Ex-funcionários do jornal Hoje em Dia mantêm pelo 2º dia ocupação da antiga sede da empresa em BH

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Por G1 MG, Belo Horizonte

Cerca de 200 pessoas entre jornalistas, gráficos e trabalhadores administrativos mantêm pelo segundo dia a ocupação do prédio onde funcionava o Jornal Hoje Em Dia, no bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O grupo, formado por ex-funcionários da empresa, demitidos há mais de um ano, reivindica o pagamento de direitos trabalhistas. A ocupação teve início nesta quinta-feira (1º).

O imóvel é citado nas delações premiadas do empresário Joesley Batista, dono da JBS, e de Ricardo Saud, diretor do grupo J&F. Batista disse que comprou o imóvel como parte de uma negociação para repassar dinheiro ao senador afastado Aécio Neves (PSDB). Nos registros, o valor de compra foi de R$ 18 milhões.

“Nós não sairemos do prédio enquanto não houver um sinal, um posicionamento da empresa, do Jornal Hoje em Dia, dos ex-donos e donos atuais quanto o pagamento dos valores devidos e que são de direito dos trabalhadores demitidos há mais de um ano e que não receberam”, disse, nesta sexta-feira (2), o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Kerison Lopes. Ele passou a noite no local e, nesta manhã, participa de reunião para definir atividades de mobilização.

O sindicato afirma que a ocupação é uma forma de denunciar o que acontece com os demitidos do jornal e não tem a intenção de posse.

Atualmente, a sede do jornal Hoje em Dia funciona na Rua dos Pampas, 484, no bairro Prado, na Região Oeste de Belo Horizonte.

Os ex-funcionários deixaram o jornal em fevereiro do ano passado. Kerison Lopes disse que foi pedida a penhora do prédio ocupado à Justiça de Trabalho para que ele seja leiloado e as dívidas pagas.

O que dizem as empresas

Em nota, a atual gestão da Ediminas S/A informou que assumiu o jornal Hoje em Dia quando a venda do prédio já havia sido concluída e vai colaborar com a Justiça prestando todos os esclarecimentos que forem por ela solicitados e que cumpre rigorosamente a legislação trabalhista.

Sobre as rescisões de contrato, trata caso a caso as demandas, nas esferas competentes, como Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho e sindicatos das categorias profissionais relacionadas ao jornal.

O Hoje em Dia reiterou o compromisso com a transparência das informações e a ética profissional e informa que mantém seu funcionamento regular, o que permite a preservação de dezenas de empregos.

Por meio de nota, o grupo J&F, que é dono da empresa JBS, afirmou que o ato iniciado nesta quinta-feira não tem relação com a empresa. A companhia disse que segue colaborando com a Justiça no combate à corrupção e que todos os atos ilícitos cometidos por executivos foram comunicados à PGR e estão documentados na delação entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF). Leia abaixo a íntegra da nota.

“Todos os atos ilícitos que a companhia e seus executivos cometeram no passado foram comunicados à PGR e estão documentados nos autos da delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal. As informações, dados e provas encontram-se em poder da Justiça, órgão responsável pela avaliação de tais documentos. A Companhia segue em seu firme propósito de colaborar com a Justiça brasileira no combate à corrupção no país.

Assessoria de Imprensa da J&F / JBS”

Em nota, o senador afastado Aécio Neves disse que desconhece a compra ou venda do prédio e que são falsas as declarações dadas por Joesley Batista e por Ricardo Saud. Leia a íntegra abaixo.

“O senador Aécio Neves desconhece a compra ou venda mencionada. As declarações são falsas. Joesley Batista e Ricardo Saud mentiram ao criar uma narrativa criminosa, sem apresentar provas, com o objetivo de obter os benefícios da delação. O senador reitera que nunca recebeu propina e que provará na Justiça a correção dos seus atos.

Assessoria do senador Aécio Neves”

O prédio é citado em duas delações, na de Joesley Batista e de Ricardo Saud, diretor do grupo J&F, dono da JBS. Os dois executivos contaram à Procuradoria-Geral da República (PGR) que a venda do imóvel foi usada para repassar propina ao senador afastado Aécio Neves (PSDB).

“Em 2015, ele seguiu precisando de dinheiro, e eu acabei, através da compra de um prédio, não sei como lá em Belo Horizonte, por 17 milhões, esse dinheiro chegou nas mãos dele. E depois no ano seguinte, em 2016… ele dizendo que esses 17 milhões era para pagar restos de campanha, e tal”, disse Batista em vídeo gravado na PGR.

Joesley Batista disse, ainda na delação, que o prédio está à venda pela metade do preço e que a JBS só comprou o imóvel para atender a um pedido do senador afastado, já que o imóvel não teria utilidade para a empresa.

O prédio ocupa dois terrenos, com números diferentes. Nos registros, o valor de compra foi de R$ 18 milhões. Na escritura de compra e venda, a empresa dona do prédio foi representada por Flávio Jacques Carneiro, que na época era um dos donos, e Antônio Carlos Tardeli, que era executivo da empresa.

Em sua delação, Ricardo Saud disse, sobre a venda do prédio, que Aécio “virou uma sarna em cima do Joesley” para que o empresário repassasse dinheiro para o senador através da compra do imóvel. Saud disse, em vídeo, que este dinheiro era propina para o senador.

Antes da venda, o prédio era alvo de uma sequência de penhoras devido a pendências trabalhistas da Ediminas, dona do jornal Hoje em Dia. Apesar disso, a J&F foi adiante com o negócio.

Em março de 2016, uma ação judicial pediu o bloqueio do pagamento para cobrir pendências trabalhistas do jornal, mas segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), o dinheiro não foi encontrado. O procurador do MPT Victorio Rettori disse que “houve uma alegação de que esse dinheiro teria sido utilizado para o pagamento de dívidas do jornal Hoje em Dia, mas não há no processo documentos que comprovem essas alegações”.

(Publicado no G1. Foto: G1, reprodução Rede Globo.)

[2/6/17]

 

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