Os Novos Inconfidentes: novidade na imprensa mineira

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Colunista do jornal O Tempo há quinze anos, a jornalista Raquel Faria acaba de lançar uma novidade na imprensa mineira: o saite de notícias Os Novos Inconfidentes. Praticamente sozinha, Raquel preenche a primeira página do veículo com notícias de política e economia, mas sua intenção não é essa. “A ideia é criar uma rede de jornalistas”, diz. Para isso ela está convidando profissionais e aceita adesões. “Não quero mandar”, esclarece. “O conceito é de uma cooperativa.”

A grande preocupação de Raquel Faria é produzir conteúdo. Ela calcula que se uns 15 jornalistas aderirem ao projeto, já terá uma bom volume de matérias. A única exigência é que sejam conteúdos originais produzidos por jornalistas: textos, vídeos, áudios, livros etc. “Tudo que é jornalismo”, resume. “Só não quero editorial. Detesto editorial, o saite não tem editorial. Análise, ponto de vista, sim.”

Ela também não publica material de agências. “Enquanto eu estiver aqui, jamais repetiremos notícia de agência, toda a produção será própria”, promete.

Valorizar o jornalista

Raquel conta que quis criar um veículo que não fosse só para ela, que incluísse outros jornalistas. “Precisamos valorizar a produção dos jornalistas, senão a profissão vai desaparecer”, argumenta. “Médico é médico, não é jornalista”, acrescenta, referindo-se à crescente participação de profissionais de outras áreas como colaboradores nos grandes veículos.

O cabeçalho do saite expressa essa intenção, ao explicar, abaixo do nome Os Novos Inconfidentes: Rede Independente de Jornalistas Profissionais”. Do lado direito está: “Criado por Raquel Faria”. E do lado esquerdo, o desenho de uma “mosqueteira”, com casaco, chapéu, botas e espada na mão. Raquel afirma que não é ela. “É o nosso avatar”, diz.

Os Novos Inconfidentes tem arquitetura própria, não é um simples blog. As primeiras matérias foram publicadas em janeiro e fevereiro, mas, segundo Raquel, o saite ainda estava em fase de testes. A publicação para valer começou na segunda quinzena de abril.

O saite não se furta a tomar posições, como mostram as matérias “Os Novos Inconfidentes lançam o desafio do triplex de Lula” – que expõe a contradição entre as imagens recentes do triplex polêmico e sua descrição no processo que levou à prisão do ex-presidente da República – e o artigo “Onde estão as provas que justificam a prisão de Márcio Fagundes?”, no qual o jornalista José Aparecido Ribeiro – o colaborador mais recente –, questiona a prisão do ex-secretário de Comunicação da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

A predominância de notícias de política em Os Novos Inconfidentes expressa a produção de Raquel Faria, mas sua intenção é diversificar. “Tem muita política porque o conteúdo está preso em mim. Quando tivermos mais colaboradores, haverá outros conteúdos”, justifica a jornalista.

A equipe de Os Novos Inconfidentes inclui a jornalista Bianca Alves, como editora, e uma funcionária que cuida da arte. “Eu nem sei postar”, diz Raquel “Só cuido de conteúdo, de criação, mas entendo da concepção do saite”, explica a jornalista, que, curiosamente, quase não navega. Também não tem Facebook nem WhatsApp. “Fico na internet no máximo duas horas, tenho dor de cabeça”, conta. Por isso, ela paga uma pessoa para ler notícias para ela. “Até sessão do STF.”

Os Novos Inconfidentes inclui a janela “Rede Fotonovela”, nome de outro saite criado por Raquel Faria, que há dois anos publica fotografias e notas pagas. “O conteúdo é propagandístico, as fotos são comerciais”, explica a jornalista, esclarecendo, porém, que “não vende notícia”.

Fundo de jornalismo

Para viabilizar a remuneração dos jornalistas, Raquel idealizou um “fundo de jornalismo”, que ainda não conseguiu implementar. A ideia é que uma empresa entre como patrocinadora, associando sua marca ao fundo. O dinheiro seria usado para comprar matérias de frilas. Ela conta que está fazendo contatos e usa argumentos fortes.

“Uma das coisas mais estratégicas para Minas Gerais hoje é desenvolver a imprensa”, diz. “É muito importante que os jornalistas mineiros produzam conteúdo”, acrescenta.

Raquel lamenta que o empresariado não perceba a importância da imprensa mineira.

“Fico penalizada vendo com os empresários mineiros são pouco sensíveis para isso. As empresas às vezes são tão generosas para fazer eventos insignificantes, que não deixam nada, mas não participam de uma coisa dessa importância”, comenta. Ela, no entanto, mantém o otimismo. “Quero faturar para comprar muita matéria”, diz.

Raquel Faria trabalhou na Folha de S. Paulo até 1989, quando trocou o jornalismo pela publicidade. Em 2003 voltou ao jornalismo, publicando a coluna que leva seu nome, no jornal O Tempo; como pessoa jurídica, ela vende a coluna diária que escreve. O que era circunstancial, acabou virando permanente. “Esta é uma tendência inevitável para o jornalista”, acredita.

Ela argumenta que fica muito caro formar audiência na internet e tornar o trabalho remunerado viável. Por isso os jornalistas precisam se unir. “Temos que nos juntar num local só para ter escala de produção, para produzir um veículo maior. Gostaria que outros jornalistas aderissem. Está feito o convite.”

Primeiras adesões

Por enquanto, Raquel conta com duas adesões expressivas, do experiente jornalista Durval Campos Guimarães e do empresário Stefan Salej.

O ex-presidente da poderosa Federação das Indústrias de Minas Gerais vem publicando um artigo por semana sobre política mineira e brasileira. Apesar do passado político do empresário, que inclui uma candidatura a deputado federal pelo PSB, em 2006 (não foi eleito), ele não é um investidor do saite e este não está a serviço de nenhum projeto político, esclarece Raquel. A trajetória de Stefan Salej, figura de destaque “no deserto de ideias do empresariado mineiro”, foi narrada pelo jornalista José de Souza Castro no livro “O enigma Salej”.

Incentivador do projeto e autor do nome do saite – que ganhou o artigo Os porque Novos Inconfidentes apenas já estava registrado – Stefan Salej volta a uma atividade que praticou na juventude, ao chegar ao Brasil, quando foi correspondente de jornais europeus. “Ele tem ideias claras e escreve, só precisa de um copy, porque comete alguns erros de português”, diz Raquel.

O outro colaborador de Os Novos Inconfidentes, Durval Campos Guimarães é um jornalista que se orgulha de ter 50 anos de profissão. No começo dos anos 70, ele já colaborava no Vapor, um jornalzinho alternativo impresso em mimeógrafo que circulou em Belo Horizonte, e em seguida participou do célebre De Fato. Na grande imprensa, foi o primeiro editor geral do jornal O Tempo e chefe da sucursal da Gazeta Mercantil em Minas, entre outros cargos. Atualmente edita a revista Matéria Prima, que está no número 100 e está em mudança do meio impresso, com tiragem de 5.000 exemplares, para o meio virtual, enviada para 10 mil endereços eletrônicos.

“A Raquel resolveu fazer o saite, convidou alguns jornalistas para participar e eu aceitei”, conta Durval. “Meu trabalho é basicamente apurar matérias especiais.”

Entre essas matérias especiais publicadas até agora está “Newtão abre guerra contra seus inimigos”, uma resenha do livro “A verdade por trás da lenda”, de 510 páginas, que o ex-governador de Minas Newton Cardoso publicou recentemente.

Graças a sua vasta experiência e fontes fieis, Durval escreveu uma detalhada notícia sobre as compras de livros pelo publicitário Ramon Hollerbach na livraria Ouvidor Savassi, durante a Semana Santa. Ex-sócio do publicitário Marcos Valério, Hollerbach foi condenado por corrupção a 27 anos, quatro meses e 20 dias de prisão, mas já está solto e goza, segundo Durval, o “encantamento da vida em liberdade, ainda que no regime semiaberto”.

 

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[8/5/18]

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