O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais vai fazer denúncia formal à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, ao Ministério Público de Direitos Humanos e à Ouvidoria de Polícias contra os graves fatos de violência ocorridos na quinta-feira 24/11 durante manifestação estudantil pacífica no centro de Belo Horizonte, praticados por policiais militares, inclusive oficiais, todos identificados.
Diante da gravidade dos fatos, o Sindicato vai convocar outras entidades da sociedade para, juntas, entrarem com representação ao novo procurador-geral do estado, Antônio Sérgio Tonet, contra a escalada de violências praticadas pela PM e ataques à liberdade de expressão.
“A violência da PM passou de todos os limites. Recolher material de reportagem e interromper o trabalho de jornalistas é inaceitável”, denunciou o presidente do Sindicato, Kerison Lopes, referindo-se à violência praticada contra o estudante Caio Santos.
Caio é estudante do último ano de Jornalismo na UFMG e trabalhava para o Jornalistas Livres quando foi intimidado por policiais, teve sua câmara e seu celular apreendidos e foi levado para um camburão da PM. “Caio, apesar de jovem já tem muita experiência em coberturas. Ele já milita no Sindicato e agiu corretamente diante dos policiais. Os excessos foram praticados pelos policiais”, denunciou Kerison.
Relato
Caio Santos possui gravações e imagens das violências sofridas por ele e por uma estudante de Ciências Sociais da UFMG, que também registrava o protesto estudantil. Segundo seu relato, a manifestação seguiu pacificamente da Praça Sete para a Avenida Amazonas e desta para a Rua da Bahia, quando, pouco antes de chegar à Rua Tamoios foi atingida pela violência arbitrária da PM. Na repressão foram usadas balas de borracha e bombas de efeito moral. Muitos dos estudantes eram secundaristas, menores de dezoito anos. Ele fazia a cobertura para o Jornalistas Livres e produzia imagens para a Mídia Ninja.
Os estudantes, cerca de duas centenas, dispersaram em direção da Avenida Afonso Pena. Caio gravava com o celular, na Afonso Pena, quando o major Calixto se aproximou e ordenou que ele entregasse o celular. Caio apresentou seu crachá de identificação do Jornalistas Livres, que estava à vista, dependurado no pescoço, e também seus documentos. Perguntou por que deveria entregar o celular e o major Calixto respondeu: “Porque estou mandando”.
Caio recusou-se a entregar o celular, colocou-o no bolso da calça e disse que teria de ser levado preso. Fez o gesto com os braços, unindo os punhos, oferecendo-se para ser algemado. Neste momento, outro policial tirou o celular do seu bolso. O major Calixto tomou sua câmara. As cenas estavam sendo registradas por uma estudante de Ciências Sociais, que foi atacada por trás pelo capitão Henrique. Tudo isso foi gravado. O capitão jogou a estudante no chão, exigindo que ela entregasse o celular. A estudante colocou o celular por dentro da sua camisa. O capitão e mais um policial, enfiaram as mãos dentro da camisa da estudante e pegaram o celular.
Caio gritou para populares para que registrassem as cenas. Neste momento, um policial jogou spray de pimenta nos seus olhos, a uma distância menor do que meio metro, cegando-o. Em seguida, um policial agarrou-o e o colocou num camburão. A estudante de Ciências Sociais também foi colocada lá. Eles ficaram no camburão durante dez a quinze minutos. Os policiais avisaram que a estudante estava sendo presa por resistência.
Os dois estudantes foram levados para a Delegacia de Flagrantes, no bairro Floresta, onde foram revistados. Com a chegada de um advogado, os dois foram levados para o Juizado Especial Criminal, na Gameleira, e acusados de resistência e desobediência. Eles prestaram depoimentos à delegada e passaram para ela todas as imagens. Ela informou que iria pedir para fazer perícia marcou audiência no Juizado, para o dia 16 de dezembro.
Caio denuncia ainda que os policiais plantaram um canivete entre os objetos dele e da estudante de Ciências Sociais. Esta carregava na mochila uma faquinha de cozinha, que usa para descascar frutas, e foi também considerada arma pelos policiais militares. Os policiais disseram que os estudantes teriam gravado um furto e se negado a entregar as imagens, o que nunca aconteceu. Depois disseram que a estudante teria agredido policiais, o que também não aconteceu. Em entrevista ao jornal O Tempo, o capital Santiago afirmou que os estudantes estavam filmando agressivamente a ação policial de repressão à manifestação estudantil.
Uma reportagem sobre a manifestação e a repressão policial foi publicada pelo jornal laboratório Contramão, do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário UNA, e pode ser lida clicando aqui.
Na foto, o fotógrafo do Jornalistas Livres Caio Santos e o presidente Kerison Lopes.
[25/11/16]