Yara Tupynambá conclui restauração do painel ‘A Imprensa’ na Casa do Jornalista

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A artista plástica Yara Tupynambá e sua equipe concluíram a restauração do painel “A Imprensa” na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Pintado por Yara em 1966, o painel já tinha passado por uma limpeza em 1995, mas esta foi a primeira vez em que foi totalmente restaurado. A restauração começou em dezembro passado. Parte da pintura foi refeita e estragos provocados por cupins na madeira, recuperados.

O painel foi o primeiro pintado pela artista, famosa por seus painéis e murais. Ele tem cerca de 5,5 metros de comprimento por 2,7 metros de altura e foi pintado numa técnica que não se usa mais. Primeiro, foi pintado o fundo, com tinta branca, e em seguida as imagens, com tinta preta. Por fim, a pintura foi toda riscado com gilete, o que lhe dá uma aparência de xilogravura. Como a tinta emborracha usada no trabalho não existe mais, a restauração foi feita usando-se outra tinta, o que fez com que a obra passasse a conter duas pinturas, a original e a nova, segundo a autora.

“A Imprensa” mostra uma sequência de cenas, começando pelo trabalho dos jornalistas apurando os fatos e fotógrafos registrando imagens. Para pintá-las, Yara fez pesquisa em jornais. “As máquinas que eu retratei eram do jornal Estado de Minas”, contou a artista. Veem-se equipamentos que desapareceram, como um linotipo, rotativas e máquinas de escrever, uma redação antiga, meninos jornaleiros vendendo jornais na rua e populares discutindo as notícias, além de imagens de guerra.

Documento histórico

Yara contou que, ao refazer a pintura, ficou impressionada com as figuras humanas que aparecem na parte de baixo do painel. “Na época, era a Guerra do Vietnã que chocava a todos nós, hoje é o Estado Islâmico. Curiosamente, aquelas figuras centrais, que retratam a Guerra do Vietnã são iguais às do Estado Islâmico. A guerra é a mesma”, observou.

A artista chamou atenção para o fato de, passados mais de 50 anos, o painel ter ganhado um novo valor. “Ele passou a ser maior, passou a ser um documento de memória do jornalismo”, enfatizou, observando que os jovens jornalistas nem sabem o que é uma máquina de escrever e muito menos um linotipo. “É importante as pessoas terem essa memória.”

Famosa por seus 104 painéis e murais espalhados em cidades brasileiras, sete deles tombados pelo patrimônio histórico e cultural, Yara nunca tinha feito uma restauração completa de uma obra sua. “Já tinha feito pequenos acertos no mural Inconfidência Mineira, da UFMG, mas dessa dimensão, não”, contou. “Foi complicado, mas foi feito.”

Ela disse que ficou muito alegre de chegar à sua própria memória e trazer à tona as informações que estão no painel. “Fiquei muito satisfeita com o resultado. O painel reavivou, ficou bonito.”

A restauração do painel “A Imprensa” era um dos objetivos da atual diretoria do Sindicato e foi feita graças a uma ação conjunta da artista Yara Tupynambá e do Banco Mercantil do Brasil. O presidente Kerison Lopes ressaltou que a obra de arte enriquece o Sindicato e que já virou tradição os participantes de encontros na Casa do Jornalista tirarem fotos tendo o painel como fundo.

Memória descritiva

Leia a seguir a memória descritiva que Yara fez do painel “A Imprensa”, lembrando-se dos fatos e emoções que a marcaram na época da pintura.

Painel A Imprensa – colocado na Casa do Jornalista

Realizado em 1966 – restauração em 2017

Dimensões: 5,56m x 2,73m

Técnica: Tintas vinílicas sobre madeira preparada

Proteção: Verniz protetor liquibrilho

O mural A Imprensa foi realizado por indicação do Professor Luciano Peret, arquiteto responsável pela obra de adaptação da Casa para suas funções específicas.

O Tema: Tendo em vista sua colocação na Casa do Jornalista, órgão representativo dos profissionais da imprensa, procurei criar um tema que se referisse às atividades da classe, geradora das notícias que abordavam a vida brasileira e fatos internacionais que emocionavam as jovens gerações, naquele momento.

A guerra do Vietnã, as lutas na China pela liberdade de expressão, a destruição das populações pela violência, estes os temas mais discutidos nas redações dos jornais. Assim, a primeira cena representa imagens das discussões e trabalho para criação dos textos a serem abordados pelos jornalistas.

Os textos criados vão para a banca do linotipista, transformadas as notícias em palavras, que são enviadas às grandes máquinas impressoras, que imprimirão os jornais.

Impressos, os mesmos vão para as ruas, através do trabalho de divulgação e venda de exemplares pelos pequenos jornaleiros que, a partir das madrugadas, vão distribuir os jornais pelas ruas da cidade.

Em seguida, a televisão representada vai divulgar as imagens e textos recolhidos, assim fechando, com todo um trabalho conjunto, um círculo que vai do acontecimento ao público.

 

Foto: Yara Tupinambá diante do painel “A Imprensa” restaurado. (Crédito da foto: Luciana Silva.)

[24/1/17. Atualizado em 3/4/17.]

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