria, sem ‘prisão de ventre’”, observou Fabrício.
Formado na escola de jornalismo do Binômio, tendo passado em seguida pelo O Sol, outro jornal inovador, e pela Última Hora, nos anos 60, Wander Piroli fez sua carreira sempre como editor. Apenas durante breve período, ainda no Binômio, foi repórter. Nesse semanário assinou também, com o pseudônimo Flamínio Monni, uma coluna social debochada, A sociedade é deles, na qual criticava os grã-finos da época.
Como editor de polícia do jornal Estado de Minas, Piroli desafiou a ditadura ao bancar a cobertura do histórico Caso Jorge Defensor, um operário que ficou aleijado em decorrência de torturas praticadas pela polícia civil mineira, nos anos 70. A série de reportagens teve repercussão internacional. “Ele era admirado por todos que trabalharam com ele”, disse Fabrício.
Diplomado em direito, profissão que pouco exerceu, Wander Piroli trabalhou também em suplementos literários de Minas Gerais. “Ele foi um dos jornalistas mais importantes de Minas Gerais. As novas gerações precisam conhecê-lo”, enfatizou o presidente do BDMG, jornalista Rogério Faria Tavares.
Pesquisa
Para escrever a biografia, Fabrício pesquisou no acervo familiar do escritor e em outros acervos, como o Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, do Suplemento Literário de Minas Gerais e o da hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. Colheu ainda 55 depoimentos de familiares, amigos e colegas de Wander Piroli, além de escritores. Além do livro, o trabalho deu origem a um blog, denominado Wander Piroli é o nome todo.
“A trajetória de Wander Piroli, tanto na literatura quanto no jornalismo, é cheia de lances inesperados, plenos de um humanismo radical”, disse Fabrício, acrescentando que o escritor se destacava onde quer que estivesse. “Ele encarava a vida de maneira ao mesmo tempo simples e profunda.”
“A literatura faz parte, mas é assim que eu a considero e vejo: como uma parte da vida. A literatura, para mim, é apenas uma ficha no jogo. O escritor compulsivo põe todas as fichas, é um desvio de personalidade. Eu aposto uma só”, disse o artista uma vez.
O autor
Fabrício Marques nasceu em Manhuaçu, Minas Gerais. Jornalista, poeta e escritor, formou-se na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), fez doutorado em literatura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor em cursos de jornalismo, foi editor do Suplemento Literário de Minas Gerais e trabalhou em outras publicações em Belo Horizonte. Em 2015, foi finalista do Prêmio Jabuti de livro-reportagem com Uma cidade se inventa.
SERVIÇO
Lançamento da biografia Wander Piroli: uma manada de búfalos dentro do peito, de Fabrício Marques
Data: 21/6/18, quinta-feira
Horário: de 19h30 a 22h
Local: BDMG Cultural – Rua Bernardo Guimarães, 1.600, entre Bahia e Espírito Santos, Lurdes
Preço: R$ 32,50
Informações: (31) 3219-8691
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[15/6/18]
Wander Pirolli, Euro Arantes, Guy de Almeida, José Maria Rabelo – homens impressionantes, jornalistas talentosos e corajosas, homens de seu tempo e profundamente comprometidos com o mundo em transformação que os produziu. Salve essa bela iniciativa da Editora Conceito. Vou estar lá com certeza, para conhecer de verdade a trajetória de nosso grande Pirolli. Parabéns Fabrício Marques, BDMG Cultural e Conceito. Abraços a tod@s