A volta do JB mudará o cenário da imprensa no Rio e no Brasil

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Por J. Carlos de Assis.

Mais importante título da imprensa escrita brasileira, o “Jornal do Brasil” será relançado nos próximos dois meses como jornal impresso depois de vários anos em hibernação. De acordo com Omar Peres, empreendedor conhecido mais como do ramo de restaurantes e que decidiu lançar-se no setor de comunicação, faltam alguns procedimentos jurídicos para desembaraçar  o jornal de suas pendências trabalhistas prévias. Contudo, ele está otimista. Na verdade, está entusiasmado em face da reação favorável ao anúncio da volta.

O empresário não é exatamente um neófito na área de imprensa. Fundou e dirigiu um jornal diário em Juiz de Fora, do qual, aliás, fui colunista. Não deu certo, mas a experiência lhe ensinou por onde não seguir. Lembro-me que Al Neuhart, o audacioso criador do “US Today” no início dos anos 80, experimentou um fracasso retumbante com seu “Florida Today” antes de conquistar o maior sucesso do jornalismo norte-americano desde a consolidação dos até então nunca desafiados jornais de Nova Iorque, de Washington e da Costa Leste.

Acho que o empreendimento de Peres será vitorioso. O relançamento do “Jornal do Brasil” é uma necessidade da democracia brasileira. A chamada grande imprensa escrita, formada pelo Globo, Estadão e Folha de S.Paulo, esgotou a paciência dos leitores brasileiros. Não desempenha o papel normal de jornais enquanto intermediários de notícias. São manipuladores de informação. Seja pelo que escolhem publicar, seja pelo que não publicam, funcionam nas páginas de noticiários como seção opinativa do jornal.

De acordo com Omar, o novo “Jornal do Brasil” procurará ser independente e imparcial na informação e plural na página de opinião, que pretende abrir ao público, notadamente os intelectuais do Rio. Lembrei-lhe a fórmula da “Folha de S. Paulo” em seu período de ascensão nos anos 80: boa parte de sua afirmação entre os grandes jornais se deveu ao fato de ter aberto suas páginas de opinião aos intelectuais paulistas contrários à ditadura, entre os quais se destacava gente como Fernando Henrique e José Serra.

Enquanto a Folha subia no conceito do leitor o JB descambava. Um dos motivos é que a estrutura gráfica do jornal não permitia muitos colaboradores voluntários de fora. Mais do que isso, o jornal perdeu, em fins dos anos 80, seu caráter independente, alinhando-se cada vez mais a um Governo decadente. Já a decadência da Folha nos últimos anos se  deve, em grande parte, à perda de seus colaboradores voluntários e a uma atitude arrogante de sua direção ao acompanhar os concorrentes numa pauta de manipulação da notícia.

Diz-se que a imprensa escrita está condenada a desaparecer. Não acredito nisso. O que vai desaparecer é essa imprensa sórdida brasileira, manipuladora do noticiário, que apenas os ingênuos suportam. Sou um autor frequente de textos para a internet, mas não perco a perspectiva de que a internet é ligeira demais para formar opinião. Ela só é imbatível no campo da notícia curta. Enquanto formador de opinião, o que é imbatível mesmo é o jornal impresso. O sujeito lê, relê, recorta, leva para a casa ou para o trabalho. Fixa conceitos.

A iniciativa de Omar é do interesse nacional tendo em vista a brecha de opinião independente e noticiário imparcial deixada aberta pela chamada grande imprensa atual. O “Jornal do Brasil” vai acrescentar uma peça para formar um quarteto. Em futuro próximo, é possível que nem seja um quarteto. Os três jornais, de tão ruins, estão quebrando. O leitor está perdendo totalmente o interesse neles. Assim como as revistas, só recuperam algum leitor quanto noticiam escândalos reais ou fabricados. Mas mesmo isso acaba cansando.

Contudo, Omar Peres sabe perfeitamente das limitações do jornal imprenso. Ele já não tem um suporte em si mesmo. Precisa, de alguma forma, apoiar-se na internet. Ele deverá fazer isso com o “Jornal do Brasil”. Em todo o caso, espera-se que o Rio volte a ter um grande jornal formador de opinião para concorrer sobretudo com O Globo, atuando numa linha progressista e nacionalista. No Congresso, quando comentei a notícia da volta do JB, a reação foi de entusiasmo. Agora é esperar para ver a materialização do sonho de Omar e do Rio.

(Publicado no GGN, em 20/2/17.)

1 COMMENT

  1. Nada mais do que a volta do JB é que seja um jornalismo sério pois bata de jornalões tipo Folha de São Paulo, Estadão e o Globo que escrevem conforme o interesse das respectivas empresas e não com o interesse do povo brasileiro.

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